O futuro do Brasil está no céu e não no subsolo
Fato já constatado até por
especialistas do setor, a era do “ouro negro” está definitivamente ficando no
passado. O mundo tem experimentado um processo de renovação energética sem
precedentes, onde as energias renováveis estão desempenhando um papel crucial e
essencial, já que as reservas fósseis estão se esgotando. Ambientalmente
sustentáveis, socialmente justas e economicamente viáveis, fontes como solar,
eólica e de biomassa têm se tornado cada vez mais baratas e populares. Com o
planeta em alerta vermelho por conta de eventos cada vez mais severos causados
pelas mudanças climáticas, projetos ligados a combustíveis fósseis como carvão,
petróleo e gás se tornaram investimentos de alto risco.
Por serem os principais emissores
dos gases que causam o efeito estufa, os combustíveis fósseis estão diretamente
relacionados ao financiamento da crise climática global. A fim de evitar essa
associação e cumprir com o compromisso assumido em Paris em 2015, países no
mundo todo têm investido seriamente na transição de suas matrizes energéticas.
Ainda assim, governos como o do Brasil, cuja abundância em recursos naturais
encontra poucos paralelos, contraditoriamente insistem em priorizar fontes
fósseis em detrimento das renováveis. A Agência Nacional do Petróleo e Gás
(ANP) vai contra os apelos globais por um novo modelo de desenvolvimento
econômico-energético e intensifica a agenda de leilões de blocos para
exploração de petróleo e gás no país.
“A cada dia, as pessoas estão
cada vez mais ligando os pontos entre empresas que investem em fósseis e o caos
climático e as injustiças socioambientais . Mas não é só isso. Essa indústria
também está associada a casos de corrupção junto aos governos nacionais em
vários países”, alerta Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org
Brasil e América Latina e coordenadora nacional daCOESUS – Coalizão Não
Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida.
“No Brasil, a Operação Lava Jato
revelou os esquemas de propina mostrando que essas empresas fazem de tudo para
controlar o mercado no qual pretendem investir, agindo sem transparência e com
truculência. Chega de fertilizar o subsolo brasileiro com corrupção”, enfatiza
Nicole.
Corrupção
e caos climático
A 14ª Rodada de Licitações irá
ofertar 287 blocos em 11 bacias sedimentares marítimas e terrestres. Das 36
empresas que foram aprovadas para participar do certame, mais 60% são
estrangeiras e pelo menos cinco delas estão envolvidas em casos de corrupção.
Empresas como a Shell e ExxonMobil, por exemplo, compartilham casos de esquemas
ilícitos envolvendo o governo nigeriano. A esta última ainda se soma o
histórico agravante de ter omitido conhecimento sobre as mudanças climáticas há
mais de meio século.
Já a empresa Petronas, da
Malásia, teve um de seus executivos preso por suspeita de superfaturar uma
operação de exploração de petróleo. A Rosneft, empresa de petróleo comandada
pelo governo russo, está sob investigação em um caso que levou o ministro do desenvolvimento
econômico a ser preso. Outras empresas, como a indiana Cairn Energy, são
acusadas de espionagem por obter informações privilegiadas do governo sobre
negociações com empresas estrangeiras interessadas em investir na Índia.
Casos recentes, como os esquemas
de propina da Petrobras e da Queiroz Galvão, no Brasil, demonstram como a
corrupção da indústria fóssil está em várias parte do mundo. São empresas
dispostas a tudo para conseguir controlar o mercado, em aliança com governos
corruptos que agem sem qualquer transparência, consulta e diálogo para com as
suas populações, e menos ainda com as comunidades diretamente impactadas por
esses empreendimentos.
Para o engenheiro Juliano Bueno
de Araújo, coordenador de campanhas climáticas da 350.org e fundador da COESUS,
“a ANP age de forma irresponsável, sorrateira e criminosa ao não explicitar no
edital da 14ª Rodada a autorização para gás não convencional, colocando em
risco a vida, a segurança alimentar e hídrica de milhões de brasileiros. Dessa
forma eles estão enganando o povo brasileiro, e isso nós não vamos aceitar.”
Energias
responsáveis
Além da falta de transparência, a
indústria fóssil também usa e abusa da falsa e ilusória promessa de progresso e
desenvolvimento, com geração de renda e empregos, para limpar a sua imagem
junto à sociedade. Mas o Rio de Janeiro, sede do leilão e o maior produtor de
petróleo e gás do país, é uma prova viva do contrário. Vivenciando uma das mais
graves crises econômicas de sua História recente, o estado que mais depende do
dinheiro sujo dos fósseis amarga as piores taxas de crescimento econômico do
Brasil.
“O Rio de Janeiro é o exemplo
cabal de falência de uma indústria que está com os dias contatos em todo o
mundo, aliada à corrupção e reprodutora de um modelo ultrapassado de geração de
energia. Isso sem falar que a cidade está vulnerável aos impactos das mudanças
climáticas, como aumento do nível do mar, deslizamentos, doenças epidêmicas,
entre outras ocorrências que atingem toda a população“, atesta Juliano.
Em oposição a essa realidade, um
novo horizonte se amplia com o crescimento exponencial das energias limpas.
Hoje, o setor de renováveis emprega mais de oito milhões de pessoas, sendo a
China a campeã, com 3,5 milhões de empregos, e o Brasil vem em segundo lugar,
com quase um milhão de trabalhadores no ramo.
Com grande potencial, o Brasil
deve estimular e atrair investimentos para a produção de equipamentos para a
geração de energia renováveis – solar, eólica e de biomassa. “Já há estudos que
comprovam que a indústria de baixo carbono gera 18 vezes mais empregos que a
fóssil e, depois de instalada, proporciona a geração de energia 40% mais
barata”, completa o engenheiro.
“Neste momento, o mundo passa por
um difícil teste de eventos climáticos catastróficos. As pessoas precisam saber
que o presente e o futuro do planeta dependem de uma única decisão: deixar os
fósseis no chão de uma vez e olhar para o céu priorizando a energia livre,
responsável, com justiça ambiental e climática”, finaliza Juliano.
Fonte: Nathália Clark e Silvia Calciolari – Envolverde
Comentários
Postar um comentário