A Importância dos Sistemas de Matas Ciliares
As matas ciliares são formadas
por vegetais que acompanham os cursos de água ou lagos, cumprindo importantes
funções na manutenção do regime hídrico da bacia hidrográfica, no sustento da
fauna e na estabilidade dos ambientas. As matas ciliares são vegetações protegidas
por legislação há mais de 30 anos pela Lei N° 4.771, de 15 de setembro de 1965
e também pelo Novo Código Florestal, apesar de mudanças nas faixas e larguras
existentes, mas que mesmo assim vêm sendo inteiramente devastadas, seja para
retirada de madeira, para exploração agropecuária ou simplesmente por ação
antrópica indiscriminada. O Código Florestal foi instituído nas áreas cobertas
ou não por vegetação nativa com a função ambiental de preservar os recursos
hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações
humanas. Estas peculiaridades conferem às matas ciliares um grande aparato de
leis, decretos e resoluções visando sua preservação.
A legislação brasileira, através
da Lei 4.771/65 garantiu a preservação das mata ciliares a partir da criação
das Áreas de Preservação Permanente (APPs) nas margens dos cursos de água. Pelo
Novo Código Florestal, a área nas margens dos rios que deveria ser preservada
com o plantio e manutenção de matas ciliares (Áreas de Preservação Permanente –
APP) deixa de levar em conta exclusivamente a largura do rio em função da
adoção do critério dos módulos rurais.
Nas regras anteriores, rios com
até 10m de largura precisavam ter 30 metros de área preservada de matas
ciliares. Pelo novo código só terão os mesmos 30 metros de preservação
propriedades que tenham acima de 10 módulos em rios com mais de 10 metros de
largura que cortem sua propriedade.
O retrocesso que está acontecendo
em relação aos limites das APPs úmidas, que são as matas ciliares, não é
simplesmente o de redução das metragens e sim na regra que se está adotando
para se calcular as larguras das matas, que é baseado no tamanho das
propriedades rurais, ou seja, não relevando os princípios técnicos
adequadamente.
Essas matas desempenham o papel
de filtro, o qual se situa entre as partes mais altas da bacia hidrográfica,
desenvolvida para o homem para a agricultura e urbanização e a rede de drenagem
desta, onde se encontra o recurso mais importante para o suporte da vida que é
a água. As matas ciliares exercem também importante papel na proteção dos
cursos d’água contra o assoreamento e a contaminação com defensivos agrícolas,
poluentes, e sedimentos que seriam transportados para o curso d’água além de
afetar diretamente a quantidade e a qualidade da água e consequentemente a
fauna aquática e a população humana. Em muitos casos, se constituírem nos
únicos remanescentes florestais das propriedades rurais sendo, portanto,
essenciais para a conservação da fauna, sendo importantes também como
corredores ecológicos, ligando fragmentos florestais e, facilitando o
deslocamento da fauna e o fluxo gênico entre as populações de espécies animais
e vegetais. Em regiões com topografia acidentada, exercem a proteção do solo
contra os processos erosivos, sendo a água o principal fator de erosão dos
solos. Mas para controlar e evitar a erosão são utilizadas práticas como:
1 - Proteger o solo contra o
impacto da água que cai da chuva, ou seja, revestir o solo para que a queda das
gotas da chuva seja amortecida. Assim, pode-se diminuir o desprendimento das
partículas minerais e organismos do solo. Esta cobertura pode ser constituída
da palha, mato selecionado e ceifa do mato.
2 - Diminuir a velocidade das
águas através do preparo do solo e a adubação verde e orgânica, associadas às
estruturas de infiltração forçada de água no solo, com os terraços e caixas de
retenção, que provocam uma maior infiltração de água no solo e menor escoamento
superficial. Essas medidas também contribuem para a regularização das vazões
medidas dos mananciais.
3 - Diminuir o volume das águas
na enxurrada, pois quanto maior a quantidade de água na enxurrada maior erosão
ela provoca. Algumas práticas não deixam as águas se unirem e se avolumarem. As
águas são divididas e presas.
Estas práticas de conservação
estão divididas em dois grupos:
1 - Práticas de caráter mecânico:
consiste no deslocamento de massas de solo para obter barreiras físicas que
diminuem a velocidade da enxurrada.
