Mariana - Minas Gerais: Danos ambientais causados pela lama da barragem da Samarco


Danos vão de risco de intoxicação até a morte do rio Doce
O equivalente a quase 25 mil piscinas olímpicas de lama foi despejado nas redondezas próximas à barragem que se rompeu na cidade de Mariana, em Minas Gerais. As imagens aéreas de Mariana, em Minas Gerais, são impressionantes. A lama tomou conta de tudo. Cinco dias depois do rompimento de duas barragens da mineradora Samarco, bombeiros ainda procuram as vítimas e a lama já chegou ao Espírito Santo. Ainda vai demorar para sabermos a extensão do impacto que o rompimento causará ao meio ambiente – isso depende de estudos, que já começaram. Mas já é possível fazer uma previsão dos principais danos que os rejeitos de minério de ferro, despejados na natureza, podem causar. De intoxicação à morte do rio Doce, estes são os principais impactos:
Solo alterado – Os danos ao meio ambiente no entorno da barragem podem ser, a grosso modo, químicos ou de ordem física.
O primeiro diz respeito à desestruturação química do solo, não só pelo ferro, mas também por outros metais secundários descartados durante o processo de mineração.
Segundo Cleuber (Geólogo UEL), esse solo recebe uma incorporação química anormal, já que o resíduo tem excesso de ferro, que pode alterar o pH da terra.
Já o impacto físico dos rompimentos dizem respeito à quantidade de lama – e não à composição. “O problema não é o material em si, mas o fato de a lama ter coberto a região, soterrando a vegetação”, diz Mauricio Ehrlich, professor de geotecnia da COPPE, da UFRJ.
“Esse resíduo é pobre em material orgânico, ou seja, não favorece o crescimento de vegetação. Assim, o que acontece é que essa lama vai começar a secar lentamente, criando uma capa ressecada por cima do solo, dificultando a penetração de água. E, por baixo, esse solo segue mole.”
Maurício afirma ainda que, além do solo infértil, outro impacto ambiental está relacionado aos rios da região. Com o vazamento, os sedimentos vão sendo arrastados e se depositando nos trechos onde a corrente é mais fraca.
Isso prejudica a calha dos rios, que podem ser assoreados, ficarem mais rasos ou até terem seus cursos desviados.
Outro risco é o de que muitas nascentes sejam soterradas - Esse impacto nos recursos hídricos também afeta sua fauna, especialmente peixes e microrganismos que compõem a cadeia alimentar nos rios.
“Mudança no perfil do solo, impacto nos recursos hídricos, na fauna. Quanto tempo a natureza vai demorar para assimilar tudo isso?”, questiona o geólogo da UEL.
Segundo ele, apesar de ainda ser cedo demais para se ter essa resposta, é possível dizer que um programa para resgatar a área degradada em Mariana dure cerca de 5 a 10 anos.
Os especialistas salientam que é preciso fazer um levantamento do impacto, sendo que uma das primeiras medidas reais será retirar a lama o quanto antes, especialmente por meio de escavação.
Afinal Quem fala a verdade ou qual verdade acreditar?
Samarco diz não ser toxica: A mineradora Samarco (responsável pelo local) garantiu que não há nada tóxico nos 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro liberados durante o acidente.
Baseado no que a empresa disse notem os especialistas: Especialistas ouvidos pela BBC Brasil afirmaram que, apesar de o material não apresentar riscos à saúde humana, ele trará danos ambientais que podem se estender por anos.
“Comparado ao mercúrio, por exemplo, esse rejeito não é tóxico, já que é formado basicamente por sílica. Ninguém vai desenvolver câncer, nada disso. O risco não é para ao ser humano, mas para o meio ambiente”, disse o professor de geologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Cleuber Moraes Brito, que é consultor na área de meio ambiente e mineração.
“Essa lama avermelhada deve causar danos em todo o ecossistema da região, impactando por anos seus rios, fauna, solo e até os moradores, no sentido de que o trabalho deles, como a agricultura, pode se tornar impraticável.”
Porém a controvérsias: A lama é ou não tóxica?
O rompimento das barragens de Fundão e Santarém despejou 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro no meio ambiente – a lama que podemos ver nas muitas imagens chocantes feitas após o desastre. Segundo a Samarco, essa lama não é tóxica. Ela é composta principalmente de sílica, um tipo de areia, e de ferro.
Serviço Autônomo de Água e Esgoto - Isso, ao menos, é o que a mineradora diz. Mas sempre tem um porem: Segundo o Jornal Hoje, o serviço autônomo de água e esgoto de Governador Valadares, uma das cidades atingidas pela lama, fez uma análise química da água do rio Doce. A análise encontrou alto índice de ferro, o que era esperado, mas também "uma grande quantidade de mercúrio". O mercúrio é altamente tóxico. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, ele pode "afetar o cérebro, o coração, os rins e pulmões e o sistema imune dos seres humanos". Isso se as pessoas forem expostas a grandes quantidades de mercúrio e por tempo prolongado. Ainda não é certo que o mercúrio tenha vindo especificamente da lama de rejeitos, mas essa é uma possibilidade que precisa ser analisada.
O que se sabe até o momento
Nada crescerá na área tomada pela lama - Se considerarmos que a lama é segura do ponto de vista da saúde humana, o maior impacto que ela causará será no meio ambiente. Esses rejeitos devem deixar o solo de toda a área atingida infértil. O portal G1 entrevistou professores da UFRJ que explicam como isso acontece. Segundo eles, o resíduo é pobre em material orgânico, e por isso não favorece o nascimento de plantas ou de vegetação. Aos poucos, a lama vai secando, criando uma capa ressecada no solo onde nada nasce. É como se a terra fosse "cimentada". Hortas e roças de pequenos agricultores estarão inviabilizadas.
