A arquitetura e a questão ambiental nas cidades
O tema da ecologia geralmente
aparece na grande mídia relacionado à preservação e à recuperação da natureza
selvagem. No entanto, as reais possibilidades de preservação e recuperação
dessa natureza selvagem estão intimamente relacionadas à questão ambiental nas
cidades.
A degradação e o comprometimento
da natureza selvagem foram intensificados pelo crescimento descontrolado das
cidades e de suas atividades industriais de alto impacto ambiental,
especialmente a partir de meados do Século 19. A reversão da alarmante crise
ambiental contemporânea depende de iniciativas que reavaliem o papel da cidade
e a participação de cada cidadão como polo decisivo na educação ambiental e na
transformação de comportamentos.
Atualmente o ambiente urbano é o
hábitat de mais de 50% da população mundial. E esse percentual deve aumentar
consideravelmente nos próximos anos. As projeções da ONU estimam que em torno
de 2025 a população urbana mundial, que hoje é de aproximadamente 2,5 bilhões,
pode chegar aos 5 bilhões de pessoas.
Todos os dias vivenciamos nas
cidades alguns dos mais graves problemas ambientais contemporâneos: as questões
da água, do lixo, da poluição e do alto consumo de energia. É certo que a
solução desses problemas depende de vontade política, práticas públicas e
planejamento urbano, mas depende também, e essencialmente, da colaboração ativa
de cada um dos cidadãos.
Alguns exemplos de “casas
ecológicas” são divulgados com frequência na grande mídia. Essas casas, quase
sem exceção, estão localizadas em ambientes não urbanizados: pequenas
comunidades, fazendas, praias e montanhas, e são vistas com curiosidade e
interesse pelo público como experiências excêntricas com um certo tom
futurista.
Um dos desafios da arquitetura
contemporânea é o de conseguir desmistificar esse assunto e desenvolver
projetos residenciais no interior das cidades, em lotes comuns, valendo-se dos
conceitos de arquitetura sustentável e de “casa ecológica” adaptados ao
ambiente urbano e às condições locais de disponibilidade de materiais e mão-de-obra.
Hoje já é possível construir no
Brasil casas e edifícios “ecológicos” com projetos personalizados, valendo-se
de sistemas e materiais alternativos disponíveis no mercado da construção
civil. Não se trata de alta tecnologia, sofisticada e cara, mas sim de soluções
técnicas simples e acessíveis articuladas em projetos de arquitetura que têm
como premissa conceitos de ecologia urbana e de planejamento ambiental.
A arquitetura residencial
projetada com princípios ecológicos também significa economia para a
municipalidade, afinal é possível reduzir em até 60% o volume de entulho
retirado da obra, reduzir o volume de águas pluviais destinado ao sistema
público em pelo menos 80%; reduzir o volume de esgoto despejado no sistema
coletivo em pelo menos 50%, além de contribuir com até 80% da área do terreno
em área verde para a cidade, considerando soluções paisagísticas como
tetos-jardim.
Não há dúvidas de que uma
arquitetura responsável e sintonizada com as questões urbanas contemporâneas
pode contribuir de forma efetiva para a melhoria das condições de vida nas
cidades e a solução de sérios problemas ambientais como a impermeabilização
crescente do solo; a redução progressiva da vegetação urbana, especialmente nos
lotes privados; o alto consumo energético necessário para minimizar o
desconforto de soluções arquitetônicas inadequadas às condições climáticas
reais (como, por exemplo, os “indispensáveis” aparelhos de ar condicionado); o
alto custo do tratamento público da água e dos esgotos; o desperdício e o
lançamento de entulhos e sobras de canteiros de obras na periferia das cidades.
As arquiteturas sustentáveis
oferecem grandes vantagens para a sociedade, e em escala ampliada, para todo o
meio ambiente. Se as vantagens ambientais são nítidas, as vantagens econômicas
são capazes de convencer os mais céticos.
Com projetos arquitetônicos
alternativos é possível construir residências que proporcionem uma economia de
energia elétrica de, pelo menos, 40% e uma economia de água que pode chegar a
50%. E o que é melhor, com um custo médio de cerca de 10% menor do que o de uma
residência convencional. Isso significa economia imediata na obra e economia ao
longo de anos.
A inserção de casas e edifícios
sustentáveis ou “ecológicos” nas cidades brasileiras nos próximos anos pode ter
um efeito multiplicador de grande importância, sugerindo novos comportamentos,
e sinalizando para a sociedade outros caminhos possíveis na ocupação do solo
urbano com grandes vantagens econômicas e ambientais.
Fonte: www.eco21.com.br
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