2 - Práticas de caráter vegetativo:
consiste na instalação de material vegetal visando obter não só barreira física
para diminuir a velocidade da enxurrada, mas também proteger o solo contra o
impacto das gotas de água da chuva e evitar o desprendimento e salpicamento das
partículas.
A conjunção desses fatores
permite maior ou menor infiltração de água no solo, armazenamento ou escoamento
desta em superfície e em subsuperfície, ocorrendo menor erosão do solo. A ação
da água, como agente de erosão, depende da quantidade que cai sobre um
determinado solo. Se esta for maior de que aquela que pode infiltrar-se, haverá
o escoamento superficial denominada de erosão Laminar. Em áreas de encostas, a
água superficial escore e vai formando a erosão de ravinamento que são sulcos
ou incisões contínuos, estreitos e de pouca profundidade. O escoamento
superficial da água somado ao subsuperficial dá origem às voçorocas, isto é,
rasgões mais largos e mais profundos do solo do que as ravinas, com laterais
bem inclinadas, geralmente com fundo plano ou chato, podendo atingir o lençol
freático. Essas áreas são de difícil recuperação, podendo-se apenas
controlá-las por meio do desvio superficial da água.
A recuperação das matas ciliares
em locais onde a regeneração natural é dificultada pela forte alteração das
condições naturais, alem de representar um alto custo para os agricultores que
vem na necessidade de manutenção de plantio tornar-se uma das principais razões
de elevação dos custos. O uso de sistemas agroflorestais como estratégicas para
recuperação de matas ciliares não é permitido pelos órgãos ambientais, em
função da ausência de informações sobre as vantagens e desvantagens para esse
uso especifico.
Com a perda da vegetação
florestal e a conversão do terreno a outros usos ocorrem grandes problemas nas
reservas de água doce, colocando em perigo a sobrevivência de milhões de
pessoas e prejudicando o meio ambiente. Neste caso as matas ciliares atuam como
barreiras protegendo os rios, córregos e nascentes, impedindo que a terra
desbarranque ao proteger de terra e lixo, evitando-se o chamado “assoreamento”
que ocorre em regiões rebaixadas como o fundo de vales, rios, mares ou qualquer
outro lugar em que o nível de base da drenagem permita um processo deposicional
de elevação da superfície. Se não houver essa proteção, fatalmente ocorrerá o
fim da água, pois ocorrerá o aterramento dos rios. Em áreas urbanas, a mata
ciliar é substituída por casas e ruas, resultando em alagamentos em épocas de
cheias. Apesar de sua conservação ser garantida por lei, são raríssimos os
casos em que os limites estabelecidos têm sido observados.
A mata ciliar vem desaparecendo
muito rapidamente devido à ação do homem que ocupa as várzeas com plantações e
pastagens, o despejo de enormes quantidades de lixo e esgotos nos rios, a falta
de planos para a utilização racional e adequada das florestas, além de
agravarem o problema das enchentes, reduzem a produtividade agrícola e provocam
o acúmulo de material nas barragens e nos fundos dos rios. Outro problema grave
é o desmatamento provocado pelo homem fazendo com que sofra alterações
climáticas, pois a vegetação é responsável pela regularização da temperatura e
da umidade, além de contribuir para uma melhor ventilação.
A importância das matas ciliares,
do ponto de vista do interesse de diferentes setores de uso da terra, são
bastante conflitantes. Para os pecuaristas, representam obstáculo ao livre
acesso do gado à água; para a produção florestal, representam sítios bastante
produtivos, onde crescem árvores de alto valor comercial; em regiões de
topografia acidentada, proporcionam as únicas alternativas para o traçado de
estradas; para o abastecimento de água ou para a geração de energia,
representam excelentes locais de armazenamento de água visando garantia de
suprimento contínuo. Sob a ótica da hidrologia florestal, por outro lado, ou
seja, levando em conta a integridade da microbacia hidrográfica, as matas
ciliares ocupam as áreas mais dinâmicas da paisagem, tanto em termos
hidrológicos, como ecológicos e geomorfológicos. Estas áreas têm sido chamadas
de Zonas Ripárias, que estão intimamente ligadas ao curso d’água, mas os seus
limites não são facilmente demarcados. As zonas ripárias têm sido consideradas
como corredores extremamente importantes para o movimento da fauna ao longo da
paisagem, assim como para a dispersão vegetal.
