Medicina Ecológica - Cuidado com a saúde levará em conta o Meio Ambiente
Em tempos de aquecimento global e
preocupação cada vez maior com a natureza, um movimento na área médica ainda
pouco difundido no Brasil parece ter tudo a ver com o momento. Trata-se da
medicina ecológica ou ecomedicina, que parte do princípio de que a saúde humana
só pode ser entendida levando em consideração também o local onde se vive.
Segundo esse movimento, alterações bruscas e rápidas no meio ambiente têm
ligação direta com algumas das principais doenças que afetam o ser humano nos
dias de hoje.
A origem da medicina ecológica é
incerta, mas os primeiros estudos sobre o impacto do meio ambiente na saúde
surgiram em 1965, quando foi fundada a Academia Americana de Medicina
Ambiental. Acredita-se que foi nos anos 1990 que o movimento ganhou força nos EUA
e na Europa.
"A primeira pessoa a
empregar esse termo (ecological medicine) foi a arqueóloga americana Carolyn
Raffensperger, que hoje é a presidente da ONG Science and Environmental Health
Network", conta o clínico geral Alex Botsaris, especialista em medicina
chinesa pela Universidade de Pequim.
Autor do livro "Medicina
ecológica – Descubra como cuidar da sua saúde sem sacrificar o planeta"
(Ed. Nova Era), o médico tenta trazer ao país os conceitos do movimento, ainda
bastante incipiente por aqui. "Não é possível separar a saúde do planeta
da saúde dos indivíduos. Quem estuda e se aprofunda em ecologia e outras
ciências ambientais descobre logo que a vida não é um fenômeno isolado",
diz.
A medicina ecológica se baseia no
conceito de indivisibilidade, no qual todas as espécies do planeta têm algum
grau de interdependência. Se muitas delas ficam ameaçadas e o meio ambiente
muda de forma rápida e intensa, a saúde da biosfera como um todo é posta em
risco. E isso inclui o ser humano, que também faz parte do conjunto. "Ou
seja, temos que ter ações tanto para a saúde do planeta como dos indivíduos, ao
mesmo tempo", afirma Botsaris. Parece meio óbvio - e é -, só que esse
conceito básico tem sido esquecido.
Tido como inadequado, agressivo e
contaminado, o novo ambiente urbano em que boa parte da população vive hoje é
considerado a fonte de inúmeras doenças e males que atualmente assolam a
humanidade e crescem vertiginosamente em todo o globo, segundo a medicina
ecológica. Suas causas principais são a poluição e a contaminação de alimentos
por resíduos químicos.
"A cada ano a indústria
química introduz cerca de 2.000 moléculas novas no meio ambiente e não sabemos
quais as consequências disso. São medicamentos, defensivos agrícolas,
fungicidas, produtos para plásticos, derivados de petróleo, metais pesados,
inúmeras substâncias tóxicas", cita o médico.
Isso sem falar no estresse gerado
pela vida nas cidades que, na avaliação de Botsaris, é um dos principais males
causados pelo ambiente atual. O médico classifica-o de duas formas: o estresse
continuado, aquele sentido com frequência por um longo período, e o estresse
cerebral, que é quando a demanda excessiva é exclusiva para o cérebro e não há
contrapartida física. De acordo com ele, ambas estão ligadas ao aumento de
problemas psiquiátricos na sociedade, como ansiedade, depressão, insônia e
síndrome do pânico.
Todos esses agentes externos
fazem com que os seres humanos estejam cada vez menos saudáveis, mesmo com
todos os avanços tecnológicos. "Podemos dizer que quase tudo está de certa
forma errado. É por isso que, apesar do aumento do custo da saúde e do
investimento em tecnologia, estamos começando a andar para trás em saúde e
qualidade de vida. Aquele pensamento de que a longevidade do homem iria
aumentar nos próximos anos não vai se confirmar", argumenta Botsaris.
Com isso, uma das propostas da
medicina ecológica é monitorar e reduzir o uso e a propagação desses químicos
como forma de manter a saúde do planeta e, consequentemente, a do homem.
"A causa provável da maioria das doenças, cuja incidência está aumentando,
é ambiental: infarto, pressão alta, diabetes, ansiedade, depressão, câncer,
doenças neurodegenerativas, infertilidade e alergias, entre outras",
acredita o clínico geral.
A alimentação também adquire novo
status na medicina ecológica. Ela é um dos pilares da prática e vai muito além
de uma simples orientação para se tornar uma necessidade básica e fundamental.
"A medicina ecológica
valoriza muito a alimentação e a digestão. Afinal, ela é uma das principais
interações entre o organismo e o meio ambiente. Por isso, preocupa-se muito
mais com a qualidade dos alimentos e em ofertar uma alimentação mais rica e
farta em nutrientes essenciais. A proposta é cuidar muito da alimentação mesmo
no indivíduo saudável", explica Botsaris.
Para viver em conformidade com a
natureza e, consequentemente, em equilíbrio, o movimento prega, ainda, um
retorno a hábitos antigos. "É preciso viver o mais naturalmente possível,
evitar os exageros e se proteger dos excessos da tecnologia. Precisamos também
de contato com natureza e estimular menos o cérebro", indica o médico.
Fonte: Ana Sachs - UOL
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