Energia Elétrica e Meio Ambiente
Um dos fundamentos da
sustentabilidade econômica de um país é a sua capacidade de prover logística e
energia para o desenvolvimento de sua produção, com segurança e em condições
competitivas e ambientalmente sustentáveis.
Podemos afirmar que o Brasil tem feito
seu "dever de casa" na área energética, tanto que é citado como
referência internacional na produção de petróleo em águas profundas, na
produção de etanol, no seu parque de geração hidrelétrico, no exponencial
aproveitamento da energia eólica, no seu extenso e integrado sistema de
transmissão de energia elétrica e, especialmente, na renovabilidade de sua
matriz tanto energética quanto de produção de energia elétrica.
As conquistas alcançadas no setor
elétrico decorrem fundamentalmente da revisão do marco regulatório e
institucional ocorrida há oito anos, que propiciou condições favoráveis aos
investimentos.
Talvez o setor elétrico
brasileiro tenha sido um dos setores no país no qual ocorreu, de forma mais
significativa e emblemática, a recuperação da sua capacidade de planejamento e
execução das ações planejadas, de forma integrada, governo e iniciativa
privada.
A identificação do Brasil como
potência energética e ambiental mundial nos dias de hoje não é um exagero. O
país, de fato, é rico em alternativas de produção das mais variadas fontes. A
oferta de matéria-prima e a capacidade de produção em larga escala são exemplos
para diversos países.
A boa notícia é que a matriz
energética brasileira continuará a ser exemplo para o mundo nos próximos anos.
Ela, que hoje já possui forte participação das fontes renováveis de energia
(hidráulica, eólica, etanol, biomassa, entre outras), contará com uma
predominância ainda maior dessas fontes dentro de um prazo de dez anos.
Demanda
Nos próximos dez anos, a demanda
total de energia do país deverá crescer 5,3% ao ano, chegando a 372 milhões de
tep em 2020. A indústria e o setor de transportes continuarão a ser os
principais responsáveis por esse consumo, com cerca de 67% do total.
Em 2020, estima-se que o consumo
de eletricidade será 61% superior ao ano de 2010, atingindo 730 TWh. A
indústria nacional tem importante papel nessa expansão, sendo responsável por
138 TWh dos 277 TWh adicionais de consumo de eletricidade nesse período.
Contudo, a autoprodução do setor industrial cresce a taxas superiores às da
demanda de eletricidade desse setor, o que reduz a pressão da demanda sobre a
expansão da oferta na rede do Sistema Elétrico.
Geração
de energia elétrica
Todos os anos, a EPE apresenta,
por meio do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), a configuração de
referência para a expansão da geração e das principais interligações dos
sistemas regionais, atendendo aos critérios de sustentabilidade socioambiental
e de garantia de suprimento. Este estudo subsidia o processo licitatório para
expansão da oferta de energia elétrica, com vistas a garantir o abastecimento
adequado para o crescimento do país.
A principal diretriz desse Plano
é a priorização da participação das fontes renováveis de energia para atender
ao crescimento do consumo de energia elétrica no horizonte decenal. Nos leilões
de compra de energia nova e de reserva, essa priorização se faz ainda mais
oportuna, na medida em que essas fontes vêm apresentando custos de geração de
energia bastante competitivos já no horizonte do decênio.
Nesse sentido, merecem destaque
dois dos três leilões ocorridos em 2010 para compra de energia a partir da fonte
hidráulica, tanto pelo montante quanto pelo preço da energia. Neles, as usinas
hidrelétricas de Belo Monte (11.233 MW) e Teles Pires (1.820 MW) foram
compradas pelo mercado regulado por 78 e 58 R$/MWh, respectivamente.
Afinal, a hidreletricidade é um
elemento diferencial da Matriz Energética Brasileira. Ela é a principal fonte
de geração de eletricidade no país e, em 2010, respondeu por 81% do total
produzido.
Ademais, o Brasil detém 10% do
potencial hidráulico técnico mundial e o aproveitamento desse potencial é
estratégico para o país. Dentre todas as formas de geração de eletricidade, a
hidráulica é a única que reúne simultaneamente quatro atributos absolutamente
relevantes: é renovável; praticamente não emite gases de efeito estufa; é
extremamente competitiva; e, no caso do Brasil, a construção das usinas pode
ser feita praticamente com 100% de fornecimento e serviços nacionais, o que
significa geração de emprego e renda no país.
Por óbvio, o desenvolvimento de
qualquer potencial hidráulico deve cuidar para que os impactos ambientais
provocados sejam mitigados ou compensados. De fato, em razão dos enormes
progressos que foram feitos nos últimos anos, muitas áreas no entorno de
reservatórios já instalados estão hoje entre as mais bem conservadas, garantindo
a preservação do bioma local. No aspecto socioeconômico, é emblemático o efeito
de projetos mais recentes, em torno dos quais núcleos urbanos chegam a
apresentar índices de desenvolvimento humano superiores aos da região na qual
se inserem.