A zona ripária desempenha sua
função hidrológica através dos seguintes processos:
*Geração do escoamento direto em
microbacias;
*Quantidade de água;
*Qualidade da água;
*Ciclagem de nutrientes;
*Interação direta com o
ecossistema aquático.
O que
poderia ser feito
Visando buscar soluções para os
problemas relacionados à reconstituição, manutenção e proteção das áreas de
preservação permanente, tendo como foco as matas ciliares, vários estados do
Brasil "deveriam" criar projetos com as seguintes prioridades:
*Ações
de recuperação e preservação de matas ciliares nas bacias hidrográficas com
manancial de captação superficial para abastecimento público;
*Ações de recuperação e
conservação de matas ciliares no entorno de todas as unidades de conservação de
proteção integral e em cada uma das bacias dos rios que integram ao projeto de
Corredores da Biodiversidade;
*Recuperação e preservação das
matas ciliares em cada uma das microbacias hidrográficas;
*Plantar
milhões de árvores de espécies nativas específicas para restauração de matas
ciliares;
*Desenvolver, de forma
complementar, à recuperação da mata ciliar, ações de conservação de solos, uso
adequado de agroquímicos e saneamento ambiental;
*Implantar sistemas geo referenciado
para monitoramento das matas ciliares.
O que
acontece sem a mata ciliar
A ação do homem tem provocado uma
série de perturbações no funcionamento desse bioma. O manejo das bacias
hidrográficas nunca apresentou uma preocupação com a conservação dos recursos
naturais renováveis para uma exploração sustentável. A ideia de que recursos
abundantes eram considerados inesgotáveis e por isto o ambiente poderia ser
explorado livremente, sem nenhuma restrição. O resultado deste processo de
degradação e as suas consequências ambientais são visíveis em todas as bacias
hidrográficas. Com o adensamento populacional próximo aos cursos d’água, a
qualidade ambiental das bacias hidrográficas vêm se deteriorando. Para que tal
situação não permaneça assim, é preciso realizar medidas de proteção ambiental
com planejamentos regionais, nacionais e internacionais, envolvendo a obtenção
do conhecimento científico e o esclarecimento de toda a população.
1 – ESCASSEZ DA ÁGUA: A ausência
da mata ciliar faz com que a água da chuva escoe sobre a superfície, ou seja,
aumenta o escoamento superficial e diminui a infiltração, diminuindo assim o
armazenamento no lençol freático. Com isso, reduze-se o volume de água
disponível no subsolo e acarreta em enchentes nos córregos, rios e os riachos
durante as chuvas.
2 – EROSÃO E ASSOREAMENTO: A
mata ciliar é uma proteção natural contra o assoreamento. Sem ela, a erosão das
margens leva terra para dentro do rio, e os sólidos em suspensão trazem
prejuízos ecológicos, dificuldade no tratamento de água para abastecimento,
entupimento de tubulações de captação e assoreamento, mudando o curso do corpo
d’água. O processo de erosão se torna acentuado principalmente devido à
ocorrência de enchentes nas épocas de chuva.
3 – PRAGAS NA LAVOURA: A
ausência ou a redução da mata ciliar pode provocar o aparecimento de pragas e
doenças na lavoura e outros prejuízos econômicos às propriedades rurais.
4 – QUALIDADE DA ÁGUA: A mata
ciliar possui grande importância na manutenção de boa qualidade da água, pois
reduz a erosão das margens e consequentemente o assoreamento dos rios, que
geram sólidos em suspensão e prejudicam a vida aquática e a qualidade da água
para uso e consumo humano.
5 – MANUTENÇÃO DA BIODIVERSIDADE:
A conservação dessas áreas naturais possibilitam que as espécies, tanto da
flora, quanto da fauna, possam se deslocar, reproduzir e garantir a
biodiversidade da região.
Fonte: Atividades Ambientais e Luiz Henrique Lopes
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