ARAUCÁRIA - O pinheiro do Paraná em processo de extinção
A araucária (Araucaria angustifólia)
é a espécie arbórea dominante da floresta ombrófila mista, ocorrendo
majoritariamente na região Sul do Brasil, mas também sendo encontrada no leste
e sul do estado de São Paulo, sul do estado de Minas Gerais, principalmente na
Serra da Mantiqueira, na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro e em
pequenos trechos da Argentina e Paraguai, sendo conhecida por muitos nomes
populares, entre eles pinheiro-brasileiro e pinheiro-do-paraná; é também chamada
pelo nome de origem indígena, curi. Faz parte do ecossistema conhecido como
Floresta com Araucária. Originalmente,
essa floresta ocupava uma área de cerca de 200 mil km², com distribuição mais contínua
entre os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e de forma
esparsa e irregular na região Sudeste. Hoje, a Floresta com Araucária está
reduzida a cerca de 1% de sua área original e uma das espécies que mais sofreu
foi a, araucária.
Sua forma é única na paisagem
brasileira, parecendo uma taça ou umbela. A partir do século XIX foi
intensamente explorada por seu alto valor econômico, dando madeira utilíssima e
sementes nutritivas, e hoje seu território está reduzido a uma fração mínima, o
que segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos
Naturais (IUCN) coloca a araucária em Perigo Crítico de Extinção.
A araucária, apesar de popular,
não é conhecida completamente pela ciência. Diversos estudos vêm sendo feitos
recentemente para entendermos melhor a ecologia e biologia desta árvore; também
são necessários para orientar as urgentes medidas de proteção que ainda
precisam ser tomadas para assegurar a sobrevivência desta espécie sensível e
altamente especializada em um ambiente que rapidamente vai sendo invadido e
destruído pelo homem, mas ainda persistem muitas incertezas e contradições em
vários aspectos. Esse conhecimento imperfeito da matéria, que confunde até a
conceituação e aplicação das leis ambientais que deviam protegê-la e ainda não
conseguem fazê-lo - veja-se o recuo continuado das áreas onde sobrevive - mais
as variadas exigências que a planta impõe no cultivo planejado para que possa
render bem, desanimam muitos reflorestadores, que preferem espécies mais bem
conhecidas, de crescimento mais rápido e que não demandem tantos cuidados.
Entretanto, os estudiosos são unânimes em declarar a necessidade de sua
salvação, tanto por sua importância econômica e ecológica como paisagística e
cultural.
O
processo de extinção
A araucária entrou em processo
decisivo de extinção. O professor da Universidade Federal do Paraná Flávio
Zanette afirma que a decadência da espécie atingiu “nível crítico nos últimos
anos” e a Araucária deixou de estar apenas ameaçada. Para repor as árvores com
idade avançada uma série de ações imediatas devem ser tomadas para evitar o fim
da árvore símbolo do estado, segundo o professor.
O professor Flávio Zanetti,
responsável por pesquisas que geraram o pinheiro de proveta, para ajudar a
combater a extinção da espécie, afirma que tem provas concretas para embasar um
plano de resgate da Araucária. Segundo ele, a pesquisa é decisiva para evitar a
extinção da espécie.
Estudioso da araucária há mais de
30 anos, o professor Zanette defende as técnicas de enxerto como uma saída para
estimular o plantio econômico da espécie, assim contribuindo para a
preservação. Entre as vantagens da araucária enxertada está o início de
produção de pinhões em período inferior a 10 anos (sem a técnica, a produção só
começa entre 12 e 15 anos). O professor afirma que não há tempo de repor as
árvores idosas se não houver uma ação efetiva.
Pesquisa
pode reverter ameaça de extinção da araucária
A exploração da espécie aconteceu
por causa do avanço da fronteira agrícola, do crescimento das cidades, por
possuir madeira de qualidade para fabricação de móveis e ser boa matéria-prima
para papel e celulose. Por tudo isso, a espécie foi tão explorada que passou a
figurar na lista das espécies brasileiras ameaçadas de extinção.
No Paraná, por exemplo, a
legislação permite que seja cortada somente a araucária que foi comprovadamente
plantada – isso quer dizer estar plantada em linha e com plano de manejo
registrado no órgão ambiental competente. Araucárias que nascem por regeneração
natural são consideradas nativas e não podem ser manejadas ou cortadas.
"Mas como é uma espécie que se regenera bem, ou seja, nasce sozinha sem
precisar que alguém a plante, muitas vezes a muda é arrancada logo que nasce,
justamente por não poder ser manejada ou utilizada depois", explica o
pesquisador Ivar Wendling, da Embrapa Florestas. "O produtor rural entende
como algo que está tomando espaço na sua propriedade e a araucária se torna uma
árvore indesejada", completa.
E se, ao contrário, o produtor
rural enxergasse na araucária uma possibilidade de manejo e renda, mesmo com
aquelas que regeneram naturalmente? "Nesse caso, o produtor vai querer que
aquela muda cresça e se desenvolva e pode também investir em plantios",
afirma Wendling. "É a melhor forma hoje de garantir o desenvolvimento dos
povoamentos de araucária", avalia a pesquisadora Valderês de Sousa. Para
isso, um grupo de pesquisadores da Embrapa Florestas tem se dedicado a
desenvolver tecnologias para que a araucária possa ser conservada e também
gerar renda. É o conceito
"conservar pelo uso" que está sendo defendido. "Mesmo com
árvores sendo cortadas para usar a madeira, por exemplo, o interesse pela
espécie pode crescer tanto que, em pouco tempo, a espécie provavelmente não vai
mais estar ameaçada de extinção", acredita Wendling.
