A importância da comunicação na conscientização ambiental
As questões relacionadas ao meio
ambiente e à sustentabilidade são complexas e envolvem uma série de fatores.
Para além do ambiental, elas revelam aspectos políticos, econômicos e sociais
da sociedade. Por conta disso, dar visibilidade às temáticas no meio
jornalístico é essencial.
No entanto, a percepção da
importância da sustentabilidade e do meio ambiente, ainda mais considerando o
modelo atual de vida, por vezes, parece distante. Um dos principais motivos
para isso é que os assuntos caíram na invisibilidade na grande mídia com o
passar dos anos, por conta dos altos custos das reportagens. Atualmente,
inclusive, é perceptível certa sazonalidade na cobertura, que acontece em
função de grandes eventos, seja um desastre como o de Mariana ou uma agenda pública
como as Conferências do Clima da ONU.
“Cuidar do meio ambiente faz bem
para todo o mundo, mas não afeta a vida das pessoas que moram nas cidades
diretamente – afeta ao longo do tempo. É um problema de todos, mas que não
interessa especificamente a ninguém” aponta Eduardo Pegurier, editor-chefe do O
Eco, portal especializado em cobertura ambiental. Para ele, falta uma maior
conscientização sobre como os temas atrelados ao meio ambiente podem
influenciar a dinâmica da vida cotidiana.
A questão do custo também é
apontada por Pegurier como um agravante para a ampliação da cobertura. “É um
problema comum a todo jornalismo, mas no ambiental é particular, porque
qualquer ida a campo envolve distâncias longas e custos altos”. O que ele mais
lamenta é que com as restrições orçamentárias, perde-se muito do potencial que
esse tipo de jornalismo poderia apresentar ao público. “A cobertura ambiental,
além de tudo, também têm imagens bonitas. Então, fazer jornalismo ambiental de
longe tem uma perda grande”.
A respeito do potencial
jornalístico da área, o desmatamento da Mata Atlântica, por exemplo, é um tema
multifacetado e que pode ser analisado de diversas maneiras. Seja pelo fato de
o Brasil contar com apenas 12% da floresta em pé, o que gerou grandes impactos
na fauna e flora. Ou, destacando que a floresta assegura a quantidade e a
qualidade da água potável de sete bacias hidrográficas do país, que abastece
mais de 110 milhões de brasileiro em 3,4 mil municípios. Outra possibilidade é
o potencial turístico do bioma, que integra os parques da Tijuca e do Iguaçu,
ambos com grande visitação no país. Os dados são do Instituto Brasileiro de
Florestas.
Ainda que o eixo central seja
ambiental, a floresta pode desdobra-se em uma variedade de outros assuntos,
como a disponibilidade do recurso hídrico, o potencial econômico do turismo e a
cultura do desmate. Em alguma medida, olhando por uma ótica que vai além do
fator preservação – de relevância inquestionável – há outros vieses que
poderiam ser explorados. Identificar essas outras narrativas traz engajamento e
consequentemente mudanças. É possível destacar os impactos e a necessidade de
recuperar a Mata Atlântica abordando outros fatores de interesse, como a
qualidade da água potável.
A visibilidade auxilia no
processo de inserção do tema no debate público. No entanto, quando o movimento
é contrário e cai no esquecimento, a problemática amplifica-se, estendendo o
seu ciclo de vida. Ou seja, quando o assunto perde destaque na mídia as coisas
pioram, pois a questão cai no esquecimento público.
Foi identificando essa
necessidade de discussão que veículos especializados como O Eco e o eCycle
surgiram. O primeiro com foco em meio ambiente, como falado anteriormente, e o
segundo dedicado às questões acerca do consumo sustentável e da geração de
resíduos.
“O Eco tem a definição de que é a
voz das plantas e dos animais”, comenta Pegurier. O portal está prestes a
completar 13 anos com um total de mais de 30 mil conteúdos publicados, entre
textos, fotos e vídeos. A biodiversidade, as áreas protegidas e o desmatamento
são os seus principais focos de atenção, com produções de profundidade sobre os
temas. “A gente prioriza notícias científicas sobre conservação”, explica o
editor-chefe do veículo.
