A agroecologia é a solução para a fome e a mudança climática
Para erradicar a fome e a mudança
climática, é importante saber que a agroecologia é a solução. Cientistas
especializados em mudança climática divulgaram sua mais recente advertência de
que a crise climática está piorando rapidamente em vários aspectos. Preveem que
a mudança climática afetará a produtividade agrícola, cuja consequência afetará
a segurança e a soberania alimentar de muitos países.
Nossos governos adotarão as
medidas urgentes e necessárias para abordar essas crises? Terão uma
oportunidade na próxima rodada de negociações da 20ª Conferência das Partes
(COP 20) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que
acontecerá em Lima, no Peru, entre 1º e 12 de dezembro 2014.
Camponeses como o salvadorenho
Adolfo são os principais produtores de alimentos hoje em dia. Precisamos deles,
e não da produção industrial, para alimentar o planeta no contexto da mudança
climática e da degradação generalizada dos recursos naturais. Em nosso planeta,
805 milhões de pessoas sofrem fome crônica e o sobrepeso e a obesidade, afetam
mais de dois bilhões de pessoas; 65% da população mundial vive em países onde o
sobrepeso e a obesidade matam mais pessoas do que a desnutrição.
Os que sofrem fome são
principalmente as pessoas pobres das zonas rurais nos países em
desenvolvimento, fundamentalmente produtores de pequena escala da África e
Ásia. Quase uma em cada nove pessoas vai dormir com fome todas as noites.
Não é o caso de Adolfo e sua
família, apesar de viverem em uma região que foi devastada pelos efeitos da
mudança climática e das inundações, o Vale Lempa, em El Salvador. Ele sabe por
experiência própria que a diversidade agrícola e a conservação em mãos
camponesas das sementes tradicionais são fundamentais para o sustento dos
produtores de pequena escala.
A enorme maioria dos governos de
todo o mundo ignorou os produtores de pequena escala durante décadas, afundando
milhões deles na pobreza. Entretanto, esses camponeses e camponesas continuam
sendo os que produzem a maior parte dos alimentos do mundo, utilizando
variedades tradicionais de sementes e sem recorrer a insumos industriais.
Na África, os camponeses cultivam
praticamente todos os alimentos consumidos localmente. Na América Latina, 60%
da produção, incluída a carne, é produzida em pequenas propriedades familiares.
Na Ásia, centro mundial da produção de arroz, praticamente todo o arroz é
cultivado em áreas inferiores a dois hectares.
Mesmo assim o agronegócio e
alguns governos promovem fortemente a agricultura industrial (baseada em monoculturas,
sementes híbridas e pesticidas e fertilizantes químicos) como a melhor forma de
alimentar o planeta. Além disso, a agricultura industrial é uma das maiores
contribuintes para a mudança climática, devido ao seu alto consumo de
combustíveis fósseis, pesticidas e fertilizantes e por seus impactos sobre
solos, águas e biodiversidade.
E existe suficiente evidência de
que essa indústria está destruindo os recursos dos quais dependemos para
produzir nossos alimentos. Porém, os promotores da agricultura industrial fazem
caso omisso de seus impactos ambientais. Conhecendo o grande desafio que
representa a mudança climática, já que poderia reduzir consideravelmente a
produtividade agrícola, especialmente nos países em desenvolvimento, outros são
os caminhos que se deveria fomentar.
Por outro lado, os defensores da
agricultura industrial a justificam dizendo que, devido à crescente população
mundial, será necessário produzir mais alimentos e para isso é preciso aumentar
o rendimento. Mas sabemos que produzir mais alimentos e aumentar o rendimento
não são os únicos desafios. De fato, já produzimos alimentos suficientes para
alimentar nossa população atual e futura.
O problema não é a falta de
alimentos, mas sua distribuição desigual. O acesso aos alimentos está definido
pela riqueza e pelo lucro, em lugar da necessidade. Promove-se o livre comércio
acima do direito à alimentação. Em consequência, metade dos grãos do mundo é
usada para alimentar animais criados em estabelecimentos industriais e uma
proporção importante de cultivos alimentares básicos se converte em
agrocombustíveis para carros. Assim, as pessoas famintas ficam sem alimentos
para dá-los aos consumidores ricos.
Para erradicar a fome é
imprescindível aumentar a renda dos setores empobrecidos e contribuir para que
os produtores de alimentos em pequena escala possam manter seu modo de vida,
para se alimentarem e alimentarem o mundo de forma sustentável.
Porém, a saída estrutural para a
fome e a pobreza será encontrada com a construção da soberania alimentar dos
povos. Isto é, “o direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente
adequados, produzidos de forma sustentável e ecológica, e seu direito a decidir
seu próprio sistema alimentar e produtivo”, resume a Declaração de Nyéléni com
a qual foi encerrado o Fórum Mundial pela Soberania Alimentar, realizado em
Mali em 2007.
Para isso é imprescindível: que o
controle dos sistemas e políticas agroalimentares recaia sobre os que produzem,
distribuem e consomem alimentos, em lugar dos mercados e das corporações;
priorizar as economias e os mercados locais e nacionais; fomentar a sustentabilidade
ambiental, social e econômica da produção, distribuição e consumo, e garantir o
direito dos produtores de alimentos à gestão da terra, das águas, das sementes
e da biodiversidade em geral.
“A soberania alimentar supõe
novas relações sociais, livres de opressão e desigualdades entre homens e
mulheres, povos, grupos raciais, classes sociais e gerações”, destaca também a
Declaração de Nyéléni. A soberania alimentar inclui o direito à segurança
alimentar. Mas um país que se centra apenas em conseguir a segurança alimentar
não distingue de onde provêm os alimentos nem as condições nas quais se produz
e distribui.
Os objetivos nacionais de
segurança alimentar frequentemente são conseguidos mediante a produção de
alimentos em condições de destruição do ambiente e de exploração social que
destroem os produtores locais, enquanto beneficiam as empresas do agronegócio.
Nos últimos anos, vários
organismos das Nações Unidas reconheceram que a agroecologia é a forma mais
eficaz para combater as crises alimentar, ambiental e de pobreza. Uma análise
da agroecologia, realizado em 2011, deixou evidente que tem o potencial de
duplicar a produção de alimentos em dez anos.
Para enfrentar esse desafio,
surgiu o movimento pela “soberania alimentar”, que conta com apoio de mais de
300 milhões de homens e mulheres, produtores de alimentos em pequena escala,
consumidores e ativistas pela justiça ambiental e pelos direitos humanos, entre
outros.
O poder das empresas de sementes
e pesticidas como a Monsanto e a Syngenta, de supermercados gigantes como o
Wal-Mart, e de empresas produtoras de grãos como a Cargill cresceu tanto que
exercem muito influência nas políticas agroalimentares nacionais e globais.
Isso assegura que o agronegócio receba milhares de milhões de dólares em
subvenções e apoio normativo.
Acabar com a fome no mundo está
ao nosso alcance, mas é preciso uma transformação fundamental do sistema
agroalimentar mundial: uma mudança radical da agricultura industrial para a
agroecologia e a soberania alimentar.
Essa transformação, sem dúvida,
teria repercussões muito positivas na crise climática: menos agricultura
industrial e mais produção agroecológica equivalem a menos emissões de carbono,
algo fundamental para nos proteger da mudança climática.
Adolfo e milhões de produtores
como ele estão na linha de frente dessa transformação e os líderes mundiais
devem lhes dar muito mais apoio – em nível de Nações Unidas –, bem como nos
planos nacional e local, se pretendem seriamente solucionar a crise alimentar e
climática.
Fonte: www.canal411.com
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