Fundo do mar é mais desconhecido que solo lunar
Ao contrário da superfície lunar,
o relevo do fundo do mar continua sendo pouco conhecido, criticam especialistas
internacionais neste 8 de junho, Dia Mundial dos Oceanos.
“É muito lamentável que no dia de
hoje não se saiba exatamente como é o fundo do mar”, criticou Françoise Gaill,
pesquisadora francesa e membro da plataforma Oceano e Clima, uma aliança entre
ONGs e cientistas.
Atualmente conhece-se menos de
10% do relevo dos fundos marinhos além dos 200 metros de profundidade, segundo
a Organização Nacional Francesa de Hidrografia (OHI). Cerca de dois terços da
superfície do planeta são cobertos por água.
“Não há razão para que se conheça
melhor a Lua que o fundo dos oceanos”, afirmou Françoise Gaill. “Adquirir estes
conhecimentos é caro, mas tudo é questão de prioridades”, acrescentou,
indicando que o tema está neste ano no primeiro plano do Dia Mundial dos
Oceanos, organizado por sua plataforma e a Unesco.
Segundo um estudo americano de
2001, seria possível mapear a totalidade do fundo do mar além dos 500 metros de
profundidade com um único navio oceanográfico trabalhando durante 200 anos.
“Com 40 embarcações, levaria 5
anos”, disse Walter Smith, geofísico da Agência Americana Oceânica e
Atmosférica (NOAA), ao estimar o custo da operação entre 2 e 3 bilhões de
dólares.
“Pode parecer muito, mas é menos
do que a Nasa prevê gastar em sua futura missão de exploração de Europa, a
misteriosa lua de Júpiter”, afirmou o cientista.
Tarde demais – “Temos uma ideia do fundo do mar graças aos
satélites, mas não é muito precisa”, afirmou Thierry Schmitt, especialista em
batimetria da Marinha francesa. “Só a aquisição de dados marinhos através de
sondas acústicas permite dispor de uma maior precisão. Mas se tratam de
técnicas geralmente lentas”, avaliou o pesquisador.
Consequência: as caixas-pretas do voo Air France AF447 desaparecido
em 1º de junho de 2009 foram, por exemplo, recuperadas após 23 dias a 3.900
metros de profundidade em uma zona particularmente caótica do Oceano Atlântico.
Quando alguém cai no mar, uma
embarcação está em risco ou um avião cai no oceano, deve-se poder estimar os
movimentos das correntes. No entanto, é difícil estabelecer modelos das mesmas
em zonas em que o relevo marinho é pouco conhecido, explicou Walter Smith.
“Esperar que um avião caia para mapear uma zona é tarde demais”, reforçou.
Um melhor conhecimento dos fundos
marinhos permitiria, ainda, saber mais sobre os recursos marinhos disponíveis
antes de sua exploração ou preservação, a origem dos deslizamentos de terreno
submarinos e as ondas provocadas por tsunamis e furacões.
As disparidades no conhecimento
sobre fundos marinhos são relevantes em todo o mundo. Mais de 95% das zonas de
0 a 200 metros de profundidade no sudoeste do Pacífico e as regiões polares são
ignoradas por completo, contra 30% das do Reino Unido ou 40% dos Estados
Unidos, segundo dados de 2013 do OHI.
O organismo alertou, ainda, para
uma redução em 25 anos de 35% dos meios náuticos dos países costeiros para
desenvolver campanhas de dados batimétricos.
“As prioridades orçamentárias
nacionais se concentram em outras áreas fora dos meios navais e infraestruturas
de investigação”, lamentou Yves Guillam, do secretariado da OHI, antes de
observar que os benefícios econômicos e ambientais destas políticas só se
concretizam no longo prazo.
Fonte: G1
Comentários
Postar um comentário