Seca


A desertificação e a seca constituem uma ameaça crescente para o mundo inteiro. Atividades humanas como a exploração excessiva das terras, o sobrepastoreio, a desflorestação e os métodos de irrigação inadequados, associados às alterações climáticas, transformam as terras outrora férteis em terrenos estéreis e improdutivos. 
A superfície de terra arável por pessoa está a diminuir, ameaçando a segurança alimentar, em particular nas zonas rurais mais pobres, e desencadeando crises econômicas e humanitárias.
Todas as regiões do mundo são afetadas. A Austrália conheceu, no ano passado, a pior seca desde há mais de um século. Milhões de toneladas de solo arável desapareceram em tempestades de pó, afetando seriamente a produção e as exportações agrícolas. Na Índia, a seca e o desflorestamento transformam, todos os anos, 2,5 milhões de hectares em terras incultas, enquanto noutros pontos da Ásia, as tempestades de areia representam, cada vez mais, uma ameaça para a economia e o ambiente. No México, cerca de 70% do total de terras estão expostos à desertificação, o que leva entre 700 000 e 900 000 mexicanos a deixarem as suas casas em busca de uma vida melhor como trabalhadores migrantes nos Estados Unidos. Mas é na África, ao sul do Saara que o problema da desertificação é mais grave e onde se prevê que o número de refugiados ambientais venha a atingir os 25 milhões de pessoas, durante os próximos 20 anos.
Os sistemas de gestão sustentável dos recursos hídricos, faz ressaltar o problema da escassez de água e a necessidade de conservar e gerir melhor os recursos hídricos. Desde a aprovação da Convenção das Nações Unidas sobre a Luta contra a Desertificação, há precisamente nove anos, e apesar dos limitados recursos disponíveis, foram lançados numerosos projetos, com o objetivo de fazer face a estes problemas e a problemas conexos. Na Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, que se realizou no ano passado, em Joanesburgo, a comunidade internacional reafirmou o seu compromisso em relação à Convenção e reconheceu a necessidade de lhe dar um novo impulso, graças a um maior apoio financeiro.
Dado que os pobres cultivam frequentemente terras degradadas que são cada vez menos capazes de responder às suas necessidades, a desertificação é, ao mesmo tempo, uma causa e uma consequência da pobreza. A luta contra a desertificação deve, por isso, ser parte integrante dos esforços mais vastos que fazemos para eliminar a pobreza e garantir a segurança alimentar a longo prazo. Reafirmemos hoje o nosso compromisso em relação aos objetivos da Convenção e a nossa determinação em alcançar o desenvolvimento sustentável para todos, nomeadamente nas zonas rurais secas, onde vivem as populações mais pobres do mundo.
A desertificação gera riscos evidentes e graves. Reduz a fertilidade dos solos, podendo provocar perdas de produtividade da ordem dos 50%, em algumas regiões. Contribui para a insegurança alimentar, a fome a pobreza e pode dar origem a tensões sociais, econômicas e políticas que, por sua vez, agravam a pobreza e a degradação dos solos. Segundo as estimativas atuais, os meios de subsistência de mais de 1 bilhão de pessoas podem estar comprometidos, devido à desertificação, e, por conseguinte, 135 milhões de pessoas podem estar em perigo de serem obrigadas a abandonar as suas terras. Os pobres das zonas rurais são particularmente vulneráveis, sobretudo nos países em desenvolvimento.
A desertificação, a perda da capacidade de renovação biológica das zonas áridas, semi-áridas e sub-húmidas é um dos perigos que ameaça mais seriamente a humanidade. A desertificação é um problema mundial e atinge um quinto da população do planeta, em mais de 100 países. As suas repercussões são imensas. A pobreza é, em parte, uma causa deste fenômeno que, ao mesmo tempo e num círculo vicioso trágico, se agrava. Juntamente com outros problemas, obriga as populações de zonas rurais empobrecidas a migrarem para as cidades, que, em geral, não têm condições para alojar e empregar os recém-chegados de uma maneira adequada. Se não agirmos e as atuais tendências se mantiverem, em 2020, cerca de 60 milhões de pessoas terão partido das zonas da África subsariana para o Norte da África e Europa e, a nível mundial, 135 milhões de indivíduos correrão o risco de desenraizamento.
Ao mesmo tempo, é urgente proteger os desertos. Trata-se, de fato, de ecossistemas vitais, que foram em tempos remotos o berço de algumas das civilizações mais antigas e culturalmente mais ricas do mundo, que se estenderam por milhares de quilômetros, desde o lendário Crescente Fértil da Mesopotâmia até às regiões da Rota da Seda e aos ecossistemas áridos da América Latina. 

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