Água Virtual escassez e gestão


O que é
Define-se o conceito de água virtual como o volume de água demandada para produção de determinada commodity. Ou seja, o volume em m3 de água necessários para a produção de x toneladas de soja, arroz, açúcar etc. Pode-se assumir que, juntamente com as divisas geradas pela exportação destes produtos, existe um valor adicionado que não é contabilizado e que, visto desta maneira, pode representar muito mais do que apenas o equilíbrio da balança comercial de determinado país, mas, sobretudo, a sua sustentabilidade ambiental a médio e longo prazo.
Uma agenda para investigação
A discussão sobre água virtual abre espaço também para questionamentos ainda mais profundos. Um desses questionamentos, que tem apresentado pouca repercussão ainda no Brasil, diz respeito à produção de alimentos, discutindo a quantidade de água empregada na produção e o significado dessa produção em termos nutricionais. Uma das principais referências dessa discussão é David Pimentel.
A questão central, defendida por Pimentel (2004), é que o volume de água gasto em alguns produtos é muito elevado, e que haveria possibilidades de diminuição significativa da demanda de água a partir de modificações na dieta alimentar de várias populações. Pimentel (2004) reafirma o que está presente em vários textos de sua autoria, chamando atenção para o volume elevado de água que se gasta para a produção de alimentos, atentando specificamente para o fato de que a produção de carne é um dos principais consumidores de água.
Isso considerando o caso dos rebanhos que são alimentados com ração. Lembrando que a ração é produzida principalmente a partir de grãos, que por sua vez são grandes demandantes de água. As estimativas da FAO sobre quanto de água se gasta para a produção dos alimentos são dados médios, tendo em vista a grande variabilidade que existe em termos ambientais e de variedades dos produtos.
Pimentel (2004) afirma a necessidade de que se reestruture o cardápio, de maneira que ele seja mais “sustentável”, privilegiando os produtos que exigem menos água para sua produção. Assim, um prato com batata e frango, por exemplo, exige muito menos água para sua obtenção do que um prato com arroz e bife bovino. Outro aspecto a ser destacado é que grande parte da soja produzida atualmente se destina a virar ração para o rebanho bovino.
Esse procedimento, embora seja rentável em termos econômicos, não é o mais adequado em termos de eficiência hídrica.
A culinária é uma das características que mais individualizam as sociedades. Cada cultura possui seus pratos típicos, aos quais geralmente estão associados rituais e manifestações culturais específicos. Observa-se ao longo das últimas décadas uma tendência de expansão de um modelo de alimentação baseado em “fast food”, que prioriza os hambúrgueres compostos de pão e carne bovina. Além de suas qualidades nutricionais insuficientes, esse tipo de dieta é altamente demandante de recursos hídricos, o que significa um elemento a mais a ser considerado quando se observa a difusão desse tipo de alimentação por todo o planeta.
Quando se discute a questão alimentar, quase que de imediato se retorna à questão malthusiana: teremos alimentos para a população em crescimento? 
Nos próximos 50 anos ainda assistiremos ao crescimento da população mundial, que deve se estabilizar por volta de 9 bilhões de habitantes. Não se pode ficar preso à armadilha do pensamento malthusiano; entretanto, uma questão importante a ser enfrentada é como alimentar essa população, principalmente considerando que a produção de alimentos está estreitamente relacionada com a disponibilidade de água, e que alguns dos alimentos exigem muito mais água para serem produzidos do que outros. Tendo em mente esses processos e uma perspectiva de mais longo prazo, talvez comece a fazer sentido a ideia de se discutir os atuais padrões de alimentação.
Da mesma forma, o contexto atual de globalização econômica, com dispersão dos riscos ambientais em escala global, torna necessário avaliar o consumo de água também nessa escala mais ampla. Além de uma perspectiva mercadológica, a concepção de água virtual pode trazer instrumentos para analisar e compreender como as trocas de água estão se configurando entre as diversas regiões do planeta. A partir desse conhecimento, pode-se partir para um aprofundamento das discussões sobre os padrões de consumo desse elemento natural fundamental, que é a água.
Segurança
Considerar a água como produto de exportação indireta brasileira nos remete ao processo de dispersão de riscos ambientais em escala global, pois evidencia quem está pagando a conta da escassez dos recursos hídricos de outras regiões do mundo. Todos os produtos brasileiros que são exportados, sobretudo os produtos agrícolas, demandam um volume de água para serem produzidos e essa água é “exportada” juntamente com estes produtos (soja, carne ou cana-de-açúcar) sem que seja contabilizada. Assim, quando os limites da modernização atingem os patamares da escassez, mudam as ameaças a que estamos expostos. 

Fonte: Roberto Luiz do Carmo

Comentários

Postagens mais visitadas