Para isso, a pesquisa florestal
tem lançado mão de diferentes estratégias, que vão desde o melhoramento
genético e manejo florestal, passando pela clonagem e criopreservação, até o
incentivo a empresas para pagamento por serviços ambientais prestados por
produtores, além de estudos sobre o consumo do pinhão, entre outros. "Como
a pesquisa florestal geralmente leva mais tempo para chegar a seus resultados,
atuamos em diversas frentes com a intenção de viabilizar o uso da espécie e
fornecer subsídios para a alteração na legislação", salienta o chefe de
Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Florestas, Sergio Gaiad. Tudo isso para
que a araucária seja vista como uma aliada do produtor rural e não corra mais o
risco de extinção.
Agricultores
familiares fazem manejo florestal participativo da araucária
Ninguém melhor para conhecer uma
árvore do que aquele que a observa e convive com ela no dia a dia. Essa é a
premissa do manejo florestal participativo, ponto central do projeto "Uso
e conservação da araucária na agricultura familiar", coordenado pela
Embrapa Florestas.
"Os produtores estão nos ajudando a
identificar árvores com diferentes características: produção precoce e tardia
de pinhão, árvores com crescimento superior, entre outras", explica a
pesquisadora e líder do projeto Maria Izabel Radomski. Já foram coletadas
sementes em dez propriedades pelos próprios produtores.
Anísio Rosa, assentado rural há
25 anos, conta que colhe o pinhão de árvores que plantou logo que entrou no
lote, além das que já existiam originalmente na região. "Estou aos poucos
saindo da agricultura e investindo mais em floresta, em especial na araucária e
na erva-mate", afirma o produtor. "A gente não pode pensar só no
imediato, mas também no investimento prolongado e a araucária é uma excelente
alternativa", ensina Anísio. O produtor está auxiliando na identificação
de árvores matrizes com produção de pinhão em diferentes épocas do ano.
"Já identificamos cinco árvores-matrizes aqui na minha propriedade. Esse é
um jeito de a gente ajudar a ampliar o uso dessa árvore tão importante aqui
para nossa região", finaliza.
Uma novidade que está sendo
implantada com esse projeto é a análise da distribuição das árvores em áreas de
floresta manejadas pelos agricultores. São feitas imagens em escala reduzida
que funcionam como uma vista aérea da copa das árvores. Com esse recurso, o
produtor pode entender melhor onde estão os vazios, as clareiras, as
sobreposições em sua área. "Vai ser possível discutir espacialmente o
manejo e o produtor poderá fazer a modelagem de sua propriedade sem comprometer
a área com um manejo inadequado", ressalta Radomski.
A primeira experiência dessa
metodologia acontece em cinco propriedades. Serão discutidos modelos de
integração da araucária aos sistemas tradicionais de produção dos agricultores
familiares, seja por meio de plantios puros ou sistemas agroflorestais, tendo
na araucária uma fonte de diversificação da renda nas propriedades.
Paisagismo
rural, sequestro de carbono e retorno financeiro garantido
Preservar a araucária, aumentar a
renda, auxiliar na redução do impacto das mudanças climáticas e colaborar com a
pesquisa florestal. Um sonho distante? Não. "Estradas com Araucária",
que incentiva o plantio da espécie em divisas de propriedades rurais com faixas
de domínio de estradas. Os produtores rurais plantam 200 mudas de araucária por
propriedade e recebem R$ 5 por cada uma, totalizando uma renda de R$ 1.000
fixos por ano, compreendendo desde o plantio até as árvores completarem seu
desenvolvimento e começarem a produzir pinhão. É o chamado pagamento por
serviços ambientais (PSA). "O pagamento é feito por empresas privadas, que
utilizam as árvores principalmente para compensar emissões de gases de efeito
estufa de suas operações", explica Edilson Batista de Oliveira,
pesquisador da Embrapa Florestas e idealizador do projeto. Em três anos, já
foram plantadas cerca de 20 mil mudas de araucária.
Fruto de parcerias com órgãos
estaduais e universidades do Paraná e Santa Catarina, o "Estradas com
Araucária" é um dos únicos projetos no país que efetivamente realiza o
pagamento por serviços ambientais. "Temos recursos garantidos para os
próximos dez anos para os produtores que já participam", comemora
Oliveira. "O projeto viabiliza a aplicação da prática de responsabilidade
social do Grupo com a remuneração das famílias envolvidas e os respectivos
benefícios decorrentes, como também possibilita o uso do projeto como um modelo
sustentável".
Os plantios em fileiras simples
nas divisas com estradas se integram bem com as atividades agropecuárias,
podendo servir, por exemplo, como moirões vivos e para proporcionar conforto
térmico para o gado. Além disso, araucárias plantadas em linhas são excelentes
produtoras de pinhão, que estão cada vez mais valorizados no mercado.
"Outro resultado positivo é que muitos produtores, por iniciativa própria,
têm plantado araucárias nas divisas de suas propriedades pelas vantagens que
estas árvores oferecem", afirma Oliveira.
O retorno para a sociedade é
garantido: o plantio da araucária também auxilia no paisagismo de estradas, na
proteção ambiental, traz benefícios para a fauna local e atua na educação
ambiental. Para os produtores, além do recurso garantido pelo PSA (pagamento
serviço ambiental), existe o retorno posterior com a venda do pinhão. Para a
pesquisa florestal, esses plantios têm contribuído em estudos sobre
conservação, manejo e melhoramento genético.
Fonte: www.bandnewsfmcuritiba.com e EMBRAPA
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