Mudanças climáticas no país devem trazer prejuízo e pobreza
Secas mais intensas, prejuízo na
agricultura, diminuição do pescado, reformulação da matriz energética – esses
são alguns dos impactos que as mudanças climáticas devem gerar no Brasil. E os
mais afetados serão os brasileiros de classes econômicas menos favorecidas.
Esse é o cenário descrito no
sumário executivo do Grupo de Trabalho 2 (GT2) do Painel Brasileiro de Mudanças
Climáticas (PBMC).
O documento aborda os impactos
das mudanças climáticas nos sistemas naturais e socioeconômicos, bem como suas
consequências, além de opções de adaptação ao novo cenário.
“Esse relatório mostra que os
impactos já estão acontecendo e é preciso tomar decisões quanto a isso de
imediato. Quanto mais se espera, maior e mais caro fica o problema”, afirmou
Suzana Kahn, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e
presidente do comitê científico do PBMC.
Para ela, o relatório também
fornece elementos para que os governantes brasileiros planejem suas respostas
de maneira a diminuir os impactos e os custos, bem como para melhorar a
inclusão social. “Quem sempre sofre mais e tem menos chance de se adaptar é a
população pobre”, declarou Kahn.
A água é um elemento-chave na
questão dos impactos das mudanças climáticas. Segundo o sumário divulgado na
sexta-feira, as alterações nos regimes de chuva devem levar a secas e enchentes
mais frequentes e intensas, podendo também ter impacto sobre a recarga de águas
subterrâneas.
As taxas de vazão dos rios também
sofrerão variação. No leste da Amazônia e no Nordeste, as perdas podem chegar a
20%, sendo que na bacia do Tocantins o valor é de 30%. Já na do Paraná-Prata, a
expectativa é de aumento de 10% a 40%.
“É um problema muito sério.
Segundo a Agência Nacional de Águas, mais de 2 mil municípios terão problema de
abastecimento de água em 2015”, alertou Eduardo Assad, pesquisador da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e coordenador do GT2.
Nas áreas costeiras, o aumento do
nível do mar deve intensificar as inundações e os processos erosivos. Além
disso, o aumento da temperatura e da acidificação dos oceanos deverá ter
impacto negativo sobre os ecossistemas marinhos e sobre a pesca.
“Podemos ter uma perda no volume
de pescado de 6%, em média. Imaginem quantas famílias de pescadores serão
atingidas”, observou Assad. O estudo prevê ainda a perda de biodiversidade em
ecossistemas aquáticos e terrestres, levando ao desaparecimento ou à
fragmentação de hábitats.
Agricultura
e energia
A atividade agrícola tende a ser
afetada diretamente pelas mudanças climáticas. Com o aumento da temperatura e a
redução da quantidade de água, áreas de baixo risco para a agricultura vão se
tornar de alto risco, perdendo valor e forçando a população rural local a
migrar para os centros urbanos.
“No Ceará, por exemplo, isso pode
acarretar uma redução de até 60% no produto interno bruto agrícola e no valor
das terras”, ressaltou o coordenador do GT2.
Outro problema sério são os
efeitos sobre pragas e doenças que atacam as culturas. A alta de temperatura e
umidade serão condições ideais para a eclosão de fungos.
Já o setor energético pode ser afetado de
diversas formas pelas mudanças climáticas. Segundo Assad, é necessário ampliar
a matriz energética, pois haverá problemas na geração de energia hidrelétrica
em razão das alterações na oferta de água.
Para ele, a abertura para
alternativas energéticas mais limpas ainda é tímida, enquanto há estímulo para
fontes como gás de xisto e termelétricas a carvão. “Onde estão os incentivos
para as energias solar, eólica e de marés? Continuamos insistindo na vanguarda
do conservadorismo energético”, destacou.
Cidades e
saúde
As cidades também serão bastante
afetadas, com alguns fenômenos já em andamento, como os deslizamentos de
encosta e os alagamentos causados por deficiências no sistema de drenagem
urbano.
“Não preciso lembrar o que vai
acontecer em janeiro e fevereiro no Rio de Janeiro e em Salvador. Nenhuma atitude
foi tomada nos últimos anos para resolver esse problema”, criticou Assad.
Em termos de transporte, o modal
utilizado pelo país estaria totalmente equivocado, principalmente o urbano, de
acordo com o documento. Mudar isso, especialmente no quesito transporte de
carga, faria o Brasil dar um grande salto na emissão de gases de efeito estufa.
Na questão de saúde humana, o
país estaria extremamente vulnerável por conta de ondas de calor e de frio, que
estariam relacionadas a uma maior mortalidade. Essas condições também podem ser
ideais para a proliferação de vetores de doenças tropicais, como mosquitos,
levando a uma expansão de males como a dengue.
Para o coordenador do GT2,
reduzir os problemas relacionados à água, bem como à subsistência e à pobreza
são igualmente críticos. “Essas são ações prioritárias que o Brasil tem que
atacar. Para isso, governo, indústria, comércio e sociedade precisam estar
envolvidos em uma resposta nacional adequada”, concluiu Assad.
Fonte: www.sustentabilidades.com.br
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