Hidroanel
Pesquisadores da USP estão
propondo a construção de uma hidrovia dentro da Grande São Paulo. O projeto,
chamado Hidroanel Metropolitano de São Paulo, propõe uma rede de vias
navegáveis composta pelos rios Tietê e Pinheiros, e pelas represas Billings e
Taiaçupeba, além de um canal artificial ligando essas represas - resultando em
um total de 170 quilômetros de hidrovias urbanas.
A navegação fluvial, embora
esteja entre os sistemas de transporte mais baratos e limpos que existem, é
pouco usada no Brasil.
Pensando num futuro em que o
transporte rodoviário estará cada vez mais sobrecarregado em metrópoles como
São Paulo, o grupo desenvolveu um projeto para a construção de um hidroanel na
região.
O projeto prevê a conexão e o
aproveitamento de rios e represas que circundam 14 cidades da Grande São Paulo,
com a geração de 40 mil empregos diretos e 120 mil indiretos.
A conexão entre rios e represas,
de acordo com o projeto, exigirá a construção de 20 eclusas (elevadores de
embarcações).
"Já existe uma eclusa pronta
no 'Cebolão' [Complexo Viário Heróis de 1932], na foz do Rio Pinheiros. E agora
o Governador está para autorizar o início da obra de uma outra eclusa, na
Penha", comenta o professor Alexandre Delijaicov, da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da USP.
Rios
urbanos
Mas há outros empecilhos ao
projeto, sobretudo porque, no Brasil, nunca se respeitou o conceito de
"rios urbanos".
Um rio urbano deve ser
constituído por, no mínimo, três canais. Um canal central de navegação e
drenagem das águas da chuva, e dois canais-túneis de esgoto, um em cada margem
do rio.
Embora esse conceito tenha sido desenvolvido
na Europa do século 18, a maior cidade do Brasil não se preocupou com a
situação dos rios durante seu desenvolvimento, isolando-os com avenidas de alta
velocidade e descartando neles deliberadamente todo o lixo produzido. Como
define Delijaicov, "os rios urbanos de São Paulo são hoje canais de esgoto
a céu aberto emparedados por rodovias".
Assim, para se tornar viável, o
Hidroanel Metropolitano de São Paulo deverá primeiro mudar essa realidade.
Os pesquisadores sabem disso, e
já traçaram um plano. No projeto está prevista a construção de vários tipos de
portos na borda dos rios e das represas que circundam as cidades da Grande São
Paulo.
Lixo pelo
rio não lixo no rio
Uma das principais funções dos
portos da Hidrovia Metropolitana será receber todo o material descartado pela
metrópole. O transporte dessas cargas até os portos ainda seria feito por
caminhões, porém, em vez dos cerca de 30 quilômetros percorridos hoje por esses
veículos, eles irão percorrer apenas de 5 a 8 quilômetros até alcançarem um
desses portos.
Assim, esses caminhões não teriam
que atravessar a cidade para coletar o lixo, o que desafogaria uma parte
considerável do trânsito. Ao mesmo tempo, as embarcações encarregadas de
transportar o lixo pelo restante do caminho estarão atracadas nos portos,
esperando pelos caminhões. Enquanto cada caminhão possui a capacidade de
transportar apenas oito toneladas de material descartado, as embarcações,
planejadas com 20 contêineres de 20 toneladas, terão capacidade de transportar
400 mil quilos de material descartado.
Como o lixo deverá ser levado
para algum lugar, o projeto prevê a construção de três centros de processamento
de lixo, os "tri-portos", com capacidade de receber 800 toneladas de
lixo por hora.
"Em 20 horas, são 16 mil
toneladas que desembarcam em cada um dos tri-portos, que vão transformar esse
lixo, entulho e terra em matéria-prima e insumos para novos processos
produtivos. Mas como é um modelo sistêmico, um sistema deve cobrir o outro em
caso de pane. Estima-se, então, que cerca de 40 mil toneladas possam ser
processadas pelos tri-portos nessas 20 horas", comenta Delijaicov.
Portos
para passageiros e lazer
Além dos portos de processamento
e recolhimento de lixo, o projeto também prevê a construção de 60
"eco-portos", uma espécie de cais cultural com espaços de convivência
e estruturas para atividades lúdicas.
E, claro, haverá lugar para os
passageiros. Serão 24 portos para embarque e desembarque de pessoas, criando
alternativas para a locomoção, desafogando os meios rodoviários e ferroviários.
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