Desertificação avança sobre semiáridos de todo mundo
O mundo já experimenta uma
expansão das regiões semiáridas, tendência que continuará no presente século
por causa do aquecimento global, afirma estudo publicado por pesquisadores
franceses. O aumento observado das regiões semi-áridas foi de 13% no século passado,
e pode alcançar adicionais 38% até 2.100. Diversas projeções de modelos
climáticos sugerem que as áreas secas do planeta deverão se expandir como
consequência do aquecimento global. O estudo investigou se regiões semi-áridas
e quentes ocuparão uma área maior no futuro, e também se elas irão se tornar
mais áridas. Essas alterações trazem implicações para medidas de adaptação às
mudanças climáticas.
A partir de dados climatológicos
e de projeções de modelos computacionais, os pesquisadores quantificaram a área
total ocupada pelas regiões semi-áridas no século 20 e, ao mesmo tempo,
projetaram a área ocupada até o fim do século 21. Para identificar o clima
semi-árido, o estudo se baseou na classificação de Köppen, na qual a
temperatura e a precipitação são combinados com os diversos biomas para
delimitar geograficamente os tipos de clima.
Os resultados indicaram que no
século 20 ocorreu expansão das regiões semi-áridas, sendo alterações na
precipitação responderiam por 75% dessa mudança, enquanto que o aquecimento
global, por 23%. Durante a segunda metade do século 20, verificou-se que a
expansão se deu na direção dos pólos em ambos os hemisférios. Esse fenômeno é
consistente com as observações de alteração na circulação geral da atmosfera.
O semiárido
brasileiro
Mais de 50% das áreas do
semiárido brasileiro já “estão com processo de desertificação acentuado”, e
cerca de 10 a 15% do território enfrenta uma situação de desertificação severa.
A soma das extensões de terras degradadas no Ceará, na Bahia e em Pernambuco
equivale a “63 mil km²” de desertificação, informa Iêdo Bezerra de Sá,
engenheiro florestal e pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária).
Ele explica que a desertificação
é um fenômeno de degradação ambiental que acontece particularmente em regiões
áridas, semiáridas e subúmidas secas, a exemplo do Nordeste e de parte do
Sudeste brasileiro. Estende-se por 1,03 milhão de km² (12% da área do País) e
atualmente congrega uma população de 27 milhões de pessoas (12% da população
brasileira) vivendo em 1.262 municípios de nove estados da Federação. Em
novembro de 2017, mais 73 municípios foram incluídos em decorrência da seca
prolongada.
De acordo com o engenheiro
florestal, no Brasil a desertificação no semiárido tem se agravado por causa do
desmatamento na caatinga. “Ao desmatar a caatinga, os solos ficam completamente
expostos a todas as intempéries”, frisa. Além do desmatamento, Bezerra de Sá
enfatiza que a irregularidade das chuvas contribui para que a degradação seja
ainda mais acentuada em algumas regiões. “Há locais, por exemplo, aqui onde
estou agora, em Petrolina — que é no extremo oeste de Pernambuco —, em que
chove 450 a 500 milímetros por ano. O grande problema é essa irregularidade das
chuvas: elas caem de forma muito concentrada, chove muito em pouco tempo, ou
seja, os 500 milímetros se concentram em apenas dois, três meses e, às vezes,
20%, 30% da chuva do ano cai em apenas um dia”.
No Brasil, as Áreas Susceptíveis
à Desertificação (ASD’s) compreendem cerca de 1.340.863 Km2 (16% do território
brasileiro), abrangendo 1.488 municípios (27% do total), incluindo territórios
dos nove estados do Nordeste, e de dois do Sudeste (parte de Minas Gerais e do
Espírito Santo). Mais de 30 milhões de pessoas (17% da população brasileira)
são atingidas pelo processo. O processo ocorre nas áreas Semiáridas, Subúmidas
Secas e em Áreas do Entorno, nas quais a razão entre a precipitação anual e
evapotranspiração potencial está compreendida entre 0,05 e 0,65.
As áreas mais críticas estão nos
Núcleos de Desertificação, cujos solos já estão degradados de forma
extremamente grave, um processo de desertificação praticamente irreversível.
São eles: Gilbués (PI), Seridó (RN/PB), Irauçuba (CE), Cabrobó (PE), Cariris Velhos
(PB) e Sertão do São Francisco (BA).
Campanha
quer Cerrado e Caatinga como patrimônios nacionais
O Cerrado chegou a cobrir dois
milhões de quilômetros quadrados, abrangendo 20% do território nacional. Hoje,
metade está de pé. Ofuscado pela fama internacional da Amazônia, o Cerrado
ficou esquecido – e está ameaçado.
O seu ritmo de desmatamento é
mais rápido que o do vizinho – foram 9,4 mil quilômetros quadrados perdidos de
Cerrado em 2015, contra 6,2 mil de floresta amazônica, segundo o Ministério do
Meio Ambiente. Serviu especialmente para dar lugar a pastos e plantações. O
Cerrado está na última fronteira do agronegócio brasileiro, nos estados do
Norte e Nordeste, enquanto sua proteção continua fraca – apenas 7,5% do bioma
está em áreas protegidas.
Projeto Colabora sobre o Cerrado
e Caatinga, coordenado pelo ambientalista Pedro Piauí, criou um abaixo assinado
no Change.org para transformar ambos os biomas e perfis vegetais em patrimônios
nacionais. Até o momento o documento tem 183 mil assinaturas.
Fonte: Envolverde
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