Aquífero Alter do Chão
Quando o assunto é água
subterrânea, logo nos lembramos do aquífero Guarani, que até então era a maior
reserva de água doce do planeta. Ao que tange a sua localização, encontra-se na
América do Sul, abrange partes dos seguintes países: Brasil, Argentina, Uruguai
e Paraguai. Com finalidades diversas, como por exemplo, o abastecimento
público, da agropecuária e indústria.
Atualmente surge no cenário
hídrico o aquífero Alter do Chão, localiza-se inteiramente no Brasil, na Região
Norte, especificadamente nos estados do Amazonas, Pará, Amapá. Segundo alguns
pesquisadores é o maior aquífero em volume de água do mundo.
Uma enorme dimensão física
formada por fauna, flora, rios e diversos ecossistemas, componentes
fundamentais de manutenção do equilíbrio dinâmico da Terra e de relevância
estratégica para toda a humanidade: não é de hoje que a região amazônica atrai
olhares do mundo inteiro. A biodiversidade da maior floresta tropical do
planeta é tida como uma fonte inestimável de possibilidades econômicas à espera
de estudos e descobertas. E é nesse cenário que se localiza o Aquífero Alter do
Chão, uma reserva com cerca de 86,4 quatrilhões de litros de água subterrânea,
suficiente para abastecer a população mundial em cerca de 100 vezes.
É isso mesmo: 86,4 quatrilhões de
litros de água potável, localizados em uma formação geológica sob os Estados do
Amazonas, Pará e Amapá. Esse número impressionante foi obtido com base em
pesquisas realizadas pelo professor André Montenegro Duarte, do Instituto de
Tecnologia, da Universidade Federal do Pará, como resultado da sua tese de
Doutorado em Geociências, que investigou a potencialidade das águas na
Amazônia. A tese, orientada pelo professor Francisco Matos de Abreu, do
Instituto de Geociências da UFPA, indicou números preliminares, os quais ainda
necessitam de confirmação.
O Grupo de Pesquisa em Recursos
Hídricos, integrado por André Montenegro, Francisco Matos e ainda pelos
pesquisadores Milton Mata (UFPA), Mário Ribeiro (UFPA) e Itabaraci Nazareno
(Universidade Federal do Ceará/UFC), prossegue as investigações, mas necessita
de recursos financeiros para confirmar as informações iniciais reunidas com
base no cruzamento de dados provenientes da perfuração de poços para a pesquisa
petrolífera e poços de extração de água construídos em Santarém, Manaus e
outras localidades.
“Os poços da pesquisa de petróleo
perfurados pela Petrobras, por exemplo, foram fontes importantes de informação,
porque, sendo bastante profundos, fornecem indicações sobre a espessura dos
aquíferos. Já com os poços para abastecimento, chegamos a parâmetros
hidrogeológicos fundamentais para se ter ideia do volume e da produtividade de
água do Alter do Chão”, explica o orientador da pesquisa, professor Francisco
Matos. Cerca de 40% do abastecimento de água de Manaus é originário do aquífero
Alter do Chão, como também é o caso de Santarém e de outras cidades situadas
sobre a Bacia Sedimentar Amazônica.
Protegida
da contaminação
O aquífero é um tipo de formação
geológica capaz de armazenar e liberar a água. Há outras unidades que podem
armazenar, mas não permitem que a água que está dentro delas seja utilizada.
Para fazer uma analogia, o aquífero seria como uma esponja, como as que servem
para lavar louças em casa. A esponja fica cheia d’água, mas se ela for movimentada
ou pressionada, a substância é liberada.
O nome Alter do Chão se dá em
referência a uma das mais belas praias do País, situada na região de Santarém.
Segundo Francisco Matos, a existência desse aquífero já é conhecida na
literatura da área desde a década de 50. “Ainda não temos uma avaliação exata
sobre a sua real extensão e a quantidade de água que contém. A novidade da
pesquisa de André Montenegro é, justamente, o valor apontado de 86,4
quatrilhões de litros de água, que é, realmente, uma coisa fabulosa em termos
de reserva”, ressalta o professor Francisco Matos.
As águas subterrâneas representam
a maioria das águas no mundo. “Se você pensar, por exemplo, no caso da
Amazônia, as águas visíveis, ou seja, as contidas nos rios, lagos, chuvas,
representam 16% do total existente, enquanto 84% correspondem à água
subterrânea”, explica o professor. Isso quer dizer que os aquíferos são grandes
depósitos de água de qualidade, pois as águas subterrâneas são muito mais
protegidas do que as águas superficiais, uma vez que estão menos sujeitas a
processos externos de contaminação.
