Brasil poderia produzir um terço de energia de Itaipu a partir do lixo
O Brasil tem potencial de
produzir 37 milhões de megawatts de energia por meio do biometano, um gás que
pode ser obtido a partir da degradação de materiais orgânicos presentes no
lixo. Isso equivale a pouco mais de um terço da energia gerada por ano na usina
hidrelétrica de Itaipu, no Paraná. Isso é o que indica um estudo feito pela
Abiogás (Associação Brasileira de Biogás e Biometano).
O curioso é que o biometano já é
produzido no Brasil e desperdiçado – em aterros sanitários, é comum ver
tubulações para a saída dos gases. E pior, o gás (CH4) é 21 vezes mais poluente
do que o gás carbônico (CO²) e, mesmo assim, é emitido na atmosfera. A sua
utilização como fonte de energia eliminaria esse problema ambiental.
“O biometano pode ser usado como
fonte de energia para produzir energia elétrica através de um gerador, pode ser
usado como combustível veicular exatamente da mesma forma como o gás natural. E
também pode ser usado em caldeiras, produzindo calor”, explica o pesquisador
Odorico Konrad, professor da Univates e doutor em Engenharia Ambiental e
Sanitária pela Universidade de Leoben, na Áustria.
Nas contas da Abiogás, a produção
anual de biometano poderia chegar a 23 bilhões de metros cúbicos no Brasil. A
maior parte, 12 bilhões de metros cúbicos, viria de resíduos da cana-de-açúcar
usada na produção do álcool. Outros 8 bilhões de metros cúbicos seriam
produzidos com rejeitos agrícolas e dejetos de animais como porcos, bovinos e
aves. E, finalmente, 3 bilhões de metros cúbicos, oriundos do saneamento urbano,
ou seja, do lixo orgânico e dos esgotos domiciliares e industriais.
No entanto, hoje em dia o uso do
biometano como fonte de energia é quase inexistente. De acordo com a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Brasil usa pouco mais de 0,05% do gás
na matriz energética.
E por que
não usamos
Os problemas, segundo o
presidente da Abiogás, Cícero Bley Jr, são vários. Por ausência de normas não
há confiança no biometano – o que ele considera um erro – e o modelo de
produção de energia por biometado é descentralizado, o oposto do utilizado nas
outras fontes energéticas.
“As empresas de distribuição de
energia têm um encaminhamento para grandes negócios de energia. O biogás não se
aplica dessa maneira. Está colocado no território de maneira descentralizada.
Isso é difícil para o setor elétrico nacional.”
O biometano seria um negócio de
pequenos investidores, pois seriam necessários biodigestores próximos aos
locais onde estão os resíduos. O professor Konrad cita como exemplo o caso
alemão. “A Alemanha tem hoje mais de 8.000 biodigestores instalados produzindo
energia.”
Bley lembra que, por não ser
negócio grande, o biometano “fica fora das grandes discussões do governo”.
Investimento
De acordo com o estudo da
Abiogás, o custo desta forma de energia é de 30% a 40% mais baixo do que o que
atualmente gastamos. Para se ter uma ideia, a produção de 1 megawatt de energia
com biometano custa R$ 2,5 milhões, contra R$ 3 milhões com uma microcentral
hidrelétrica e R$ 5 milhões com a solar.
Os custos de implantação de um
biodigestor varia conforme o volume de gás a ser produzido, afirma Bley. O
retorno do investimento, segundo ele, se dá em um período entre cinco e sete
anos.
Aos poucos, e com iniciativas
independentes, o biometano vai sendo utilizado no país. Recentemente, um ônibus
foi movido em Itaipu com biogás gerado por galinhas.
“Percorremos 3 mil km com esse
combustível. Vindo de 100 km de distância de Itaipu. Esse ônibus com motor a
100% de biogás andou sem nenhum problema. Itaipu comprou 40 carros Siena
tetrafuel, disponível no mercado, com gás natural comprimido. Em vez disso,
colocamos o biometano comprimido”, contou Bley.
Fonte: UOL
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