Natureza: É preciso ver para valorizar
Todo mundo já ouviu falar de
aquecimento global, de excessos de chuva em algumas regiões e secas em outras,
de frios rigorosos e calor escaldante, entre outros acontecimentos que, de
certa forma, nos fazem perceber que o planeta está mudando, mesmo que não
necessariamente nos preocupemos em entender o porquê.
“O que os olhos não veem o
coração não sente”, diz o provérbio repetido pela sabedoria popular. Da mesma
forma, a nossa relação com a natureza muitas vezes passa despercebida por não a
enxergarmos diante de tantos prédios e muros que nos cercam. Imaginando que o
céu é o limite, muitas vezes só conseguimos enxergar mesmo o céu e, por não
sentirmos a natureza presente, não percebemos os benefícios que ela nos traz.
Nos protegemos do sol à sombra de
uma árvore, mas muitas vezes não percebemos a árvore. Abrimos a torneira
repetidas vezes, mas não nos perguntamos de onde vem a água e como ela chega
até ali. Nesse sentido, a crise de água que atinge várias regiões do país tem
contribuído, apesar da forma trágica, para a percepção do quanto dependemos dos
serviços ambientais prestados pela natureza. Para termos água em quantidade e
qualidade, precisamos proteger com as florestas os rios, nascentes e mananciais
que abastecem os reservatórios. E para protegê-los, é necessário entender
que ambientes naturais conservados e
saudáveis são fundamentais para garantir a qualidade de vida e o bem-estar de
todos. Ter a percepção de que estamos cercados e fazemos parte da natureza nos
aproxima cada vez mais dela.
Muitos acreditam que a Mata
Atlântica está presente somente nos remanescentes florestais distantes dos
locais onde vivem, sem notar que mesmo as áreas urbanas já bastante modificadas
pela ação humana fazem parte do bioma. Mais de 145 milhões de pessoas, o equivalente
a 72% da população brasileira, vivem em cidades da Mata Atlântica. No entanto,
e principalmente para quem está nos grandes centros urbanos, a percepção em
relação à natureza deixa de ser diária e passa a ser algo específico e
prazeroso a ser desfrutado nos finais de semana com passeios nos parques,
praças ou viagens.
A educação ambiental vem com a
premissa de fazer com que as pessoas e a comunidade tomem consciência do meio
ambiente e adquiram os conhecimentos, valores, habilidades e experiências para agir, individual e coletivamente, para
resolver problemas ambientais presentes e futuros. Isto porque uma nova visão
de mundo está ganhando cada vez mais espaço entre as pessoas que estão em busca
da melhoria da qualidade de vida e da formação de um novo estilo, em que o
consumo consciente prevalece em relação ao desperdício dos recursos naturais e
da degradação ambiental.
Cabe a todos participar desse
processo de transformação da sociedade atual em uma sociedade sustentável,
centrado no exercício responsável da cidadania, que considere a natureza como
um bem comum, leve em conta a capacidade de regeneração dos recursos materiais,
promova a distribuição equitativa da riqueza gerada e lute por condições dignas
de vida para as gerações atuais e futuras. Para que isso ocorra, é preciso
formar humanos conscientes, críticos e éticos, aptos portanto a enfrentar esse
novo paradigma.
A Fundação SOS Mata Atlântica
realiza ações de educação ambiental e mobilização que buscam contribuir com
esse processo, como é o caso da exposição itinerante “A Mata Atlântica é aqui”,
que já passou por 177 cidades sensibilizando um público de 815 mil pessoas, e o
projeto “Aprendendo com a Mata Atlântica”, que ocorre no Centro de Experimentos
Florestais da instituição, em Itu, interior de São Paulo, e recebe durante todo
o ano grupos de estudantes para atividades de vivência na natureza.
Claro que além da educação
informal, como os exemplos promovidos pela SOS Mata Atlântica, se faz
necessário o trabalho de educação ambiental no âmbito escolar. No Brasil, temos
a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) que dispõe sobre a educação
ambiental e determina que ela deve ser desenvolvida como uma prática educativa
integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino
formal.
Infelizmente, sabemos que na
prática a aplicação da educação ambiental no ensino formal está mais
relacionada ao interesse do professor pelo tema e que a grande maioria das
escolas só trabalham a matéria em datas pontuais, como o Dia da Árvore (21/9) e
do Meio Ambiente (5/6), o que precisa mudar.
Em linhas gerais, a educação
ambiental se faz necessária para levar a população à reconhecer que nossa maior
riqueza é a natureza, e que ao destruí-la estamos destruindo a nós mesmos.
Claro que não conseguiremos nos tornar totalmente sustentáveis da noite para o
dia, mas podemos buscar mudanças nas atitudes diárias, que apesar de parecerem
pequenas, quando somadas com as ações de milhões de habitantes que o planeta
possui fazem uma enorme diferença.
Você também pode diminuir o
impacto que causa no ambiente adotando atitudes como tomar um banho mais
rápido, escovar os dentes com a torneira fechada, usar meio de transporte que
polua menos, não jogar lixo no chão, separar os materiais recicláveis, entre
outros. Informações e conhecimento nós já temos à disposição, precisamos agora
mudar nossos valores, e isto só acontecerá por meio da educação e
sensibilização. Apenas assim abriremos nossos olhos para valorizar a natureza
que nos cerca.
Fonte: Marcia Hirota - Diretora-executiva da Fundação SOS
Mata Atlântica, Kelly de Marchi e Patrícia Ferreti - Coordenadoras dos projetos
de educação ambiental da organização
Comentários
Postar um comentário