Microplásticos: o perigo que vem em água engarrafada
Comerciais de água engarrafada
costumam associá-la a pureza e vida saudável e, se vendas servem de referência,
parece que funciona. A indústria global do produto movimenta cerca de 120
bilhões de euros por ano. Desde 2012, o consumo mundial passou de 288 bilhões
de litros para 391 bilhões.
Mas um novo estudo da organização
sem fins lucrativos Orb Media turva essa associação entre pureza e água
engarrafada. O primeiro estudo do tipo em escala mundial testou a presença de
microplásticos em 11 marcas, adquiridas em 19 locais de nove países, incluindo
o Brasil. O poluente foi encontrado em 93% das amostras, em quantidades que
variavam enormemente.
A pergunta que o estudo lança é:
é seguro beber essas minúsculas partículas de plástico? A resposta não é
simples. Apesar da grande presença de microplásticos no meio ambiente,
toxicologistas ainda estão nos estágios iniciais da avaliação dos potenciais
riscos à saúde humana.
Ainda não se sabe, por exemplo,
quantas dessas partículas chegam à corrente sanguínea. Muitas delas são grandes
demais para entrar de forma tão profunda no corpo humano. Mas, se algumas delas
forem pequenas o suficiente para isso, haverá ”preocupações quanto à invasão
física de tecidos do corpo e a carga química associada aos plásticos”, afirma o
especialista Rolf Halden, da Universidade do Arizona.
Estudos em camundongos - Segundo
a especialista da Universidade Livre de Amsterdã Heather Leslie, microplásticos
são um poluente extremamente desafiador. Ela compara os plásticos e as
substâncias químicas que os formam a um prato de espaguete, no qual a massa são
as correntes de polímeros e o molho, os aditivos químicos.
“Dependendo da receita, você pode
ter algumas substâncias químicas no plástico que são tóxicas, e, de fato,
muitas ’substâncias que suscitam elevada preocupação (SVHC, em inglês)’ são
ligadas aos produtos plásticos.” Ela também menciona o que é conhecido como
toxicidade de partículas.
“Se partículas minúsculas,
incluindo plásticos, entrarem dentro de um tecido do corpo humano, elas podem
causar o que se chama de estresse oxidativo, o que pode levar a inflamações
crônicas.” Estas, por sua vez, são suspeitas de desempenhar um papel importante
no surgimento de várias doenças crônicas, explica Leslie.
O toxicogenômaco Albert
Braeuning, do Instituto Alemão de Evaluação de Riscos (BfR), está analisando os
efeitos dos microplásticos em camundongos. Ele e sua equipe deram aos animais
elevadas doses de diferentes pedaços de microplástico por 28 dias e estão agora
estudando os efeitos dessas partículas nos tecidos dos camundongos.
“No atual estágio de análise das
amostras, não encontramos nada hostil”, afirma Braeuning. Porém, ele ressalta
que é necessário avançar mais com as pesquisas para abordar a “situação
humana”. Segundo Leslie, recolher um conjunto grande de evidências é um
processo longo, assim como foi com o cigarro e as mudanças climáticas. “Às
vezes leva décadas para entender tudo.”
Variações extremas - O estudo da Orb Media foi supervisionado pela
pesquisadora Sherri Mason, da Universidade de Nova York em Fredonia, que também
conduziu uma pesquisa sobre a presença de microplásticos na água de torneira.
A equipe dela injetou o corante
vermelho do Nilo em cada uma das 250 garrafas. Esse produto adere a materiais
derivados do petróleo, como plásticos. Depois, eles filtraram a água por até
1,5 micron (0,0015 milímetro), o que é menor que a dimensão de uma célula
vermelha do sangue humano.
Eles encontraram uma média de
10,4 partículas de plástico por litro na filtragem por 100 microns (0,10
milímetro, mais ou menos a espessura de um fio de cabelo). Usando uma técnica
com raios laser para analisar essas partículas maiores, os cientistas foram
capazes de ler as assinaturas moleculares e confirmar que se tratava de
plásticos.
