A Educação Ambiental


A educação ambiental (EA), como educação política está comprometida com a ampliação da cidadania, da liberdade, da autonomia e da intervenção direta dos cidadãos e das cidadãs na busca de soluções e alternativas que permitam a convivência digna e voltada para o bem comum. Ela visa formar e preparar cidadãos para a reflexão crítica e para uma ação social corretiva ou transformadora do sistema, de forma a tornar viável o desenvolvimento integral dos seres humanos.

O grande foco e objetivo da educação ambiental é desconstruir a noção antropocêntrica e ampliar a relação harmônica entre homem – ser, sociedade e meio ambiente.

Essa aprendizagem por meio da participação ativa é um dos elementos chave da Pedagogia de Projetos, pois permite à vivência de desafios, a reflexão e a tomada de decisões, na maioria das vezes, coletiva, frente aos fatos e questionamentos reais de cada ambiente e comunidade de aprendizagem.

Esse processo facilita sua formação como pessoa consciente de seu papel como construtor da sua história, da história da sua comunidade e do seu país.  Todo projeto que tem como pressuposto básico a mudança de atitude, requer um processo educacional. A educação ambiental apresenta-se como o método mais condizente e eficaz para atingir os objetivos propostos.

Trata-se de aprender a ter outro olhar sobre o ambiente e sobre as maneiras de com ele se relacionar. Compreende a criação de um novo modelo de gestão da vida das pessoas. Os prin­cípios que subsidiam um processo de educação ambiental, tais como: o respeito à diversidade, o exercício da cidadania ativa, a horizontalidade nas tomadas de decisão, o trabalho em rede, a formação de parcerias, a co-responsabilidade e a cooperação, entre outros, precisam ser inter­nalizados para que possam permear as atitudes cotidianas dos envolvidos.

Claro que a educação ambiental por si só não resolverá os complexos problemas ambientais planetários. No entanto, ela pode influir decisivamente para isso, quando forma cidadãos e cidadãs conscientes dos seus direitos e deveres. Tendo consciência e conhecimento da problemática global e atuando na sua comunidade e vice-versa haverá uma mudança na vida cotidiana que, se não é de resultados imediatos, visíveis, também não será sem efeitos concretos.

Assim sendo, seguimos com otimismo e entusiasmo de maneira a pensar globalmente e agir de forma positiva localmente!

Histórico da Educação Ambiental

A educação ambiental surgiu devido a uma série de eventos que marcaram a humanidade. De acordo com as evoluções tecnológicas, as mudanças de hábitos, costumes e comportamentos, a sociedade humana passou a contribuir drasticamente com a interferência do meio ambiente, provocando desastres e desequilíbrios em sua morada.

1779 - O escocês Patrick Guedes, considerado o “pai da educação ambiental”, já expressava a sua preocupação com os efeitos da revolução industrial, iniciada em 1779, na Inglaterra, pelo desencadeamento do processo de urbanização e suas consequências para o ambiente natural.  Após um longo período, no início de 1945, a expressão “estudos ambientais” começava a ser utilizada por profissionais de ensino na Grã-Bretanha. Quatro anos depois, a temática ambiental passou a ocupar o Country Sand Almanac, nos Estados Unidos, onde se manifestava os artigos de Aldo Leopoldo refletindo sobre a ética da terra.

1946 - Após a segunda Guerra Mundial, o modelo social e econômico agravou ainda mais os problemas ambientais passando a explorar de maneira predatória os recursos naturais para atender às demandas nos processos produtivos, cada vez mais eficientes tecnologicamente.

1960 - Na década de 1960 a educação ambiental ainda não estava bem definida e orientada, no entanto, naturalistas, jornalistas, escritores e estadistas já escreviam sobre a necessidade em se proteger os recursos naturais e a importância em se manter contato com a natureza para a formação humana. A EA era definida como um processo que deveria objetivar a formação de cidadãos, cujos conhecimentos acerca do ambiente biofísico e seus problemas associados pudessem alertá-los e habitá-los a resolver seus problemas.

1970 - A IUCN – International Union for the Conservation of Nature na década de 1970 definiu EA como um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, voltado para o desenvolvimento de habilidades e atitudes necessárias à compreensão e apreciação das inter-relações entre o homem, sua cultura e seu entorno biofísico.

1972 - Em 1972, na Suécia, a Organização das Nações Unidas promoveu a “1ª Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano”, ou Conferência de Estocolmo, evento que reuniu representantes de 113 países com o objetivo de estabelecer uma visão global e princípios comuns que servissem de inspiração e orientação à humanidade e sua preservação. A Conferência deu origem a “Declaração sobre o Ambiente Humano”, estabeleceu um “Plano de Ação Mundial” e, em particular, recomendou que deveria ser estabelecido um Programa Internacional de Educação Ambiental.

1975 - Em resposta às recomendações da Conferência de Estocolmo, no ano de 1975, a UNESCO promoveu em Belgrado, ex-Iugoslávia, o Encontro Internacional sobre Educação Ambiental, unindo especialistas de 65 países. Neste seminário foram formulados objetivos específicos para os trabalhos desta área, a saber:
*A conscientização e sensibilização de indivíduos e grupos em relação ao meio ambiente e seus problemas associados;
*A aquisição [construção] de conhecimentos básicos relativos ao meio ambiente, seus problemas associados, bem como a respeito da presença responsável da humanidade e seu papel nesse contexto;
*A formação de atitudes positivas em relação a proteção e melhoria do meio ambiente. Para tal, deverão ser desenvolvidos valores sociais, senso de responsabilidade e motivação para uma participação ativa;
*O desenvolvimento de habilidades para a resolução de problemas ambientais;
*A participação dos indivíduos e grupos na resolução dos problemas ambientais;
*O desenvolvimento da capacidade de avaliação a respeito das providencias relativas ao meio ambiente e aos programas educativos quanto a fatores ecológicos, políticos, econômicos, sociais, estéticos e educacionais.

