A crise ambiental e paradigmática
A crise atual não é apenas
ambiental, trata-se de uma policrise, uma crise generalizada, sistêmica, em
todos os setores da sociedade, que gera uma agonia planetária. As crises atuais
podem ser consideradas como decorrentes de uma grande crise: a de percepção. As
pessoas veem o mundo como partes dissociadas e não como um todo integrado, em
que tudo se relaciona.
A degradação ambiental está cada
vez maior e junto com ela a degradação dos valores humanos, sendo necessária, a
ecologização das relações, da mente e das instituições. As pessoas que passam
as informações às outras, como as que trabalham na mídia, nas instituições de
ensino e os educadores, se dizem na maioria das vezes ideologicamente neutras,
quando, na verdade, estão reproduzindo a opinião dominante. O modo de vida
capitalista, está presente em todas as esferas, nas relações sociais, nas
instituições, na mente dos indivíduos, na cultura, na educação, em todos os
meios de comunicação, nas relações pessoais, nos valores sociais e culturais.
O sistema capitalista é voltado
ao consumismo, sendo este um valor reproduzido pela sociedade em todos seus
sistemas, inclusive o educacional. É necessária uma transformação bastante
profunda na maneira de pensar e nos valores dominantes na sociedade, para que
haja uma ética ecológica em suas práticas, para auxiliar na formação de um novo
paradigma. Para isso, é necessário que a ecologia toque o sentimento das
pessoas, para que elas se sensibilizem com a natureza, para que se engajem no
trabalho de cuidar do Planeta em que vivem. A dependência extrema da natureza e
a necessidade de preservá-la acima de valores econômicos deve ser evidenciada
para que os valores ecológicos adentrem na cultura da sociedade.
As pessoas não percebem todo o
processo que envolve a própria geração de seus resíduos, cujos materiais,
inicialmente, foram recursos naturais que tiveram que ser extraídos,
transportados, transformados em produtos, repassados do fabricante ao
comerciante, vendidos ao consumidor, comercializados, descartados como resíduos
e dispostos em uma montanha de lixo. Elas veem apenas o resíduo gerado em suas
casas e sentem-se livres de qualquer outra responsabilidade assim que colocam o
lixo na rua para que o serviço público de coleta “desapareça” com o lixo.
As técnicas educativas que tratem
apenas do resíduo pós-consumo não estarão lidando com as causas do problema e
assim não estarão educando pessoas para um novo atuar perante a crise
ambiental. É necessário que a educação ambiental seja direcionada aos
diferentes setores da sociedade, para adentrarem as práticas da população, dos
setores públicos e das instituições privadas.
As práticas conhecidas como a
Pedagogia dos 3R’s- reduzir, reutilizar e reciclar, devem tratar da questão dos
resíduos em toda a sua complexidade, sendo problemático quando focam apenas na
reciclagem e não na redução. A reciclagem está dentro da racionalidade
econômica e não na ecológica, dando às pessoas a ilusão de que, apenas
separando o lixo para Coleta Seletiva, estariam atuando e se responsabilizando
frente à problemática do lixo. Porém, se o problema não for atacado com um
pensamento crítico em relação aos padrões de produção e consumo, apenas será
solidificada a cultura do consumismo e o sistema capitalista acabara sendo
reproduzido, apenas um pouco mais “esverdeado”. Devem ser questionados os
valores culturais centrais da sociedade moderna, feitas análises críticas do
consumismo, da obsolescência planejada e da descartabilidade dos bens, além de
apontar a impossibilidade de crescimento capitalista ilimitado.
Faz-se essencial que as práticas
educativas na questão dos resíduos tentem reconectar todos os processos que os
envolvem, que conscientizem as pessoas de que os problemas não acabam na
disposição do lixo. A educação ambiental pode ser usada como ferramenta para
auxiliar na mudança para um novo paradigma, um paradigma de respeito à natureza
e de consumo racional.
Fonte: Flávia França Dinnebier
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