Agricultura para uma economia verde


O que é uma “economia verde”? O entendimento sobre o significado de uma economia verde dependerá da concepção de sustentabilidade ecológica subjacente.
No relatório recente do PNUMA sobre economia verde, esta concepção é aquela implícita no conceito de desenvolvimento sustentável: é possível conciliar crescimento econômico com conservação ambiental através do aumento da eficiência ecológica, da maior prudência nas decisões que envolvem impactos ambientais, da maior consciência dos consumidores na escolha de bens e serviços menos impactantes etc. O relatório deixa claro o quanto se pode fazer nesse sentido, levando ao “esverdeamento” da economia.
Entretanto, no muito longo prazo, dentro de uma escala humana (milhares de anos), a concepção de sustentabilidade ecológica a ser considerada é aquela que estabelece claramente que o crescimento econômico, expresso pelo aumento da produção material/energética per capita, não pode continuar indefinidamente pelo simples fato de que existem limites entrópicos para o aumento da eficiência ecológica: de acordo com a 2ª Lei da Termodinâmica, a Lei da Entropia, não é possível reduzir a zero as emissões de resíduos gerados pelas atividades humanas. É preciso ter em conta a finitude do planeta Terra, o qual é um sistema fechado do ponto de vista das trocas de matéria com outros sistemas no espaço (com exceção da queda ocasional de meteoritos); do ponto de vista energético, o planeta está “calibrado” para apenas absorver energia solar e irradiar calor para o espaço sideral, não possuindo fontes endógenas ativas significativas de energia (as fontes geotérmicas são relativamente pouco importantes). O aumento sem limite da produção material/energética com base em fontes exógenas de energia e de materiais (que se encontram inertes na crosta terrestre) levaria a desequilíbrios termodinâmicos crescentes que acabariam produzindo processos adaptativos ecológicos catastróficos para a espécie humana. Nesse sentido, o crescimento zero (da produção material/energética) será inevitável (“por bem ou por mal”), tal como o previra o Clube de Roma em 1972.
Crescimento zero, é preciso que se diga, não implica necessariamente ausência de desenvolvimento humano. Certamente, o desenvolvimento humano depende do crescimento da produção material/energética de modo a se obter um nível de conforto material que se considere adequado. No entanto, a partir de certo nível de conforto material, o desenvolvimento humano depende muito mais de outros fatores, principalmente daqueles relacionados ao equilíbrio emocional dos indivíduos. Nesse sentido, um índice que melhor mediria o desenvolvimento em suas várias dimensões não seria o PIB, tal como tem sido correntemente calculado.
No caso da agricultura, os limites à sua expansão são mais óbvios: a área agrícola disponível é visivelmente finita e, por mais espetaculares que tenham sido os ganhos de produtividade do solo, não se pode contar mais com aumentos expressivos; enfim, parece claro para todos que a produtividade agrícola não pode crescer indefinidamente. Enfim, Thomas Malthus estava absolutamente certo em sua intuição fundamental sobre os limites ambientais ao crescimento. Quem discorda da ideia de que a população mundial não possa crescer perpetuamente? Os economistas mais obtusos o admitem, embora continuem acreditando que o crescimento perpétuo do consumo material/energético o possa.
No entanto, não basta admitir que a expansão da produção agrícola tenha limites. É preciso considerar as condições em que essa produção é realizada; estas têm que permitir a sua continuidade por milênios! No começo do século 20 na Europa, sobretudo na França, um debate se produziu nos meios agronômicos sobre as grandes vantagens da agricultura americana, de alta produtividade do trabalho, mas grandes impactos ambientais, comparada com a agricultura europeia, que conservava o ecossistema agrícola, mas era menos produtiva por unidade de trabalho. Muitos especialistas chegaram a argumentar a favor da agricultura americana, dizendo que não compensaria perder em ganhos de produtividade para conservar os solos uma vez que no futuro (por volta do final do século!) a agricultura não seria mais necessária para a produção de alimentos!
Os efeitos catastróficos da erosão nos EUA acabaram por levar a um grande movimento para a conservação de solos e para a adoção de outras práticas conservacionistas que garantiram um mínimo de sustentabilidade às práticas agrícolas ditas modernas. No entanto, pode-se questionar esse mínimo de sustentabilidade das práticas atuais, como tem sido feito pelos movimentos em prol de práticas alternativas de agricultura, estas sim capazes de efetivamente garantir a capacidade produtiva agrícola no longuíssimo prazo.
 
Fonte: Ademar Ribeiro Romeiro

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