Ocupação na Mata Atlântica fez sumir metade das populações de mamíferos
A vegetação que cobria toda a
costa brasileira hoje está restrita a pouco mais de 12% do seu tamanho
original, e vários estudos já haviam documentado a perda de espécies. O novo trabalho,
no entanto, publicado nesta terça-feira, 25 setembro 2018, na revista PLoS ONE,
inova na escala geográfica, ao estimar a situação das espécies de médios e
grandes mamíferos de norte a sul do bioma de modo comparativo, mostrando onde a
situação está pior e melhor – ou menos pior.
“Não estamos documentando nenhuma
extinção em escala regional ou de bioma, mas milhares de eventos de extinções
locais”, explica o biólogo Carlos Peres, da Universidade de East Anglia, no
Reino Unido, e um dos autores do trabalho.
Os pesquisadores, liderados por
Juliano Bogoni, hoje pós-doutorando na Esalq/USP, trabalharam com um “índice de
defaunação” para examinar a perda de espécies entre quase 500 conjuntos de
espécies de mamíferos de médio a grande porte ao longo e observaram que os
índices são altos – mais de 50% – para a maior parte da Mata Atlântica.
O cenário é pior no norte do
Nordeste, onde a defaunação chega a 90%. Em seguida vem a porção mais ao sul do
Nordeste, com 85%. O melhor é no Sudeste, com 49% – justamente onde estão os
principais remanescentes da floresta no País, em especial os núcleos da Serra
do Mar.
“Mas mesmo na Serra do Mar, falar
em metade das espécies é um quadro grave. Hoje temos uma pálida sombra do que
já foi a majestosa diversidade da Mata Atlântica”, diz Bogoni. Segundo ele, os
locais mais defaunados se sobrepõem com as áreas mais antropizadas do interior,
pressionadas por atividades como agricultura e silvicultura.
Os grupos mais impactados são os
predadores de topo de cadeia e grandes carnívoros em praticamente todo o País,
como onças-pintadas e onças-pardas; os meso-predadores – carnívoros menores,
como jaguatirica e gato-maracajá, que ocupam o lugar quando as onças somem; e
os grandes herbívoros, como as antas.
Peres afirma que os dados mais
uma vez reforçam a necessidade urgente de ações para proteger o bioma. “É
preciso fortalecer o sistema de unidades de conservação, que são ainda os
últimos refúgios de toda essa fauna. Não há conservação sem um voto de
compromisso do governo e da sociedade em manter as nossas áreas protegidas”,
defende.
Fonte: Estadão
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