É assim que os aquíferos da
Amazônia, na relação que estabelecem com as outras formas de ocorrência de
água, dentro do chamado ciclo hidrológico, agregam grande valor ambiental,
econômico e estratégico. Além do Alter do Chão, outro aquífero importante na
região é o denominado Pirabas, situado em profundidades entre 100 e 120 metros.
Ele oferece água de excelente qualidade na Região Metropolitana de Belém e é
responsável por, aproximadamente, 20% do abastecimento público.
No Brasil, há outros aquíferos
importantes, como é o caso do Guarani, considerado o maior aquífero nacional e
com grande valor estratégico, pois está em uma região com grande demanda de
água, abrangendo os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estendendo-se à Argentina,
ao Paraguai e ao Uruguai. No Nordeste, estão os aquíferos Urucuia (BA), Serra
Grande(PI) e Cabeças (MA).
Valor
estratégico da reserva
Extrapolando o contexto amazônico
e analisando o contexto mundial, a água é um recurso que, em grande parte do
planeta, está se tornando escasso. Do total de água existente no mundo, 97,5%
são de águas que se encontram nos oceanos, ou seja, água salgada, restando
apenas 2,5% de água doce, dos quais, 1,75% se encontra em calotas e geleiras
polares. Sobra, portanto, tão somente 0,75% que ainda precisa ser repartido
entre cerca de seis bilhões de pessoas (total de habitantes da Terra).
Em se tratando dessa escassez, o
pesquisador da UFPA André Montenegro Duarte, com base nas pesquisas realizadas
acerca do aquífero Alter do Chão, propõe um conceito que visa a preservação das
águas mundiais denominado valor do “não uso”. Esse conceito surgiu há, mais ou
menos, 60 anos, mas ainda é muito pouco difundido, tanto no meio econômico como
na sociedade em geral. A definição parte do princípio de que os recursos
naturais têm um valor de uso, direto ou indireto, como é o caso da água e, o de
“não uso”, que é o valor de existência desse bem.
Isso quer dizer que o recurso
ganha valor e importância pelo simples fato de ser mantido na natureza. “Para
citar um exemplo, pensemos no Rio Amazonas, cuja extensão é imensa. Além dos
recursos em fauna e flora que nele podemos encontrar ou mesmo da própria água
que contém, o Rio tem um imenso potencial de transporte. Esses aspectos lhe
conferem valor econômico. E justamente devido à riqueza que oferece, o Rio
Amazonas também tem valor só por existir”, explica André Montenegro. No caso do
aquífero Alter do Chão, as dimensões impressionantes que possui permitem que
seja utilizado de forma sustentável como recurso econômico e, ao mesmo tempo,
como reserva estratégica.
Em outras palavras, o conceito do
“não uso” gira em torno da consciência da sociedade de que o recurso natural
pode ter uma grande valia por ser preservado. E complementa o pesquisador: “o
mundo, e a Amazônia de um modo especial, não pode ser visto apenas como um
local do qual se retira o que se precisa ou o que pode gerar lucro, uma vez que
é um sistema muito suscetível a danos. É grandioso, mas muito frágil. Nós temos
tanta abundância de recursos naturais que o ‘não uso’ deles pode possibilitar
uma agregação de valor e uma lógica econômica que privilegie um desenvolvimento
mais justo e igualitário”. A UFPA tem trabalhado para gerar essa consciência.
Recuperação
da reserva
Oliveira faz um alerta para a
exploração comercial da água no Aquífero Alter do Chão. "A água dessa
reserva é potável, o que demanda menos tratamento químico. Por outro lado, a
médio e longo prazo, a exploração mais interessante é da água dos rios, pois a
recuperação da reserva é mais rápida. A vazão do Rio Amazonas é de 200 mil
m³/segundo. É muita água. Já nas reservas subterrâneas, a recarga é muito mais
lenta.
Ele destaca a qualidade da água
que pode ser explorada no Alter do Chão. "A região amazônica é menos
habitada e por isso menos poluente. No Guarani, há um problema sério de flúor,
metais pesados e inseticidas usados na agricultura. A formação rochosa é diferente
e filtra menos a água da superfície. No Alter do Chão as rochas são mais
arenosas, o que permite uma filtragem da recarga de água na reserva
subterrânea", disse Oliveira.
Fonte: Jéssica Souza
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