DESMATAR OU REAPROVEITAR ÁREAS
Recentemente em um simpósio
(Abril 2016) sobre solo e agronegócio, fiquei perplexo ao ver em “número” o
tamanho de áreas que podem ser reutilizadas se “conscientemente” o homem parar
com o avanço do desmate para criar novas áreas e fazer as devidas correções
nestas áreas. Segue a informação:
Brasil e seus desafios - O Brasil tem 236 milhões de hectares
agricultáveis, onde mais de 100 milhões de hectares de áreas de produção
agropecuária estão em algum estágio de degradação, ou seja, aproximadamente 50%
da área total agricultável nacional. (Unisafeconsultoria)
Compreender
o assunto
O solo é um dos elementos
naturais mais importantes, uma vez que todos os seres vivos estão sobre ele.
Todo sustento humano é retirado desse recurso. Ao degradar-se, o solo perde sua
capacidade de produção. O termo degradação do solo é meio amplo, mais consiste
em tudo aquilo que está relacionado com a destruição do solo, por exemplo, a
erosão, o empobrecimento do solo, a contaminação e a desertificação é
considerado um dos problemas mais graves decorrentes da degradação do solo.
Geralmente ocorre em áreas de
monocultura, de desmatamento e áreas desérticas. A degradação do solo é um
processo natural e importante para a formação dos relevos, quando é resultado
do transporte do solo pela água, vento ou gelo. O problema ocorre quando há
intervenção humana, com a destruição de florestas, o uso de agrotóxicos, uso
agrícola intensivo, a expansão desordenada das cidades ou as poluições
orgânicas e industriais, que levam a uma erosão mais severa.
O solo perde sua capacidade de
produção afetando a produção de alimentos, a contaminação dos lençóis
freáticos. Apesar da extrema importância que o solo desempenha, o seu uso
realizado de forma inadequada facilita o aparecimento de vários problemas.
Esgotamento dos solos: o crescente aumento das erosões é resultado da
forma equivocada de plantio desenvolvida por muitos agricultores ao longo do
território brasileiro, isso tem transformado grandes áreas produtivas em solos
inférteis.
Lixiviação: termo usado para
designar um processo que ocorre quando as águas da chuva realizam uma espécie
de “lavagem” do solo, retirando um elevado percentual de nutrientes, tornando-o
menos fértil. Em decorrência desse fato, faz-se necessária a aplicação cada vez
maior de fertilizantes.
Laterização: é um processo que acontece em lugares nos quais
predominam duas estações bem definidas (seca e chuvosa). Essa característica
favorece a concentração de hidróxido de ferro e alumínio no solo. A
concentração desses minerais forma a laterita, que torna difícil o manejo do
solo em virtude do surgimento de uma ferrugem por cima dele, deixando-o mais
duro.
Degradação biológica: redução do conteúdo de matéria orgânica, declínio
da biomassa de carbono, e a diminuição da atividade e diversidade da fauna do
solo são consequências da degradação biológica dos solos. Devido às
temperaturas elevadas do solo e do ar, a degradação biológica é mais severa nos
trópicos que nas zonas temperadas. A degradação biológica pode ser causada
também pelo uso indiscriminado de agroquímicos e poluentes do solo.
Degradação química: a depleção de nutrientes é a maior causa da
degradação química. Além disto, a excessiva lixiviação de cátions em solos com
argilas de atividade baixa causa a diminuição do pH do solo e a redução da
saturação por bases. A degradação química também é causada pelo aumento de
alguns elementos tóxicos e desequilíbrio dos elementos, que prejudicam o
crescimento das plantas.
Existem vários fatores que
iniciam vários dos processos de degradação. Estes fatores podem ser naturais ou
antropogênicos. Fatores naturais incluem o clima, a vegetação, material de
origem, relevo e hidrologia. Entre os fatores antropogênicos importantes
encontramos a população, o uso da terra, e o desenvolvimento de estradas,
canais, e o complexo industrial.
