RESÍDUOS - Um problema ou um recurso
O Brasil produz grandes
quantidades de resíduos: alimentares e de jardim, de construção e demolição, da
exploração mineira, da indústria, lamas de depuração, televisores velhos,
automóveis velhos, baterias e pilhas, sacos de plástico, papel, resíduos sanitários,
roupas e peças de mobiliário velhas... A lista não acaba aqui.
A quantidade de resíduos que
produzimos está estreitamente ligada aos nossos padrões de consumo e produção.
O número de produtos que entram no mercado coloca ainda outro desafio.
O amplo pacote de tipos de
resíduos e as complexas vias de tratamento dos mesmos (incluindo as ilegais)
dificultam a obtenção de uma visão completa dos resíduos produzidos e da sua
localização. Existem dados, ainda que de qualidade variável, sobre todos os
tipos de resíduos.
Quanto é
produzido de resíduos
O Brasil perde bilhões de reais
por ano ao não reciclar seu lixo.
Após evitar o desperdício e
praticar a reutilização dos materiais, o destino dos resíduos deveria ser a
reciclagem. Infelizmente a sociedade brasileira ainda tem muito a aprender, e o
fato é que os destinos do nosso lixo são variados.
Cada brasileiro produz de 600
gramas a 1 quilo de lixo por dia. Se este número for multiplicado pela
quantidade de pessoas que moram hoje no Brasil, os números são assustadores,
mais de 240 mil toneladas de lixo produzidas diariamente.
No rumo
certo
Reciclar mais e depositar menos
resíduos em aterros, esta deveria ser a ordem do dia.
Uma possível queda registrada na produção
de resíduos urbanos no Brasil poderá contribuir em certa medida para reduzir os
respectivos impactos ambientais. No entanto, embora a quantidade de resíduos
seja um aspeto importante, a forma como são geridos também tem um papel
fundamental.
Globalmente, na União Europeia,
são cada vez mais os resíduos que vão para reciclagem e cada vez menos os que
são enviados para aterros. No caso dos resíduos urbanos, a percentagem de
resíduos reciclados ou utilizados em compostagem na União Europeia aumentou de
31 % em 2004 para 41 % em 2012.
Apesar desses progressos, ainda
há grandes discrepâncias entre diversos países. Por exemplo, a Alemanha, a
Suécia e a Suíça enviam menos de 2 % dos seus resíduos urbanos para aterros,
enquanto a Croácia, a Letónia e Malta depositam em aterro mais de 90 %. A maioria
dos países com baixas taxas de deposição em aterro possui taxas elevadas de
reciclagem e incineração, correspondentes a mais de 30 % do total dos seus
resíduos urbanos.
E o Brasil porque não segue
certos exemplos, daria se no caso por ainda ser um país de grandes riquezas e
não se importar com o que joga fora? Seria falta de preocupação da população?
Falta de um programa educacional onde se ensinasse a importância desta
separação? O tempo mostrara o desperdício que o Brasil um país tão belo e rico
faz.
Poluição atmosférica,
alterações climáticas, contaminação dos solos e da água...
A má gestão dos resíduos
contribui para as alterações climáticas e a poluição atmosférica e afeta
diretamente muitos ecossistemas e espécies.
Os aterros, considerados como: o
último recurso da hierarquia de gestão dos resíduos, liberam metano, um gás que
contribui para o efeito estufa, muito poderoso que está associado às alterações
climáticas. O metano é gerado por microrganismos presentes nos aterros e
provenientes de resíduos biodegradáveis, como os resíduos alimentares, de papel
e de jardim. Dependendo da forma como estão construídos, os aterros também
podem contaminar o solo e a água.
Depois de recolhidos, os resíduos
são transportados e tratados. O processo de transporte libera dióxido de
carbono, gás também que contribui para o efeito estufa mais comum e substâncias
poluentes do ar, incluindo partículas, para a atmosfera.
Uma parte dos resíduos pode ser
incinerada ou reciclada. A energia proveniente dos resíduos pode ser utilizada
para produzir calor ou eletricidade, que pode substituir a energia produzida a
partir do carvão e outros combustíveis. Deste modo, a energia recuperada dos
resíduos pode contribuir para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
A reciclagem pode ajudar ainda
mais a diminuir as emissões de gases de efeito estufa e outras emissões. Quando
os materiais reciclados substituem os materiais novos, é possível extrair ou
produzir estes últimos em menor quantidade.
Os
resíduos afetam os ecossistemas e a nossa saúde
Alguns ecossistemas,
designadamente os marinhos e costeiros, podem ser gravemente afetados pela má
gestão dos resíduos ou pela produção de lixo. O lixo marinho constitui uma
preocupação crescente e não apenas por razões estéticas: muitas espécies marinhas
correm graves riscos de ficar enredadas nos detritos ou de os ingerirem.
Os resíduos também afetam o
ambiente de forma indireta. Todos os resíduos que não são reciclados ou
valorizados representam uma perda de matérias primas e outros fatores de produção
utilizados na cadeia, ou seja, nas fases de produção, transporte e consumo dos
produtos. Os impactos ambientais registrados na cadeia do ciclo de vida são
significativamente superiores aos que ocorrem apenas nas etapas relativas à
gestão dos resíduos.
