Ameaça silenciosa aos polinizadores
Polinizadores como abelhas,
borboletas, mariposas, besouros, aves e morcegos garantem a produção de um
terço dos cultivos mundiais e a reprodução de plantas em ecossistemas inteiros,
como as florestas tropicais. Sem polinizadores, a maioria das plantas nativas e
das cultivadas que consumimos não sobreviveria. Entretanto, o número de
polinizadores está declinando em todo o mundo e seu declínio implica em uma
ameaça à manutenção da biodiversidade e à saúde e alimentação humana.
As principais causas desse declínio
são o uso indiscriminado de pesticidas e herbicidas, a existência de espécies
invasoras, a perda e fragmentação de ambientes naturais e a degradação
ambiental (quando habitats perdem sua qualidade). Esses fatores reduzem tanto o
número de espécies de plantas com flor, que são fontes de alimento para os
polinizadores, quanto o número de locais disponíveis para reprodução, abrigo e
migração dos polinizadores. Mas, há pouco, uma ameaça silenciosa começou a ser
observada: as mudanças climáticas.
Em um estudo recente publicado na
revista científica PLoS ONE mostramos que as mudanças climáticas deverão
diminuir em muito os locais adequados para a sobrevivência de mariposas, um dos
grupos de polinizadores mais diverso e importante para a manutenção dos ecossistemas
naturais. Pior ainda, nem as Unidades de Conservação serão capazes de conter
essa redução. Locais que satisfaziam as necessidades dos polinizadores começam
a se tornar inabitáveis à medida que a temperatura aumenta ou varia muito, as
chuvas tornam-se imprevisíveis e a vegetação muda.
Mude ou
extinga-se
Na tentativa de acompanhar essas
mudanças, as espécies podem fazer uma dessas três coisas: em primeiro lugar,
elas podem migrar para outro local que tenha as condições adequadas para sua
sobrevivência. Mas isso só é possível caso esse local exista e esteja dentro do
alcance dos indivíduos. Porém, hoje, com o ambiente alterado, essa tarefa pode
ser bem complicada. Imagine-se uma pequena borboleta, tendo que cruzar um
"mar" de 10 km de plantação de soja ou cana-de-açúcar até encontrar
abrigo em uma matinha ou floresta. Cansou? Pois é, eu também.
Além disso, elas podem se adaptar
localmente. Isso é bem mais fácil de dizer do que fazer. A adaptação é um
processo complexo que envolve desde a variabilidade genética encontrada na
espécie até a mudança de seus padrões comportamentais. Há pesquisas sobre
adaptação de espécies às mudanças climáticas, mas elas ainda são feitas para
poucos organismos e os cientistas não conseguem extrapolar seus resultados para
todas as espécies.
Finalmente, elas podem se
extinguir. Ok, isso não é bem uma opção. Nenhuma espécie opta por desaparecer.
Tudo isso acontece com os
polinizadores. O que a maioria das pessoas não entende é que a perda de
polinizadores implica em uma perda econômica na agricultura, silvicultura e em
um desequilíbrio na natureza.
Diversos estudos já mostraram a
importância de se manter porções de habitat nativo dentro de propriedades
particulares para garantir e inclusive aumentar a produção agrícola. Antes de
tudo, o cumprimento da legislação ambiental sobre a proteção da vegetação
nativa é uma questão de segurança alimentar (e hídrica), já que a maioria dos
polinizadores, que garante e aumenta nossa produção de alimentos, vive em
ambientes remanescentes como as reservas legais, áreas de proteção permanente e
Unidades de Conservação.
Mas pelo menos dentro das
Unidades de Conservação os polinizadores estão protegidos, certo? Errado.