Compactação
A habilidade das plantas para
explorar o solo e obter nutrientes e água está relacionada à estrutura das suas
raízes. E a distribuição das raízes no perfil do solo está relacionada às
condições físicas e químicas do solo, que podem ser manipuladas através do
manejo. Porém quando o manejo do solo ocorre de forma inadequada gera o
problema da compactação. Para obter a condição ideal na camada superficial do
solo são usadas máquinas pesadas. E o tráfego desses veículos faz com que as
características químicas e principalmente as características físicas da camada
mais superficial do solo sejam alteradas devido à pressão As consequências
negativas desse processo de compactação do solo são: diminuição da troca
gasosa; limitação do movimento dos nutrientes no solo; diminuição da taxa de
infiltração de água; aumento da erosão hídrica.
Os sintomas de solos compactados
são a formação de poças nas depressões do terreno; erosão hídrica com o impacto
das gotas de chuva que podem levar à formação de sulcos e voçorocas;
necessidade de maior potência das máquinas para preparar o solo; plantas com
raízes superficiais e mal formadas; demora na emergência das plântulas; padrão
irregular de crescimento das plantas; e folhas com coloração não
característica.
Erosão
A erosão é a destruição do solo e
seu deslocamento, pelo movimento de agentes físicos (água da chuva, vento,
gelo, ondas, gravidade). O tipo mais comum de erosão, e mais diretamente
associado à agricultura, é a erosão hídrica causada pela água da chuva. A
erosão, além de destruir a estrutura do solo, também causa o assoreamento, que
é o acúmulo de partículas do solo nos leitos dos rios e lagos. Vamos
compreender porque a agricultura extensiva pode estar diretamente associada à
erosão. A superfície dos solos usados na agricultura era naturalmente coberta
pela vegetação típica do local. Se, no local, havia muita vegetação e de tipos
variados, o impacto da chuva era atenuado, porque a velocidade da água diminuía
com os obstáculos (as diversas estruturas das plantas que formavam degraus).
Além disto, os variados tipos de raízes davam sustentação mecânica ao terreno.
O uso de técnicas agrícolas inadequadas, que promovem o desflorestamento de
áreas extensas para ser ocupadas por plantações alteram as características da
vegetação natural e podem interferir nos fatores de absorção de água pelo solo.
A agricultura extensiva e mal planejada é, portanto, mais um fator de erosão
hídrica. Outros fatores de erosão hídrica são desmatamento para a extração de
madeira, pecuária e a urbanização. A primeira ação da chuva nos solos sem
cobertura vegetal se dá pelo impacto das gotas de chuva, que desagregam os
torrões do solo e levam o material mais fino para longe. A força do impacto das
gotas de chuva também diminui a porosidade do solo, o que é chamado de selagem.
A selagem aumenta o fluxo superficial da água e a erosão. A erosão pode ocorrer
com o transporte uniforme das partículas pelas águas pluviais ou com a formação
de canais definidos, que podem se tornar voçorocas. Mas as voçorocas também
podem ser formadas devido à ação das águas subterrâneas. É necessário considerar
as características físicas dos terrenos (tipo de solo, declive, hidrografia); o
regime de chuvas da região e a cobertura vegetal de modo a preservar os solos
da erosão hídrica.
Queimadas
As queimadas são uma técnica
agrícola muito antiga e muito usada para preparar o solo para agricultura.
Normalmente é eficiente, rápida e de baixo custo, quando comparada a outras
técnicas agrícolas. No entanto, as queimadas geram também muitos prejuízos e
riscos. As queimadas intencionais para fins agrícolas e as queimadas acidentais
causadas por negligência são muito prejudiciais ao ambiente. Sua recorrência
devido à ação do ser humano elimina extensas coberturas florestais, inclusive
de reservas ambientais. As queimadas tem consequências também para o próprio solo,
uma vez que eliminam bactérias e outros microrganismos que compõem a microfauna
do solo.
Preservação
dos Solos
Até aqui vimos alguns problemas
decorrentes do manejo inadequado. Agora vamos conhecer algumas técnicas de
preservação do solo que visam preservar sua fertilidade, através do
conhecimento dos processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem naturalmente
nos solos.
Adubação verde - Adubação verde significa cultivar algumas plantas
que depois serão incorporadas ao solo, através da decomposição. Isso enriquece
os solos com os minerais que as plantas cultivadas necessitam para seu bom
desenvolvimento. A adubação verde evita ainda o desenvolvimento de ervas
daninhas. As plantas cultivadas para adubação verde são geralmente as
leguminosas e outras plantas associadas às bactérias fixadores de nitrogênio.
