Permacultura
Permacultura é algo fácil de
identificar com um monte de desejos pessoais profundos entre aquelas pessoas
que sonham com paz, harmonia e abundância. Mas leva-se muito tempo para
entender. Não se sinta desencorajado o leitor que está ansioso por conhecer a
Permacultura ou aquele que julgava tê-la compreendido: os conceitos estão dados
e são até bastante claros. A verdade é que as coisas mais importantes da vida
exigem tempo e dedicação, tanto mais quando representam quebras de paradigmas.
Assumir para nossas vidas aquilo
que é radicalmente novo não é tarefa fácil – no mais das vezes enfrentamos
nossos próprios limites de compreensão e aceitação. Por isso, é preciso
coragem, fé e determinação para tornar-se um permacultor. E tomar o tempo como
aliado.
Nas palavras de Bill Mollison de
que mais gosto, a Permacultura é “uma tentativa de se criar um Jardim do Éden”,
bolando e organizando a vida de forma a que ela seja abundante para todos, sem
prejuízo para o meio ambiente. Parece utópico, mas nós praticantes sabemos que
é algo possível e para o qual existem princípios, métodos e estratégias
bastante factíveis. Os exemplos estão aí, para quem quiser ver, nos cinco
continentes e em mais de uma centena de países.
Conceitos
Os australianos Bill Mollison e
David Holmgren, criadores da Permacultura, cunharam esta palavra nos anos 70
para referenciar “um sistema evolutivo integrado de espécies vegetais e animais
perenes úteis ao homem”. Estavam buscando os princípios de uma Agricultura
Permanente. Logo depois, o conceito evoluiu para “um sistema de planejamento
para a criação de ambientes humanos sustentáveis” , como resultado de um salto
na busca de uma Cultura Permanente, envolvendo aspectos éticos, socioeconômicos
e ambientais.
Para tornar o conceito mais
claro, pode-se acrescentar que a Permacultura oferece as ferramentas para o
planejamento, a implantação e a manutenção de ecossistemas cultivados no campo
e nas cidades, de modo a que eles tenham a diversidade, a estabilidade e a
resistência dos ecossistemas naturais. Alimento saudável, habitação e energia
devem ser providos de forma sustentável para criar culturas permanentes.
No centro da atividade do
permacultor está o design, tomado como planejamento consciente para tornar
possível, entre outras coisas, a utilização da terra sem desperdício ou
poluição, a restauração de paisagens degradadas e o consumo mínimo de energia.
Este processo, segundo André Soares, permacultor do Instituto de Permacultura e
Ecovilas do Cerrado – IPEC, deve ser dinâmico, contínuo e orientado para a
aplicação de padrões naturais, contendo sub-processos de organização de
elementos dentro de determinados contextos.
No primeiro nível, a ação do
permacultor volta-se principalmente para áreas agrícolas com o propósito de
reverter situações dramáticas de degradação sócio-ambiental. “Culturas não
sobrevivem muito tempo sem uma agricultura sustentável”, assegura Bill
Mollison. No entanto, os sistemas permaculturais devem evoluir, com designs
arrojados, para a construção de sociedades economicamente viáveis, socialmente
justas, culturalmente sensíveis, dotadas de agroecossistemas que sejam
produtivos e conservadores de recursos naturais.
Cooperação
e solidariedade
A Permacultura exige uma mudança
de atitude que consiste basicamente em fazer os seres humanos viver de forma
integrada ao meio ambiente, alimentando os ciclos vitais da natureza. Como
ciência ambiental, reconhece os próprios limites e por isso nasceu amparada por
uma ética fundadora de ações comuns para o bem do sistema Terra.
Mollison e Holmgren buscaram princípios
éticos universais surgidos no seio de sociedades indígenas e de tradições
espirituais, que estão orientados na lógica básica do universo de cooperação e
solidariedade. Não é possível praticar a Permacultura sem observá-los.
Primeiro, será preciso assumir a
ética do cuidado com a Mãe-Terra para garantir a manutenção e a multiplicação
dos sistemas vivos. Depois, o cuidado com as pessoas para a promoção da
autoconfiança e da responsabilidade comunitária. E por fim, aprender a governar
nossas próprias necessidades, impor limites ao consumo e repartir o excedente
para facilitar o acesso de todos aos recursos necessários à sobrevivência,
preservando-os para as gerações futuras.
Como parte dos sistemas vivos da
Terra e tendo desenvolvido o potencial para desfazer a sustentabilidade do
planeta, nós temos como missão criar agora uma sociedade de justiça, igualdade
e fraternidade, a começar pelos marginalizados e excluídos, com relações mais
benevolentes e sinergéticas com a natureza e de maior colaboração entre os
vários povos, culturas e religiões.
Toda ética tem a ver com práticas
que querem ser eficazes. “A ética da Permacultura serve bem para iluminar
nossos esforços diários de trabalho com a natureza a partir de observações
prolongadas e cuidadosas, com base nos saberes tradicionais e na ciência
moderna, substituindo ações impensadas e imaturas por planejamento consciente”,
assevera Bill Mollison. A chave é estabelecer relações harmoniosas entre as
pessoas e os elementos da paisagem.
Design
para a sustentabilidade
O trabalho do permacultor está
baseado em princípios e métodos de design para orientar padrões naturais de
crescimento e regeneração, em sistemas perenes, abundantes e auto-reguladores.
Earle Barnhart, permacultor de
Massachussets (USA), escreveu que a regra cardinal do projeto da permacultura é
maximizar as conexões funcionais. Isso quer dizer, combinar as qualidades de
elementos da natureza e de elementos da criação humana para construir sistemas
de armazenamento de energia. Não haveria nada de revolucionário nisso se as
sociedades modernas agissem com base no bom senso.
Mas a história é bem outra e, por
isso, a Permacultura, embora seja a “ciência do óbvio”, como gostam de dizer
alguns de nós, está fazendo revoluções nas cabeças de jovens, adultos e idosos,
oferecendo-lhes, em vez de sistemas fechados e fragmentários, o paradigma
holístico contemporâneo, que tudo articula e re-laciona, para a construção de
projetos abertos ao infinito.
As estratégias de design da
Permacultura não existem apenas para o planejamento de propriedades abundantes
em energia – este é apenas o primeiro nível de ação do permacultor. É possível
desenhar também sistemas de transporte, educação, saúde, industrialização,
comércio e finanças, distribuição de terras, comunicação e governança, entre
outros, para criar sociedades prósperas, cooperativas, justas e responsáveis. O
sonho é possível: a ética cria possibilidades de consensos, coordena ações,
coíbe práticas nefastas, oferece os valores imprescindíveis para podermos viver
bem.
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