Árvores geneticamente modificadas e aquecimento global
Em 22 de Outubro de 2004, a
Rússia ratificou o Protocolo de Kyoto, o acordo internacional elaborado para
começar a enfrentar o problema do aquecimento global. A ratificação pela Rússia
do Protocolo agora concede a esse instrumento legal um nível de participação
suficientemente alto pelos países mais responsáveis das emissões mundiais de
dióxido de carbono para que o acordo entre em vigor, inclusive sem as emissões
dos Estados Unidos, que representam 25% das emissões anuais globais do mundo
inteiro.
Dias depois do anúncio da Rússia,
o comércio dos Certificados de Carbono do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo na
Europa triplicou. Espera-se que esse mercado seja o maior já existente no mundo
inteiro, e se projeta que chegará aos 60 bilhões de dólares para o ano 2008. O
mercado do carbono foi criado para permitir que as corporações comprassem o
direito de continuar emitindo dióxido de carbono enquanto davam a entender que
enfrentam o aquecimento global; trata-se de uma mercadoria realmente vantajosa.
Os créditos de carbono são
comprados a países ou corporações que de algum jeito têm reduzido suas emissões
de carbono - por exemplo, transformando uma fábrica que queima carvão numa
fábrica que funciona com gás natural ou plantando árvores para que absorvam as
emissões de carbono.
Em Dezembro passado, em Milão,
Itália, a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que
supervisiona o Protocolo de Kyoto acordou que as árvores geneticamente
modificadas poderiam ser usadas em plantações de árvores com fins industriais,
desenvolvidas para absorver as emissões de carbono. Essas plantações estarão
provavelmente desenvolvidas no Sul Global, com subsídios do Banco Mundial, para
compensar as emissões do Norte industrial.
Esse acordo das Nações Unidas, junto
com os subsídios do Banco Mundial, proporcionam grandes e novos incentivos para
promover a tecnologia de árvores geneticamente modificadas através da criação
desse vantajoso mercado de carbono. Enquanto isso, o Protocolo de Kyoto não
contém disposições para proteger efetivamente as florestas nativas existentes
que absorvem carbono.
Os cientistas alegam que as
árvores podem ser geneticamente modificadas para sequestrar ainda mais carbono
do que fazem atualmente, para melhorar a capacidade das plantações de compensar
o carbono industrial. Lamentavelmente restam várias dificuldades com esse
plano.
Primeiramente está o problema de
localização dessas plantações. Estudos na Universidade de Duke nos Estados
Unidos têm constatado que quando as árvores são submetidas a mais dióxido e
carbono no ar, elas apenas vão aumentar sua acumulação de carbono se os solos
forem ricos em nitrogênio. As árvores em solos pobres não aumentaram seu
armazenamento de carbono. Isso significa que as plantações desenvolvidas para armazenar
carbono precisarão estar localizadas em solos férteis.
Cientistas em uma conferência
sobre árvores geneticamente modificadas da Universidade de Duke, sugeriram que
essas plantações poderiam estar localizadas em terras agrícolas abandonadas.
Mas isso faz surgir a pergunta de onde existem essas terras agrícolas férteis
abandonadas? Devem ser um segredo muito bem guardado. Não, na realidade, essas
plantações estarão concentradas no Sul Global onde provavelmente deslocarão
comunidades, através da assunção direta do controle de suas terras agrícolas
para plantações ou cortando florestas nativas e substituindo essas florestas
com plantações, com todos os impactos decorrentes que trazem as plantações -
desde perda de água doce e biodiversidade até poluição com químicos tóxicos.
As preocupações adicionais sobre
as plantações de armazenagem de carbono incluem o assunto da proteção das
plantações de qualquer atividade que possa liberar o carbono - tais como corte
ou incêndios. Algumas pessoas têm sugerido que as plantações para a compensação
do carbono deverão transformar-se virtualmente em “áreas de exclusão humana”
onde toda a atividade humana seja proibida - um projeto que quase com certeza
levaria ao deslocamento das comunidades da floresta.
Os problemas supra, são inerentes
em qualquer plantação florestal de compensação de carbono geneticamente
manipulada ou não. A inclusão das árvores geneticamente modificadas nessas
plantações, no entanto, acrescenta toda uma nova camada de problemas. Além de
manipular árvores geneticamente para maior absorção de carbono, os cientistas
as estão manipulando para que sejam resistentes a insetos e herbicidas, cresçam
mais rapidamente e sejam estéreis.
As plantações de monoculturas de
árvores com uso intensivo de nutrientes secam rapidamente as napas freáticas e
esgotam o solo. As árvores geneticamente manipuladas para crescer ainda mais
rapidamente exacerbarão esse problema. Imagens de satélite da década de 80 têm
mostrado que vastas extensões de terra onde havia florestas nativas foram
transformadas agora em plantações de árvores. A indústria estabelece que as
árvores geneticamente modificadas sejam estéreis pelas características supra,
evitando a contaminação.
Os pesquisadores em esterilidade
têm admitido, no entanto, que não é provável atingir uma esterilidade cem por cento
garantida em árvores, porque as árvores podem viver por centenas de anos e têm
genomas ainda mais longos que o genoma humano. Além disso, foi documentado que
o pólen das árvores viaja 600 km ou mais.
O pólen das árvores geneticamente
modificadas pode contaminar vastas extensões de florestas nativas com uma
grande variedade de características destruidoras, exterminando o delicado
equilíbrio ecológico das florestas nativas e causando mais mortalidade de
florestas e liberação adicional de dióxido de carbono, o gás de Efeito Estufa.
As plantações de árvores
geneticamente manipuladas não têm lugar nas práticas de manejo florestal
sustentável que mantém ecossistemas saudáveis da floresta. Com certeza não têm
lugar na luta para deter o aquecimento global. As propostas das Nações Unidas e
do Banco Mundial para projetos – como o das plantações de árvores geneticamente
modificadas – permitem às corporações continuar poluindo e aumentando o
aquecimento global às expensas dos povos e ecossistemas no Sul Global de forma
desigual.
Nota
A Agência de Proteção Ambiental
dos EUA e o Instituto de Recursos Mundiais têm constatado que as florestas
plantadas sequestram apenas 1/4 do carbono do que sequestravam as florestas
nativas precedentes. O crescimento mais rápido das árvores geneticamente modificadas
que esgotam os solos e a água causa desmatamento adicional enquanto as
florestas nativas são cortadas para substituir a terra despojada com outras
árvores. Esse processo de conversão de florestas nativas em plantações
contribui em grande medida com o aquecimento global liberando simultaneamente o
carbono armazenado nas florestas nativas, eliminando a capacidade natural das
florestas nativas de regular o clima da Terra e substituindo as florestas
nativas por plantações que armazenam carbono a uma taxa extremamente reduzida.
Fonte: www.eco21.com.br
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