ETNOBOTÂNICA


A etnobotânica está inserida no contexto de etnobiologia, que incluem as ações da ciência num contexto de multidisciplinaridade acadêmica a fim de gerar retorno às comunidades de onde surgiu o conhecimento vivenciado sobre determinada particularidade. A etnobotânica é o estudo das relações entre povos e plantas, considerando o seu manejo, percepção e classificação deste recurso vegetal para as diferentes sociedades.  
O termo Etnobotânica foi cunhado em 1895 pelo botânico taxonomista John W. Harshberger, da Pennsylvania University (Davis, 1995). Segundo Schultes (Schultes, 1995), a etnobotânica é uma disciplina muito antiga, visto que o conhecimento sobre plantas úteis remonta `a própria existência da humanidade. Tanto o homem quanto a mulher primitivos devem, por necessidade, ter desempenhado um papel muito semelhante ao do etnobotânico, classificando plantas úteis seja para alimentação quanto para o alívio de doenças e enfermidades, aquelas psicoativas e, inclusive, aquelas que, se ingeridas, poderiam matar alguém.
Em praticamente toda cultura e, provavelmente, desde há muito tempo, existiram homens e mulheres com conhecimento sobre a propriedade das plantas. Esses indivíduos geralmente alcançavam patamares diferenciados nessas sociedades. Inicialmente entendida como o uso das plantas por aborígenes, a etnobotânica, a partir de meados do século XX, passou a ser definida como o estudo das interrelações entre povos primitivos e plantas. Essa definição se contrapõem ao termo "Botânica Econômica", frequentemente utilizado para indicar o estudo de plantas utilizadas por sociedades com sistemas agroindustriais avançados, além de trazer embutido um forte preconceito cultural e social.
Dentro da etnobotânica, a exploração científica interdisciplinar dos agentes biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelas sociedades, utilizando plantas como remédio é definido por etnofarmacologia.
O estudo de etnofarmacologia combina informações adquiridas das comunidades locais que fazem uso da flora medicinal com estudos químicos e farmacológicos realizados em laboratórios. A escolha das espécies medicinais a serem pesquisadas baseadas nas informações da população quanto à utilização das espécies para determinada patologia constitui um atalho importante para o descobrimento de novos fármacos.
A Etnofarmacologia é uma disciplina multidisciplinar e interdisciplinar que requer a interação e a cooperação entre profissionais de diferentes áreas de conhecimento.
Geralmente, o método etnofarmacológico tem os seguintes passos:
Coleta e análise de dados etnofarmacológicos; Identificação botânica da espécie estudada, incluindo depósito de um material-testemunha em herbário; Pesquisa bibliográfica em bancos de dados de química e biologia e principalmente de plantas medicinais (ex. Chemical Abstracts, Biological Abstracts); Análise química preliminar a fim de detectar os principais constituintes químicos presentes na parte da planta estudada; Estudo farmacológico preliminar em modelos experimentais relevantes relacionados aos sugeridos pela população; Fracionamento químico por métodos diversos, como cromatografia e diferença de solubilidade aliados ao uso de técnicas analíticas, como cromatografia líquida de alta eficiência ou reações específicas; Estudo farmacológico e toxicológico das frações padronizadas e/ou compostos isolados; Estudo de formulações farmacêuticas a serem comercializadas e estudos pré-clínicos; Elucidação estrutural das substâncias ativas isoladas para orientar a farmacotécnica e o controle de qualidade químico e biológico e propor derivados semissintéticos e estudo farmacológico.
O estudo etnofarmacológico deve estar fundamentado em resgatar o saber popular por meio do conhecimento gerado, no respeito às diferenças culturais e ações que garantam o retorno desse conhecimento para a população, não resultando em mais um material científico nas prateleiras e livrarias.
Amazônia e a Etnobotânica
A Amazônia é um hotspot de biodiversidade a partir do qual a medicina moderna tem muito a aprender. Além da infinidade de compostos terapêuticos aguardam descoberta, as comunidades indígenas que vivem na Amazônia têm uma riqueza de medicina tradicional para compartilhar. Mas como é que a moderna indústria farmacêutica realizar este grande desafio?
As plantas representam um reservatório praticamente intocado da novela medicinal. Em média, leva-se de 10 a 15 anos para que uma única droga para se tornar viável clinicamente. Entre 5.000 a 10.000 compostos são selecionados antes de uma única droga chega ao mercado. Dos medicamentos desenvolvidos com sucesso, cerca de 60% tem uma origem natural, quer como entidades farmacêuticas modificados ou não modificados, ou como um modelo para drogas sintéticas.