Mas eles também detectaram um
número muito mais elevado de partículas ainda menores, que eles acreditam
também serem plásticos. Com o auxílio de um software especialmente criado para
contar essas partículas, eles descobriram que a presença variava muito de uma
garrafa para a outra – mesmo naquelas que tinham a mesma fonte. Enquanto
algumas apresentavam poucas ou mesmo nenhuma partícula, outras tinham centenas
ou até milhares.
O maior número de partículas
microplásticas que os pesquisadores encontraram em apenas um litro superava os
10 mil. Eles concluíram que os consumidores podem estar bebendo em média 314,6
dessas pequenas partículas por litro. Como eles não podem analisá-las da mesma
maneira que as partículas maiores, eles não podem descartar totalmente que
outros poluentes possam estar na mistura.
“Como cientista, eu diria que há
uma possibilidade. Ela é altamente provável? Não creio”, afirma Mason. “Uma das
questões seria: o que mais pode estar na água? Certamente não é água e nem
minerais, pois estes não absorvem o vermelho do Nilo.”
Beber a água e a garrafa - Os pesquisadores ainda não sabem de onde vem a
contaminação. Entre os plásticos identificados por Mason está o nylon, o PET
(usado em garrafas plásticas de bebidas) e uma incidência de 54% de
polipropileno, usado para fabricar tampas de garrafas.
Microplásticos também foram
encontrados em amostras de água engarrafada em vidro. Os resultados são
similares aos da pesquisa conduzida pela cientista Darena Schymanski, do
Instituto de Pesquisa Química e Veterinária de Münster, no início de 2018.
Usando uma técnica diferente, ela analisou a presença de partículas
microplásticas na água engarrafada da Alemanha. “Encontramos PET e
polipropileno na água”, relata Schymanski.
Ônus dos produtores - O pesquisador Andrew Mayes, da Universidade
britânica de East Anglia, que é especializado em técnicas usando o vermelho do
Nilo e que revisou os resultados da pesquisa da Orb, disse esperar que eles
colaborem para o debate sobre o impacto ambiental das embalagens usadas no
cotidiano.
“Estudos como esse mostram que,
apesar de o plástico ser um material maravilhoso, temos de usá-lo e descartá-lo
com cuidado e bom senso”, diz Mayes. “Acho que o estudo coloca o ônus nos
produtores.”
Questionada, a Nestlé afirmou que
testou seis garrafas, e o resultado não revelou a presença de partículas
microplásticas além do nível de traço. A multinacional suíça também afirmou que
está “disposta a colaborar com outros para a evolução da robustez e da
padronização dos métodos de teste.”
A engarrafadora alemã
Gerolsteiner afirmou que há muito tempo “presta especial atenção” a
microplásticos e garantiu que sua água é “testada regularmente, tanto internamente
como por laboratórios externos de renome”. Segundo a empresa, os testes não
revelaram a presença de microplásticos nas suas fontes.
Para Halden, resolver a questão
dos microplásticos vai além de método e processo. “O consumidor tem um papel em
comunicar que não quer continuar usando materiais que se sabe serem
insuficientes com base nos padrões atuais de como as coisas devem ser
compatíveis com o meio ambiente e com a vida humana”, afirma.
Fonte: Deutsche Welle
Otima materia.
ResponderExcluirEu ja tinha desconfiança deste tipo, e agora vou mudar de marca ate que a Empresa se pronuncie. Pertenço a um grupo Idoso de consumidores de agua Mineral. Voces nao informaram quais as Marcas. So vi a Nestlê respondendo. Gostaria de solicitar mais um estudo:
A agua que usamos nas cidades vindas de torneiras, principalmente do Rio de Janeiro, estao muito carregadas de quimicos. E ja observei que no calor sentimos fortes coceiras no corpo apos o banho. Tenho diversos relatos, e quem esta faturando com isso sao os Dermatologistas,que nao estao nem ai para as reclamações do dia a dia. Por isto contamos com trabalhos e estudos deste tipo.
Parabens para voces.