Brasil só trabalha em estado de urgência
Em 2016 a cidade de São Paulo,
após se recuperar de uma crise hídrica, marcava 31,4% de perda de água, número
que representava que ainda existia vulnerabilidade. O mesmo indicador era
replicado com porcentagens mais elevados em capitais do Nordeste. O parâmetro
da falta de uma cultura preventiva da água se generaliza no Brasil inteiro, que
prestes a comemorar o Dia internacional da água no 22 de março, hoje é avaliado
pelos especialistas como incapaz de gerar estratégias de proteção e educação
hídrica.
Um estudo elaborado pelo Trata
Brasil sobre perda de água, expõe que no ano 2013 o número total de perdas
financeiras por recursos hídricos foi de 39%, a água não faturada pelas
empresas era equivalente a 6,53 bilhões de m³ de água tratada (R$ 8,015 bilhões
ao ano). Comparando com o cotidiano, 6,5 vezes a capacidade do Sistema
Cantareira ou 7,154 piscinas olímpicas perdidas ao dia num intervalo de cinco
anos. Num período de dez anos o
indicador de perdas evoluiu menos de 1 ponto porcentual ao ano, passando de
42,2% em 2004 para 39,1% em 2013.
Segundo o Trata, no Brasil 84
cidades perdem mais de 25% da água produzida e 60% perde mais de 35% entre
estes São Paulo (34,99%), Rio de Janeiro (54,50%), Manaus (75,59%) e Salvador
(52,54%).
Para o pesquisador e professor do
Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP, Pedro Jacobi, a grande
dificuldade do Brasil é a inexistência de uma cultura da água. O Poder Público
trabalha sob contextos extremamente drásticos de crise hídrica, porém deixa de
lado a escassez hídrica “Precisamos considerar que se não há crise algumas
cidades ainda permanecem na linha constante de escassez hídrica. O governo
precisa deixar de depender das mudanças climáticas e trabalhar sempre com a
perspectiva de falta de chuva. São Paulo é um exemplo disso claramente marcada
pela escassez” explica e defende que o Poder Público precisa trabalhar sempre
com a população sem criar uma ideia catastrófica e sim um processo de diálogo
que fortaleça essa cultura preventiva.
As cidades brasileiras apresentam
uma distância abrupta de outros países, é o caso da Califórnia nos EUA que tem
um nível de perdas médio de 5,3% enquanto São Paulo apresenta 32%1 de perdas
médio e Rio de Janeiro 50,62%.
Jacobi avalia que o reuso de água
industrial aumentou nos últimos anos no setor da construção sendo um estimulo
para a sociedade, no entanto a pegada hídrica não é uma pratica significativa
nas empresas devido ao pouco interesse não alinhado ao capitalismo. “Eu percebo
que os brasileiros não se mobilizam frente a gravidade do assunto. Eles se mobilizam por outras questões tais
como o Movimento Sem Teto, porém água não se qualifica como um conflito
significativo para eles. Isso é alarmante,
precisamos trazer a discussão de criar uma visão preventiva nas pessoas” afirma.
Gestor-
Cidadão
Na visão de Jacobi os gestores
públicos permanecem no mesmo erro há anos, pois não existe uma boa comunicação
nem transparência sobre o assunto. O especialista afirma que é inexistente
também as formas como os meios de comunicação contribuem sobre a temática “O
foco principal é tarifação ou privatizações, o cidadão pouco acesso tem a
informações sobre a pauta da água” diz.
Ele lembra da crise hídrica em
2015 onde o Ministério Público precisou pressionar o governo para ter
informações sobre o volumem morto e avalia que a transparência sempre é mínima
nos contratos assim como nos sites do governo. Jacobi conclui que há uma grande
dificuldade do Poder Público para lidar com assuntos hídricos, perceptível na
ocupação de mananciais, a lei de mananciais, a inexistência de uma cultura da
água que enfrente os interesses das empresas e na falta de conhecimento da
sociedade sobre os verdadeiros riscos da perda de água e seu impacto no
cotidiano.
Água: MMA
investirá R$ 135 milhões
Meio Ambiente anuncia renovação
de programa para gestão das águas no país. O valor anual destinado a cada
estado será de R$ 1 milhão. Os estados receberão novos recursos para
investimento na área hídrica. O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho,
orientou a renovação por mais cinco anos do Programa de Consolidação do Pacto
Nacional pela Gestão das Águas (Progestão). A medida aumentará o valor anual por
estado para R$ 1 milhão. O anúncio foi feito nesta terça-feira (28 de março
2017), em Brasília, na abertura da 2ª Reunião para o Fortalecimento da Gestão
dos Recursos Hídricos.
Ao todo, serão destinados R$ 135
milhões no período de cinco anos. Como representante do ministro, o
secretário-executivo do MMA, Marcelo Cruz, destacou a importância da
iniciativa. “Estaremos investindo, assim, a para a gestão de recursos hídricos
no país de forma democrática e descentralizada, como determina a Lei 9.433 (Lei
das Águas)”, declarou. A legislação completou, neste ano, 20 anos.
Outras políticas ambientais com
foco na gestão dos recursos hídricos também foram apontadas. Marcelo Cruz
ressaltou o programa de Recuperação de Áreas de Preservação Permanente para
Produção de Água, que promove a recuperação de vegetação nativa em nascentes.
Serão R$ 48 milhões para recuperar uma área de 5,6 mil hectares. “Ações de
recomposição da cobertura vegetal merecem destaque no combate à crise hídrica”,
afirmou. (Lucas Tolentino - MMA)
Fonte: Katherine Rivas - Envolverde
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