1977 - Em 1977, foi realizada a “Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental”, conhecida como Conferência de Tbilisi. Este encontro reuniu especialistas de todo o mundo para apreciar, propor e discutir sobre os princípios, os objetivos, as características e finalidades, formulando recomendações e estratégias pertinentes a promoção da EA em nível global. No documento final desta mesma Conferência foram propostos diversos objetivos para a educação ambiental.
*Adquirir consciência e sensibilização pelas questões do meio ambiente global;
*Vivenciar diversidades de experiências e compreender o meio ambiente e seus problemas;
*Adquirir valores sociais, profundo interesse pelo ambiente e vontade de participar ativamente em sua melhoria e proteção;
*Desenvolver aptidões necessárias para resolver os problemas ambientais;
*Proporcionar aos grupos sociais e aos indivíduos a possibilidade de participar ativamente nas tarefas de solução dos problemas ambientais.
Definiram-se também algumas características da educação ambiental:
*Deve permitir que o ser humano compreenda a natureza complexa do meio ambiente, resultante das interações de seus aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais; deve facilitar os meios de interpretação da interdependência desses diversos elementos no espaço e no tempo, a fim de promover uma utilização mais reflexiva e prudente dos recursos naturais para satisfazer às necessidades da humanidade;
*Deve mostrar com toda clareza as interdependências econômicas, políticas e ecológicas do mundo moderno, no qual as decisões e o comportamento de todos os países podem ter consequências de alcance internacional;
*Não pode ser uma nova disciplina; há de ser uma contribuição de diversas disciplinas e experimentos educativos ao conhecimento e à compreensão do meio ambiente, assim como à resolução de seus problemas e à sua gestão; sem o enfoque interdisciplinar não será possível estudar as inter-relações, nem abrir o mundo da educação à comunidade, incitando seus membros à ação.

1987 - No ano de 1987 foi realizado o “Congresso Internacional sobre a Educação e Formação Relativas ao Meio Ambiente”, em Moscou (URSS), evento também promovido pela UNESCO-PNUMA. O referido encontro contou com a presença de 300 especialistas de 94 países, entre eles o Brasil, observadores da UICN e de outras organizações internacionais. Dele resultou um documento denominado Estratégia Internacional de Ação em Matéria de Educação e Formação Ambiental para o Decênio de 1990.

1992 - Em 1992, no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, foi realizada a “Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento”, também conhecida como Rio-92, promovida e patrocinada pela ONU – Organizações das Nações Unidas. Esse evento resultou na aprovação da “Agenda 21”, documento que consagra os mais elevados princípios de defesa do bem mais importante que o homem tem a seu dispor, a Terra.
A Agenda 21, como amplamente difundido, é um documento elaborado e aprovado que contém um programa de alcance mundial para estabelecer determinadas diretrizes no processo de crescimento econômico e desenvolvimento social, fundamentados nos princípios da sustentabilidade. Por meio dessa importante agenda, foi prefigurada, uma política para a mudança global que busca dissolver as contradições entre o meio ambiente e o desenvolvimento.
A Agenda 21 está estruturada por áreas de programas apresentadas em quatro seções:
I Seção – Dimensões sociais e econômicas.
II Seção – Conservação e gerenciamento dos recursos para desenvolvimento.
III Seção – Fortalecimento do papel dos grupos principais.
IV Seção – Meios de implementação.
Nesta Conferência o Grupo de Trabalho das Organizações não Governamentais elaborou o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, que confirma entre outros princípios:
*A Educação Ambiental não é neutra, mas ideológica; é um ato político;
*A Educação Ambiental deve envolver uma perspectiva holística enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar;
*A Educação Ambiental deve tratar das questões globais críticas, suas causas e inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e histórico, em seus aspectos primordiais relacionados com o desenvolvimento e o meio ambiente, tais como; crescimento populacional, paz, democracia, direitos humanos, fome, degradação da flora e da fauna;
*A Educação Ambiental deve promover a cooperação e o diálogo entre indivíduos e instituições, com a finalidade de criar novos modos de vida e atender às necessidades básicas de todos, sem distinções étnicas, físicas, de gênero, idade, religião ou classe social.

2009 - Em 2009, a COP 15 – “15ª Conferência das Partes”, objetivada pela UNFCCC – Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada em Copenhague (Dinamarca), não apresentou a EA como papel fundamental, menos ainda, foi alvo de debates. As negociações basearam-se apenas em soluções técnicas para a redução da emissão dos Gases causadores de Efeito Estufa (GEE), com a criação de mecanismos financeiros, como o REDD, e o desenvolvimento e transferência de tecnologia para mitigação e adaptação as mudanças climáticas.

Assim sendo, a EA tem como finalidade promover a compreensão da existência e da importância da interdependência econômica, política, social e ecológica da sociedade. Ela busca proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar a qualidade ambiental; induzir novas formas de conduta nos indivíduos e, consequentemente, na sociedade, tornando-a apta a agir em busca de soluções viáveis e alternativas para os seus problemas, como forma de elevação da sua qualidade de vida.



Fonte: www.oghamconsultoriaambiental.blogspot.com

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