Surpreendentemente, estima-se que apenas 5-15% dos cerca de 250.000 a 750.000 espécies de plantas superiores foram sistematicamente selecionados para compostos bioativos. Mais estudos para desenvolver mais medicamentos de origem natural têm sido limitados devido à sua complexidade estrutural, alto custo de extração, e aparente falta de atividade farmacológica. No entanto, a aplicação dos conceitos de farmacologia reversa do uso tradicional para o laboratórios, pode ajudar a padronizar a exibição de extratos de plantas e identificar efetivamente compostos bioativos potenciais.
As formas tradicionais de tratamento medicamentoso são usados hoje por uma grande porcentagem da população mundial, especialmente nos países em desenvolvimento. A medicina tradicional é importante em países centro e sul-americanos, onde os sistemas nacionais de saúde são limitados e a situação econômica difícil impede o acesso à medicina padrão para a maioria da população.
Em particular, normalizado e acessível fitoterapia podem ser úteis no tratamento e controle de inúmeros problemas de saúde, como uma alternativa terapêutica em áreas remotas e países de situação de extrema pobreza. Além disso, o conhecimento da medicina tradicional pode ajudar a identificar novos compostos químicos para adicionar ao desenvolvimento destas novas ou antigas drogas.
O impacto da medicina tradicional não está limitado a países em desenvolvimento. De fato, algumas áreas da América do Norte com grandes populações de latinos ou americanos nativos, ou em regiões próximas à fronteira com o México, mantém algumas dessas tradições.
Equador e a contribuição em relação a Etnobotânica
Localizado na zona de transição Andes-Amazônia tropical, Equador é considerado um dos países com a maior biodiversidade do mundo, um dos cinco "megadiverso hotspots". Aproximadamente 30% de sua população pertence a diferentes grupos indígenas ainda praticam e que dependem das medicina  tradicional. No entanto, a investigação na área da etnobotânica no Equador é escassa. Apresentar qualquer prova farmacológica para apoiar o uso etnobotânico de plantas são praticamente inexistentes. Assim, o potencial para a descoberta e desenvolvimento de fármacos no Equador é substancial e requer estratégias de farmacologia sistemas bem desenhados. Métodos farmacológicos são necessários para elucidar a farmacologia clínica de medicamentos botânicos. Isso significa usar técnicas matemáticas e estatísticas robustas para estudar a origem, função, cinética e toxicologia de medicamentos candidatos.
Muitos dos agentes atuais usadas para tratar a malária, tuberculose e HIV foram desenvolvidos antes de modernos métodos de descoberta de drogas. Além disso, a terapia de combinação é utilizado rotineiramente em muitas áreas de doenças infecciosas para prevenir a resistência para tratamento.
Pesquisa etnobotânica que se baseia em técnicas farmacológicas, vai contribuir para a nossa compreensão das questões de saúde pública e global e desempenhar um papel no desenvolvimento econômico e científico dos países latino-americanos, contribuindo para a preservação do conhecimento cultural e diversidade biológica.
Estudos etnobotânicos de registro de plantas, seus usos e formas terapêuticas (plantas medicinais) por grupos humanos têm oferecido a base para diversos estudos básicos e aplicados, especialmente no campo da fitoquímica e farmacologia, inclusive como ferramenta para o descobrimento de novas drogas. Nesse contexto insere-se a Etnofarmacologia, como um ramo da Etnobiologia/Etnobotânica que trata das práticas médicas, especialmente remédios, usados em sistemas tradicionais de medicina. A definição mais aceita da etnofarmacologia é "a exploração científica multidisciplinar dos agentes biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelo homem". Uma parte significativa do que hoje se utiliza terapeuticamente partiu de informações obtidas de comunidades tradicionais que se utilizam de produtos naturais em suas práticas de sobrevivência e manejo do meio ambiente. Atualmente no mundo existem 119 substâncias obtidas de 90 espécies de plantas diferentes que são usadas como fármacos. Coincidentemente, 77% dessas drogas foram obtidas como resultado de estudo etnomédico e, ainda, são usados de forma bastante semelhante ao uso original relatado.
Dessa forma, e pelo exposto acima, fica evidente a importância dessas metodologias científicas na busca de novas substâncias bioativas em plantas e a preservação do todo Meio Ambiente e as diversas áreas biodiversas ainda existentes em nosso planeta. 

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