Atropelamentos de animais
Quando se fala em ameaças à
biodiversidade brasileira, pouco se destaca os atropelamentos de animais
silvestres. Normalmente o foco está em perda de hábitat, o que não está errado
tal a dimensão desse problema causado pela expansão urbana e de áreas para agricultura
e pecuária.
Mas os atropelamentos de fauna
merecem mais atenção. De acordo com estimativa do coordenador do Centro
Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, Alex Bager (doutor em Ecologia
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professor na Universidade
Federal de Lavras), 475 milhões de animais silvestres morrem atropelados todos
os anos nas estradas e rodovias brasileiras. Sem dúvida, é uma das maiores
ameaças à biodiversidade!
Bager se baseou em taxas de
atropelamento de 14 artigos científicos publicados no Brasil, abrangendo nove
Estados. Os dados foram reunidos e extrapolados para toda a malha de estradas
do Brasil (1,7 milhão de quilômetros), considerando as diferenças entre elas
(de terra ou de asfalto e se era federal, estadual ou municipal, por exemplo).
“Ainda trabalhei com outros fatores de correção, pois sabemos que estradas com
maior fluxo de veículos têm mais atropelamentos. Também considerei o número de
veículos de cada estado em relação à extensão das rodovias”, explica o
pesquisador.
As principais vítimas são os
anfíbios, os répteis, as aves e os pequenos mamíferos, apesar de os casos
envolvendo os mamíferos de médio e grande porte (como onças, lobos-guarás e
tamanduás-bandeira) chamar a atenção por serem mais fáceis de visualizar e por
ser alvo de matérias da imprensa. Cachorros-do-mato, gambás, capivaras, tatus,
lagartos e algumas espécies de corujas quase sempre estão nos levantamentos
entre os mais atropelados.
Estradas e rodovias
inevitavelmente dividem os habitats dos animais silvestres. Mesmo em áreas onde
a vegetação nativa já não existe ou não predomina, como em localidades com
atividades agropecuárias, inúmeras espécies adaptadas ao ambiente modificado ou
atraídas por uma eventual oferta de alimentos acabam se deparando com as vias
de circulação de veículos. Para algumas, a novidade funciona como barreira e
ocorre o afastamento. Para outras tantas, essa barreira é apenas mais um
obstáculo para se chegar ao outro lado. Um obstáculo que pode ser fatal.
Infraestrutura inadequada e falta
de ações de conscientização dos motoristas são apontadas pelos especialistas
como as principais causas do massacre. Como é recente a preocupação com os
animais silvestres na construção de estradas, a maior parte da malha rodoviária
brasileira não está preparada para evitar os atropelamentos de fauna. Ainda é
raro encontrar placas informando a presença de animais silvestres ou
determinando a redução de velocidade por esse motivo, estruturas para travessia
(passagens inferiores e superiores, por exemplo), mata-burros, cercas para
evitar o acesso ou direcionadoras para um ponto e travessia, ampliação de
canteiro central e das áreas laterais ou a preocupação com a retirada de
carcaças para não atrair mais animais.
Desde 1986, com a Resolução CONAMA
nº 01, toda construção de estrada com duas ou mais faixas de rolamento deve ser
precedida de estudo de impacto ambiental para obter sua licença. Apesar da
legislação existente, o atropelamento de fauna não tem sido tratado com o rigor
que merece. “O licenciamento, tanto de rodovias em implantação quanto já
operantes, ainda é frágil nas exigências de informações sobre esse tema. E isso
ocorre tanto no tipo de informação requerida dos empreendedores quanto na
qualidade da mesma”, afirma o biólogo Andreas Kindel, professor da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e coautor do Conecte - Guia de Procedimentos para
Mitigação de Impactos de Rodovias sobre a Fauna. A obra é uma síntese do atual
conhecimento sobre os impactos na fauna e sobre como reduzir danos causados.