Direta ou indiretamente, os
resíduos afetam de múltiplas formas a nossa saúde e o nosso bem-estar: o gás
metano contribui para as alterações climáticas, são liberadas substâncias
poluentes na atmosfera, as fontes de água doce são contaminadas, as culturas
crescem em solos contaminados e os peixes ingerem substâncias químicas tóxicas,
que depois acabam por vir parar ao nosso prato. Ou seja, todo um ciclo, onde
nós humanos, brasileiros ou de outra nacionalidade fazemos parte.
As atividades ilegais como a
deposição de resíduos em lixões, aterros controlados ou a sua incineração, também
têm bastante importância, mas é difícil estimar a dimensão total dessas
atividades e dos respectivos impactos. Pois muitas empresas ou até mesmo
prefeituras maquiam o que fazem para não serem multadas ou perder algum recurso
que recebam do governo, quando especificam sua má administração.
Prejuízos
econômicos e custos de gestão
Os resíduos também representam um prejuízo para a nossa economia e um
encargo para a sociedade. A mão-de-obra e outros fatores de produção (terra,
energia, etc.) utilizados nas fases de extração, produção, distribuição e
consumo também se perdem quando as "sobras" são deitadas fora.
Além disso, a gestão de resíduos custa dinheiro. É dispendioso criar uma
infraestrutura para os recolher, separar e reciclar, mas, uma vez estabelecida,
a reciclagem pode gerar receitas e criar emprego.
Os resíduos também têm uma dimensão mundial, relacionada com as nossas
exportações e importações. Aquilo que consumimos e produzimos, pode gerar
resíduos em outro lugar qualquer. E em alguns casos esses resíduos
transformam-se mesmo em mercadorias comercializadas, de forma legal ou ilegal.
Os
resíduos como recurso
E se pudéssemos utilizar os
resíduos como um recurso e diminuir assim a necessidade de extrair novos
recursos? A extração de menos materiais e a utilização dos recursos existentes
ajudaria a evitar alguns dos impactos criados ao longo da cadeia.
Transformar os resíduos em recurso
aproveitáveis deveria ser um dos principais objetivos do governo. Com este
objetivo os governos realçaria a necessidade de assegurar uma reciclagem de
alta qualidade, eliminar a deposição em aterros, limitar a valorização
energética aos materiais não recicláveis e erradicar as transferências ilegais
de resíduos.
E é possível alcançar estes
objetivos. Em muitos países, os resíduos de cozinha e de jardim constituem a
maior fração dos resíduos sólidos urbanos. Este tipo de resíduos, quando
recolhidos separadamente, pode ser transformado em fonte de energia ou em
adubo. A digestão anaeróbica é um método de tratamento de resíduos que envolvem
a submissão dos resíduos biológicos a um processo de decomposição biológica
semelhante à existente nos aterros, mas em condições controladas. A digestão
anaeróbica produz biogás e materiais residuais, que podem ser por sua vez
utilizados como adubo, à semelhança de produtos de compostagem.
Quando se tem uma melhor gestão
dos resíduos urbanos, os seus resultados são surpreendentes. Com uma melhor
gestão dos resíduos urbanos permitisse reduzir significativamente as emissões
de gases com efeito de estufa, o que pode ser atribuído principalmente à
diminuição das emissões de metano dos aterros e às emissões que a reciclagem
permitiu evitar.
Se cada país, não somente o
Brasil, mas cada país se empenhar e cumprir plenamente seus pactos e objetivos
com certeza teríamos condições de gerir melhor os resíduos que nós mesmos
produzimos e com isso pouparemos mais a natureza em geral, cortando o ciclo de
emissões de gases, o ciclo de apenas retirar da natureza o que precisamos e
aprender com isso a reaproveitar.
O combate
aos resíduos começa pela prevenção
Os potenciais benefícios são
imensos e podem facilitar a transição de qualquer país para uma economia
circular, em que nada é desperdiçado. A ascensão na hierarquia de gestão dos
resíduos proporciona benefícios ambientais, mesmo para os países com elevadas
taxas de reciclagem e valorização.
Infelizmente, os nossos atuais
sistemas de produção e consumo não oferecem muitos incentivos para prevenir e
reduzir os resíduos. Desde a aquisição e embalagem dos produtos até à escolha
dos materiais, toda a cadeia de valor necessita de ser primeiramente
reformulada tendo em conta a prevenção da produção de resíduos. Então as "sobras"
de um processo podem transformar-se em fatores de produção para outro.
A ascensão na hierarquia de
gestão dos resíduos exige um esforço conjunto de todas as partes interessadas:
consumidores, produtores, políticos, autoridades locais, todos sem exceção. Os
consumidores dispostos a separar os seus resíduos domésticos só podem reciclar
se a infraestrutura necessária para recolher os resíduos separados tiver sido
criada. O contrário também é verdade; os municípios só podem reciclar uma
percentagem crescente de resíduos se os agregados familiares procederem à sua
separação.
Em última análise, se os resíduos
são um problema ou um recurso depende inteiramente da forma como os gerirmos, da
forma como o governo dará atenção a este assunto, da forma como a sociedade
como um todo se comportar perante esta mudança. Está nas mãos de cada um de
nós.
Fonte: Luiz Henrique Lopes
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