Perigo
maior na Mata Atlântica
Nossos estudos na Mata Atlântica
mostram que em 2080, a maioria das Unidades de Conservação da Mata Atlântica
não terá um clima adequado para mariposas, por exemplo. Cerca de 4% desses
polinizadores (20 das 507 espécies estudadas) deverão ser extintos na Mata
Atlântica e muitos deles só ocorrem nesse bioma. De fato, apenas algumas poucas
UCs ao sul da Mata Atlântica, em locais altos e mais frios, serão capazes de
manter condições ótimas para esses animais. Neste bioma a perda de
polinizadores é particularmente crítica, uma vez que ele possui 8.000 espécies
de plantas que só ocorrem ali e que 95% da produção de sementes por plantas
depende dos polinizadores. Isso sem mencionar que o que resta da Mata Atlântica
(só resta cerca de 11% deste bioma) provê água às cidades ao longo do litoral
brasileiro e sustenta inúmeras comunidades rurais cuja subsistência depende da
conservação dos recursos da floresta.
Mas nem tudo está perdido.
Ecólogos e cientistas da conservação têm concentrado esforços para entender
melhor como espécies respondem às mudanças climáticas. Esse entendimento pode
guiar e antecipar a tomada de decisão para conservação de polinizadores. Melhor
ainda, ele permite que mais informação biológica seja incluída em estudos que
estimam perdas econômicas advindas da extinção de polinizadores, tanto em áreas
cultivadas como em ambientes protegidos, como nos Parques Nacionais.
Em outro estudo recente, a ser
publicado na revista Oikos, pesquisadores norte-americanos investigaram como
borboletas escolhiam onde colocar seus ovos nas plantas em função da
temperatura do ambiente. Por meio de observações feitas em campo, eles chegaram
à conclusão de que as borboletas colocam seus ovos próximos ao chão quando
estão em locais mais quentes, e na parte mais alta das plantas quando estão em
locais mais frios, como no alto de montanhas. Ovos colocados a menos de 50 cm
do chão são, em média, 3°C mais frios que aqueles colocados à 1metro do chão.
Assim, as borboletas estudadas minimizam os efeitos do aquecimento local e
interferem no local onde os ovos serão depositados por meio de uma alteração em
seu comportamento. Isso nos dá pistas de que há espécies que poderão ser
capazes de minimizar os efeitos de um aquecimento generalizado, pelo menos nos
locais onde vivem.
Com tudo isso, espera-se que
cientistas, ONGs, governo e atores locais reúnam-se e definam políticas
públicas que visem à conservação de polinizadores dentro e fora de Unidades de
Conservação. Isso já acontece no Brasil dentro da Iniciativa Brasileira de
Polinizadores, uma ação que integra um projeto sobre conservação e uso
sustentável de polinizadores liderado pela Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO).
Ajude
também
Para quem quer se envolver com a
questão, há inúmeras iniciativas para prevenir a extinção de polinizadores.
Para o cidadão, essas iniciativas vão desde o cultivo de jardins nas cidades,
com plantas nativas que atraem diferentes polinizadores como abelhas nativas,
mariposas, borboletas e aves, até a construção de pequenos hotéis para insetos,
passando pela participação em eventos sobre polinização. Você pode se inscrever
do XI Curso Internacional de Polinização, que acontece de 8 a 20 de dezembro de
2014. Há também um livro publicado no ano passado com o qual você pode aprender
mais sobre a importância da polinização e dos polinizadores para a nossa saúde
e a dos ecossistemas.
Se você é um pesquisador ou
estudante da área, pode contribuir bastante divulgando resultados de suas
pesquisas para o público geral por meio das redes sociais, blogs e da imprensa.
Se é um gestor de Unidade de Conservação pode identificar se polinizadores na
área sob sua supervisão será impactada por mudanças climáticas e estimular
ações de restauração da vegetação nativa, além de fomentar programas de
educação ambiental voltados para comunidades locais e visitantes.
Se é um agente do governo, pode
levantar a questão em fóruns apropriados e impulsionar a discussão e
implementação de estratégias de ação nas instâncias competentes por meio de
oficinas, reuniões e comissões.
Como você vê, há várias
oportunidades de se envolver com o assunto e ajudar no problema. Vamos agir
agora para que os polinizadores fiquem a salvo antes que seja tarde demais para
eles e para nós mesmos.
Fonte: www.oeco.org.br
Comentários
Postar um comentário