Crime ou Caso Mariana desperta nova mentalidade ambiental
O desastre ambiental de Mariana, que lançou milhões de
toneladas de lama de mineração no vale do rio Doce, deve funcionar como um
marco na história da proteção ao meio ambiente no Brasil. O maior acidente do
tipo ocorrido no Brasil afetou a vida de milhões de pessoas de Minas Gerais e
Espírito Santo, além de destruir centenas de espécies de animais e seus
habitat. Tudo isto faz - ou pelo menos deveria fazer - com que autoridades
acompanhem o caso com a devida atenção, fazendo com que a empresa Samarco e seus
proprietários, causadores do acidente, arquem com todos os custos de reparação
da destruição causada.
É de se esperar que o "caso Mariana" forme uma
nova mentalidade ambiental no Brasil. Assim, setores econômicos cujas
atividades podem causar dano ao meio ambiente onde atuam, deverão tomar
providências para minorar o risco. O Ministério do Meio Ambiente, secretarias e
agências ambientais não poderão mais aprovar projetos com alto risco ambiental,
sem que medidas concretas de prevenção, baseadas na melhor tecnologia
disponível estejam previstas nas obras e sejam efetivamente aplicadas.
Exemplo disso é o estudo feito pelo Instituto Brasileiro de
Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) que representa as empresas exploradoras
de petróleo. O trabalho, realizado com o apoio técnico do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) mapeou o litoral
brasileiro do Amapá ao Rio Grande do Norte. Adicionalmente também foram
estudadas outras 78 áreas do litoral brasileiros - como a Lagoa dos Patos (RS),
a Baía de Paranaguá (PR), Praia Grande (SP), Baía da Guanabara (RJ), Lagoa de
Araruama (RJ), Ilha de Boipeba (BA), Delta do Parnaíba (MA), Baía de Marajó
(PA) e a Ilha de Itamaracá (PE). Neste estudo foi constatado que a atividade petrolífera
entre o Amapá e o Rio Grande do Norte ameaça em maior ou menor grau, dependendo
do tipo de atividade na região, cerca de 120 espécies de animais, dentre os
quais 56 espécies de aves, 46 de mamíferos e 18 de répteis e anfíbios. O
impacto da atividade às espécies no restante do litoral brasileiro será
acrescido ao estudo em 2016.
Os organizadores do estudo afirmam que a pesquisa poderá dar
mais agilidade na emissão de licenças para atividades petrolíferas e dar
subsídios para a elaboração de um Plano Nacional de Contingência, que é
acionado em caso de acidentes. Este plano até hoje ainda está em fase de
estudos. Apesar do acidente com vazamento de petróleo ocorrido em novembro de
2011, envolvendo a empresa Chevron, pouco foi efetivamente colocado em prática.
Agora, o "caso Mariana" deve ter despertado atenção e preocupação no
setor.
O controle das atividades econômicas e de seus impactos deve
aumentar ao longo dos próximos anos. Emissões de gases, destruição de
ecossistemas, preservação de vegetação original e de espécies marinhas, são
temas que cada vez mais tomarão importância. O recente impasse surgido entre o
Ministério do Meio Ambiente e pescadores de diversas regiões brasileiras já é
um indício do que deverá ocorrer no futuro próximo. Com uma portaria, o
ministério proibia a pesca de diversos tipos de peixes, crustáceos e moluscos,
ameaçados de extinção. A portaria foi suspensa e as espécies voltaram a ser
pescadas, mas o impasse permanece. As atividades econômicas não podem mais
ignorar seus impactos ambientais.
Fonte: Ricardo Ernesto Rose
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