As plantas utilizadas na adubação verde evitam que as gotas de chuva caiam
diretamente sobre o solo. Com isso evitam a erosão e o lixiviamento. O
lixiviamento consiste na lavagem do solo pelas águas das chuvas de enxurradas,
que levam os minerais dissolvidos no solo para outros terrenos e para os rios,
lagos e águas subterrâneas. Portanto, o solo tratado com adubação verde fica
mais rico em nutrientes, especialmente em nitrogênio, menos suscetível à
erosão, ao lixiviamento e às pragas.
Reflorestamento - O reflorestamento consiste na plantação de
árvores em regiões que sofreram desmatamento e que correm risco de erosão. O
eucalipto e o pinheiro são árvores muito utilizadas no reflorestamento, pois
firmam a terra com suas raízes, que também absorvem parte da água. O
reflorestamento traz vários benefícios, tais como: filtram os sedimentos;
protegem as beiras de rio; aumentam a porosidade do solo devido à presença de
raízes profundas e volumosas; diminuem o escoamento superficial da água pelo
solo; permitem a criação de refúgios para a fauna; podem gerar fonte de energia,
através da lenha produzida. O reflorestamento pode ser feito em faixas,
intercalando-se com culturas anuais. Essa prática favorece a fertilidade
natural do solo, que fica rico em nutrientes, e também o protege de ação
prejudicial de agentes físicos, especialmente a água.
Plantação em curvas de nível - Curva de nível é uma linha imaginária que une os
pontos de mesma altitude de uma região. O plantio em níveis cria obstáculos à
descida das águas de enxurradas, o que diminui a velocidade de arraste das
partículas do solo e aumenta a infiltração da água no terreno.
Consórcio de culturas - Consórcio de cultura é o plantio de diversas
espécies vegetais ao mesmo tempo em um terreno. A diversidade diminui o risco
de pragas ou doenças e mantém o ambiente em maior equilíbrio, com
características mais próximas ao original. O consórcio inclui leguminosas e outras
plantas que servem como adubo verde, fertilizando o solo. Outros fatores como
Integração da produção animal e Agrofloresta contribuem para uma melhor
conservação dos solos.
Recuperação de solos - O manejo sustentável de recursos naturais envolve
o conceito de “usar, melhorar e restaurar” a capacidade produtiva e os
processos de suporte da vida do solo, o mais básico de todos os recursos
naturais. O objetivo não é só minimizar a degradação do solo, mas reverter às
tendências através de medidas de recuperação do solo e manejo de culturas. A
qualidade do solo e a sua capacidade produtiva devem ser incrementados além da
preservação através de medidas de reconstrução do solo, por exemplo, prevenindo
a erosão do solo e melhorando a profundidade de enraizamento do solo,
“reabastecendo” o solo com nutrientes extraídos durante as colheitas de
culturas ou produção animal através do uso correto de adubos minerais e
orgânicos e práticas efetivas de ciclagem de nutrientes, incrementando a
atividade biológica da fauna do solo, e melhorando o conteúdo de matéria
orgânica do solo. O uso da terra e o sistema de manejo adotado deve ser
“restaurador ou recuperador do solo” ao invés de “esgotador do solo”,
“esgotador de fertilidade” e “degradador do solo”. Além disto, o solo não deve
ser utilizado como uma área para depósito de lixo tóxico. Apesar de o solo
apresentar uma resiliência intrínseca, existe um limite de abuso que o solo
pode suportar.
FINALIZANDO
"Cabe ao homem compreender
que o solo fértil onde tudo que se planta dá, pode secar. Que o chão que dá
frutos e flores pode dar ervas daninhas. Que a caça se dispersa e a terra da
fartura pode se transformar na terra da penúria e da destruição. O homem
precisa entender que de sua boa convivência com a natureza depende sua subsistência
e que a destruição da natureza é sua própria destruição, pois a sua essência é
a natureza, a sua origem e o seu fim".
Fonte: EMBRAPA – IAPAR - Herbes Araújo - Luiz Henrique Lopes
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