Apesar de preocupante, a situação
tende a melhorar. De acordo com o outro autor do Conecte, o biólogo e
coordenador do Núcleo de Licenciamento Ambiental do IBAMA do Rio Grande do Sul,
Mozart da Silva Lauxen, “o avanço da incorporação desse tema no processo de
licenciamento ambiental tem sido bastante rápido. Em cerca de uma década,
partimos praticamente da desconsideração do problema para a adoção de medidas
objetivas e fundamentadas tecnicamente”, salienta.
Em outubro de 2011, com a
Portaria Interministerial 423, envolvendo os ministérios do Meio Ambiente e dos
Transportes, foi criado o Programa de Rodovias Federais Ambientalmente
Sustentáveis para a regularização ambiental das rodovias federais que não
possuem licença ambiental. A iniciativa determina a realização de programas de
monitoramento de fauna com a consequente adaptação da via para evitar e reduzir
os atropelamentos.
Soluções
Mesmo sem haver uma única solução
aplicável para todas as situações em que é necessária a implantação de
estruturas para evitar atropelamentos de animais silvestres, uma ação é
consensual entre os especialistas: conscientizar os motoristas e as comunidades
próximas dos locais problemáticos. O que raramente é feito.
Para os motoristas, ter e seguir
orientações de redução de velocidade são fundamentais para evitar acidentes com
animais. “Um estudo na Austrália sugere que uma redução de 20% na velocidade
diminuiria em 50% a mortalidade. Essa é uma estratégia que pode ser adotada,
sobretudo, em rodovias de menor fluxo e em trechos próximos a áreas
especialmente sensíveis, como unidades de conservação”, salienta Kindel.
Deve-se salientar que as ações
para reduzir os atropelamentos devem ser compostas por variadas ferramentas
(sinalização, conscientização, passagens de fauna, cercas, etc.), pensadas e
estruturadas para cada caso.
Atropelamentos
em números
• 15 animais morrem atropelados a
cada segundo nas estradas e rodovias do Brasil.
• 1.260.000 animais morrem
atropelados por dia nas estradas e rodovias do Brasil.
• 475.000.000 de animais morrem
atropelados por ano nas estradas e rodovias do Brasil.
• 90% das mortes são de pequenos
vertebrados, como sapos, cobras e pequenas aves.
• 9% das mortes são de
vertebrados de médio porte, como gambás, lebres e macacos.
• 1% das mortes é de vertebrados
de grande porte, como onças-pardas, lobos-guarás, onças-pintadas, antas e
capivaras.
• Animais podem ser afetados a
mais de 1.000 metros da estrada ou rodovia.
• 1,7 milhão de quilômetros é a
extensão da malha viária brasileira.
• Mais de 257.000.000 de animais
morrem atropelados em estradas pavimentadas por ano no Brasil.
• Mais de 218.000.000 de animais
morrem atropelados em estradas não pavimentadas por ano no Brasil.
Como agir
Motorista - Respeite os limites
de velocidade e redobre sua atenção quando cruzar alguma área de natureza
preservada, principalmente unidades de conservação. Lembre-se que estudos
sugerem que uma redução de 20% na velocidade diminuiria em 50% a mortalidade de
animais por atropelamento.
Procure sempre ter em mãos os
números de telefone da Polícia Rodoviária (Federal ou Estadual, dependendo do
caso) e da concessionária que administra a estrada (quando for o caso). Eles
poderão ajuda-lo no caso de envolver-se em algum acidente com animais
silvestres e, no caso de encontrar algum bicho ferido ou morto, informe os
policiais ou algum funcionário da empresa que administra a via.
Para avisá-los, tenha os
seguintes dados:
• local exato do atropelamento ou
de onde o animal encontra-se;
• horário do fato; e
• se souber identificar, qual o
animal envolvido.
NÃO mexa no animal. Se o animal
estiver vivo e ferido, você pode piorar as lesões e o risco de ocorrer algum
ataque é grande. Se o animal estive morto, não se exponha a doenças.
Proprietário de sítio ou fazenda -
Evite abrir estradas. Se tiver de fazer, peça ajuda de profissionais para que a
nova via tenha um traçado que impacte o menos possível a fauna local.
Fonte: www.faunanews.com.br
Comentários
Postar um comentário