As nascentes foram soterradas - O pior impacto, sem dúvida, será no rio Doce. O jornal O Tempo, de Minas Gerais, falou com responsáveis por um projeto que monitora os impactos ambientais nos rios mineiros. O cenário que os pesquisadores descrevem é devastador. A lama deverá matar peixes, algas, invertebrados, répteis e anfíbios. Ou seja, toda a vida que depende do rio. As nascentes, locais importantes para as espécies de peixes do rio se reproduzirem, foram soterradas pelos rejeitos, comprometendo a saúde do rio, das espécies e o abastecimento de cidades. No curto prazo, o leito do rio se tornará estéril.
A maior tragédia ambiental de Minas Gerais - É possível que o rompimento das barragens represente o maior dano ambiental da história de Minas Gerais. Talvez até do Brasil. Ao descer pelo rio Doce, a lama afetou 15 municípios. Desses, apenas um não depende exclusivamente do rio para abastecimento de água. Alguns municípios já interromperam o abastecimento. A expectativa é que 500 mil pessoas fiquem sem água. Ao seguir o curso do rio Doce, os 62 milhões de metros cúbicos de lama da Samarco percorreram um trajeto de cerca de 400 quilômetros até chegar na costa do Espírito Santo. É muita lama.
O que pode causar esta lama
Lama que vazou de barragens pode provocar problemas ósseos, intestinais e agravar distúrbios cardíacos. Lama contaminada tem concentração de metais até 1.300.000% acima do normal. Quantidade alta de manganês pode provocar danos graves à saúde, alerta toxicologista da USP.
Estudo preliminar indica concentração de metais no rio Doce em Valadares; seis dias depois da tragédia, mineradoras não divulgaram qualquer estudo sobre qualidade da água.
O rompimento de duas barragens da Samarco em Mariana, na região central de Minas, começa a ganhar números que dão a dimensão da catástrofe ambiental. Amostras da enxurrada de lama que foram coletadas cerca de 300 km depois do distrito de Bento Rodrigues apontam concentrações absurdas de metais como ferro, manganês e alumínio.
A água coletada pelo SAAE (Serviço de Água e Esgoto) de Valadares aponta um índice de ferro 1.366.666% acima do tolerável para tratamento – um milhão e trezentos mil por cento além do recomendado, segundo relatório. Os níveis de manganês, metal tóxico, superam o tolerável em 118.000%, enquanto o alumínio estava presente com concentração 645.000% maior do que o possível para tratamento e distribuição aos moradores. As alterações foram sentidas a partir de 8h, enquanto o pico de lama tóxica ocorreu às 14h no rio Doce.
Servidores da prefeitura esclarecem que não têm condições técnicas de verificar a ocorrência de materiais pesados (como arsênio, antimônio e chumbo, normalmente presentes em rejeitos que contêm ferro), e por isso aguardam análises da Copasa e de dois laboratórios para detalhar a situação.
A quantidade de manganês presente na água em quantidade adequada para tratamento é – 0,1 mg, mas os técnicos encontraram 29,3 mg pela manhã e 118 mg (1.180 vezes acima) durante a cheia da tarde. O alumínio aparece com 0,1 mg, mas estava disponível em 13,7 mg e 64,5 mg, respectivamente (6.450 vezes superior). A concentração tolerada de ferro é 0,03 mg, mas as amostras continham 133 mg e 410 mg. O nível de turbidez regular é 1000 uT, mas chegou a 80 mil uT na passagem da enchente.
Manganês traz riscos
Segundo o chefe do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da USP, Anthony Wong, a concentração mais preocupante é do manganês. É um metal tóxico que, por ser mais pesado, devia estar depositado no fundo. Pode provocar alterações nas contrações musculares, problemas ósseos, intestinais e agravar distúrbios cardíacos. O alumínio não traz riscos para a população em geral, mas nestas quantidades pode trazer riscos para diabéticos, pessoas com tumores ou problemas renais crônicos. O organismo mais ácido absorve mais alumínio. Já o ferro não é considerado tóxico.
O infectologista destaca que a Samarco já deveria ter tornado públicas as análises de qualidade da água, principalmente em relação aos metais pesados, que podem trazer consequências mais graves – já se passaram seis dias do desastre enquanto Vale e Samarco não apresentaram nenhum estudo das amostras coletadas.
Dentro de 48 horas já deveriam ter divulgado, as equipes de socorro e sobreviventes tiveram contato [com essa água]. Metais pesados como chumbo, arsênio e antimônio costumam acompanhar o ferro, mais raramente o níquel.
A preocupação com os riscos de elementos pesados é compartilhada por Ricardo Valory, diretor geral do IBIO-AGB Doce (Instituto Bioatlântica).
A dúvida é sobre a composição real da lama, se tem metal pesado. A Samarco afirma que não, mas de qualquer maneira temos que aguardar os laudos oficiais.
Samarco ainda não respondeu
Pela reportagem a Samarco foi questionada diversas vezes na segunda (9 de novembro 2015) e terça (10 de novembro 2015) sobre os estudos das amostras coletadas pela própria empresa e sobre os resultados do SAAE, mas ainda não obteve respostas. Em comunicados no site e em entrevistas de executivos desde o dia do rompimento, a mineradora, que é controlada pela Vale e pela BHP, reforçou que a enchente de lama não continha rejeitos tóxicos para seres humanos, apenas material inerte em compostos de areia.
Por causa destes níveis de contaminação, o tratamento de água foi suspenso em Governador Valadares há três dias e a partir de hoje pode faltar água para 500 mil habitantes em nove cidades em Minas e no Espírito Santo. A prefeitura decretou situação de calamidade pública. 

Fonte: Época - G1 - R7

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