Assim, dentro de uma visão mais
contemporânea, usinas hidrelétricas são mais que uma fábrica de eletricidade.
Constituem, na verdade, vetores do desenvolvimento regional e de preservação
ambiental.
Entre 2016-2020, deverão ser
viabilizados cerca de 19 GW em projetos hidrelétricos. Desse total, 15,5 GW, ou
seja, 82% estarão situados na Região Norte do país. Merece destaque a
hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, com uma capacidade instalada da ordem de
7.000 MW.
Outro grande destaque do Brasil é
a energia eólica, que vem apresentando significativa redução de custo ao longo
dos últimos anos. Em 2005, a preços atualizados, ela apenas se viabilizava a
300 R$/MWh. Nos últimos leilões de energia, realizados em agosto e dezembro de
2011, a energia eólica foi comprada ao preço médio de 99 R$/MWh e 105 R$/MWh,
respectivamente, um terço do valor de referência de seis anos atrás.
Com isso, o mercado de geração de
energia eólica tem surpreendido. Até 2004, a capacidade instalada era inferior
a 30 MW. Em 2016, considerando apenas as usinas já contratadas, teremos
instalados pouco mais de 8.000 MW. E com as usinas, os fabricantes mundiais de
aerogeradores têm vindo se instalar no país. Apenas neste ano, estão sendo
instaladas novas indústrias que aumentarão até o final de 2011 a capacidade de
produção de turbinas eólicas dos 1.100 instalados em dezembro de 2010 para
3.700 MW/ano, quase o dobro do que tem sido contratado no país de capacidade
eólica por ano desde 2009 (aproximadamente 1.930 MW/ano).
De fato, o Plano Decenal da EPE
prevê que a capacidade instalada no Sistema Elétrico Interligado Nacional (SIN)
deve evoluir de cerca de 110 GW (dezembro de 2010) para 171 GW (dezembro de
2020), com a priorização das fontes renováveis (hidráulica, eólica e biomassa).
Se, por um lado, a participação das hidrelétricas cairá de 75% para 67%, apesar
do aumento absoluto de 22 GW nesse horizonte, a participação da geração oriunda
de fontes alternativas, como a de usinas eólicas, de térmicas à biomassa e de
PCH, vai dobrar em dez anos.
Meio
ambiente
A política energética brasileira
norteia-se por objetivos que visam garantir o acesso de toda a população a
serviços de qualidade a preços justos, mantendo rigorosos compromissos com a
preservação do meio ambiente e o manejo sustentável dos recursos naturais. Tal
política contribui simultaneamente para o progresso econômico e social da
população e para a manutenção de uma das matrizes energéticas mais limpas do
mundo.
A preocupação com a dependência
externa dos combustíveis fósseis tem levado a maior diversificação das fontes
de energia, com preferência por fontes renováveis e de baixo impacto ambiental.
Hoje, o Brasil é reconhecido internacionalmente por seu pioneirismo no
desenvolvimento de alternativas energéticas eficientes e ambientalmente sustentáveis,
em que se destaca o etanol.
Os estudos de planejamento
desenvolvidos pela EPE incorporam o conceito de sustentabilidade
socioambiental. O foco em alternativas de maior sustentabilidade está balizado
pelas atuais discussões e negociações internacionais sobre as mudanças do
clima, conforme evidenciado na COP-15, realizada em Copenhague e reiterada na
Conferência de Cancun (COP-16). Os compromissos assumidos pelo Brasil nessas
negociações internacionais foram formalizados por meio da Lei n.12.187/09, que
estabeleceu uma meta voluntária de mitigação das emissões de gases de efeito
estufa para o ano 2020, deslocando as discussões sobre mudanças climáticas, no
Brasil, para novo patamar institucional.
Nesse contexto, o PDE 2020 se
apresenta como importante instrumento para a construção do cenário de
mitigação, uma vez que incorpora medidas que, em conjunto, contribuem para a
diminuição da emissão de GEE na produção e consumo de energia. Aumento da eficiência
energética, incremento do parque instalado de hidreletricidade e fontes
alternativas de energia elétrica como eólica, biomassa e PCH, além da avaliação
das áreas de expansão da cana necessárias para o aumento do volume de
biocombustíveis e consequente substituição de combustíveis fósseis estão entre
as medidas incorporadas e permitirão que o país se mantenha nos mesmos
patamares da intensidade de emissões verificada em 2005.
Dessa forma, podemos concluir que
a continuidade do aproveitamento do potencial hidrelétrico nacional, associada
à expansão de outras fontes renováveis de produção de eletricidade, como
centrais eólicas e a bioenergia – tanto para produção de energia elétrica
quanto para a oferta de combustíveis líquidos – são elementos que permitem ao
Brasil preservar limpa sua matriz. Além disso, a expansão da produção doméstica
de petróleo e gás natural permitirá que o país se consolide como importante
player no cenário energético internacional. Nessas condições, têm-se reunidos
os ingredientes essenciais para que o Brasil se torne uma potência ambiental e
energética do século XXI.
Fonte: Mauricio Tiomno Tolmasquim
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