O individualismo e a questão ambiental
Acredito que poucos tenham dúvida
de que a sociedade contemporânea está cada vez mais individualista. Este não é
um fenômeno meramente brasileiro; assim como as questões ambientais, afeta ao
mundo globalmente. O individualismo coloca o indivíduo no centro de suas
relações com o mundo e não a humanidade ou a coletividade. O cidadão perde
laços afetivos, perde solidariedade, perde companheirismo, perde parte do
respeito pelo outro, pelo diferente, deixa seu próprio caráter se corromper. Em
suma, mudam-se as relações sociais para pior e uma das consequências tristes é
que as pessoas se afastam igualmente da política, entendida com “P” maiúsculo,
como atividade de espírito nobre em prol de uma comunidade.
Como, então, esperar que essa
sociedade contemporânea se preocupe com as questões ambientais, que dizem
respeito ao coletivo? Sim, pois não vejo como se construir um efetivo respeito
pelo ambiente sem o estabelecimento de políticas participativas. A sociedade
precisa se expressar, opinar, cobrar dos dirigentes o que acha correto para que
se alcance, um dia, o tão propalado “desenvolvimento sustentável” e para que as
mudanças climáticas não se virem contra ele com toda a fúria que a natureza
pode revelar. A rigor, até mesmo este conceito de “desenvolvimento sustentável”
é mais difícil de ser assimilado quando impera o individualismo. Sim, pois a
ideia básica aqui envolvida quando se usa a expressão “sustentável” é que as
novas gerações possam usufruir dos recursos naturais de modo bastante parecido
com o que dispomos hoje. Se eu só penso em mim, como terei este tipo de
preocupação? Atingir este tipo de desenvolvimento pode ser uma utopia e ela
será tão mais inatingível quanto mais individualistas forem as pessoas.
Não tenho, obviamente, a fórmula
mágica que pode mudar esta tendência egoísta que, no fundo, diminui o próprio
homem e limita suas conquistas futuras. Entretanto, tenho a suspeita de que com
a valorização de uma “sociedade do conhecimento”, as coisas possam começar a
mudar. Digo isto porque para emitir suas opiniões e cobranças com relação ao
Meio Ambiente as pessoas têm que se informar, que adquirir conhecimento que vai
além de uma mera opinião. Saber quais são os riscos aos quais estão submetidas
quando o meio ambiente é degradado é muito importante para sua própria
sobrevivência. Há, por exemplo, estudos que mostram que comunidades de ilhas
que há séculos se alimentam de carne de baleia, hoje estão se contaminando com
chumbo. Tristemente, há aqueles que dizem que essa alimentação particular é uma
herança cultural, o que é verdade, e que, portanto, continuarão ingerindo a
carne imprópria para consumo “rezando para que as pesquisas estejam erradas”.
Ora, isto é um exemplo típico de analfabetismo científico. E o envenenamento
com chumbo não é brincadeira...
Por outro lado, uma mudança de
enfoque do problema nas escolas também possa contribuir para formar outro tipo
de cidadão, menos egoísta. É importante que desde pequeno se explique o quanto
a preservação do planeta depende da ação coletiva. Não basta apenas que cada
indivíduo não jogue papel no chão e detritos nos leitos dos rios. Os problemas
de poluição, via de regra, têm causas em outra escala. São grandes empresas ou
grandes indústrias que causam os grandes impactos ambientais, muitas vezes
valendo-se da indiferença dos governos e órgãos fiscalizadores. Portanto, é
fundamental que as crianças e os jovens tenham uma percepção diferente do que é
cidadania e que ela depende de ações e atividades coletivas, defendendo
interesses coletivos e não de indivíduos ou corporações. E aqui voltamos ao
problema da política. Os jovens precisam ter consciência de que necessitam
cobrar dos políticos um posicionamento claramente a favor da preservação
ambiental, em todos os níveis. É lamentável o quadro que vemos se repetir a
cada eleição, quando as pessoas mais cultas e mais preparadas, que poderiam
fazer diferença no cenário político viram as costas e ficam criticando os
candidatos que têm motivações outras que não a de realmente servir com espírito
público a comunidade à qual representam. Como disse há muito tempo o estadista
britânico Edmund Burke, “para que o mal triunfe basta que os homens de bem nada
façam”.
Em suma, vejo na valorização
extremada do individualismo um sério entrave para uma ampla conscientização da
importância de preservar nosso planeta. E ninguém mais do que os jovens de hoje
precisa enxergar que isso é um problema sério e urgente.
Comentários
Postar um comentário