Já o eCycle escolheu na
conscientização acerca do consumo sustentável o seu pilar de cobertura. Atuando
em um nicho específico dentro de um tema macro como a sustentabilidade, o
portal discute, entre outras questões, soluções para reduzir os impactos ambientais,
climáticos e sociais do modelo atual de consumo.
“Fala-se muito sobre
sustentabilidade, mas, às vezes, a difusão dos temas não dá o foco necessário,
pois está em tudo. Então, a nossa opção se deu pela abordagem através das
lentes do consumo”, conta Onofre de Araujo Neto, publisher do portal. Até o
momento, mais de 6 mil conteúdos, entre dicas, curiosidades e boas práticas de
consumo já foram publicados. A ideia é incentivar o pensamento consciente a
partir de assuntos diversos. “Nós podemos falar sobre as alterações climáticas,
sobre a redução da biodiversidade no Ártico, mas nunca o faremos sem sermos
capazes de associar onde está o sujeito e as suas práticas de consumo”,
completa Neto.
Além da produção de conteúdo, o
eCycle também conta com uma loja virtual que oferece produtos ambientalmente
responsáveis, inclusive, auxiliando no processo de redução da geração de
resíduos e no reaproveitamento de recursos naturais, como cisternas e
composteiras. Por conta disso, o eCycle ganhou o selo de empresa B. Ou seja, um
modelo de negócio onde o lucro está associado a benefícios socioambientais. A
empresa também já concorreu ao Prêmio Eco da Amcham.
Desafios
da cobertura ambiental
Os dois veículos reconhecem que a
linguagem é um dos maiores desafios da cobertura de temas atrelados à ciência.
Isso porque contam com termos e processos técnicos que demanda estudo e um
maior aprofundado para serem oferecidos de forma simplificada para o público.
“Um desafio muito grande é tornar
os temas que nós trazemos à tona amigáveis. Isso passa por diversas fases”,
destaca Neto. De acordo com ele, todos os conteúdos produzidos pelo eCycle têm
no campo acadêmico a sua base de sustentação, com o apoio de especialistas e
pesquisadores como as fontes mais consultadas para a apuração das pautas. Por
conta disso, os conteúdos tendem a ser mais densos e demandam um processo de
revisão, como uma tradução. “A gente tem o amortecimento, que é transformar
tudo em uma linguagem acessível para o público, porque isso não é simples”,
reconhece.
Aliás, democratizar o
conhecimento científico é um desafio que pode trazer grandes ganhos para a
sociedade, pois aproxima a academia e os pesquisadores do público, incentivando
até a ampliação das produções. “Um dos projetos que nós temos na gaveta é treinar
cientistas para escrever para o grande público”, comenta Pegurier. Para ele, a
empatia com o leitor é essencial na divulgação desses tipos de conteúdos. “Tem
que descer do pedestal e falar com o leitor”, completa.
Especializados
e com audiência ascendente
Ainda que, por vezes, fora do
radar da grande mídia, o consumo de conteúdos relacionados ao meio ambiente e a
sustentabilidade tem sido ascendente para os veículos consultados.
“De fato, crescemos em termos de
audiência a taxas anuais na casa de dois até três dígitos. A gente vem aferindo
isso cotidianamente”, revela o publisher do eCycle. Para ele, a
sustentabilidade é uma área muito fértil para o desenvolvimento de conteúdos
com potencial de gerar engajamento.
No O Eco os resultados não são
diferentes, seguindo a mesma escala de crescimento. “Ele tinha em 2010 cerca de
5 mil visitas por dia. Hoje, tem 12 mil. Mais do que dobrou nos últimos 6
anos”, afirma Pegurier. Os resultados positivos, inclusive, têm contribuído
para o desenvolvimento de projetos especiais: um documentário sobre a
influência da pecuária no desmatamento da Amazônia, que está sendo realizado em
parceria com Imazon. “É um trabalho de fôlego que eu espero que influencie
[políticas públicas]. A ideia da parceria é dar visibilidade ao que a ciência
está fazendo”.
Fonte: Equipe Ecycle
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