Economia Solidária


Temos, no atual momento da sociedade, uma série de lutas, por igualdade, justiça social, inclusão dos diferentes, acesso à educação e às oportunidades. Durante vários séculos de nossa recente história, o predomínio do capitalismo não conseguiu diminuir os problemas sociais, nem minimizar os efeitos das contradições existentes, sendo que as pessoas clamam por oportunidades em todos os sentidos.
Uns querem melhorar de vida, outros querem ter dignidade em vida e, nesse sentido, a Economia Solidária se apresenta como uma alternativa que visa o ser humano, dar oportunidades através de um modelo de negócios que sirva para responder a indignação da sociedade de excluídos, e que tenha por base a resistência à exclusão, na qual valores e práticas humanas possam constituir uma nova fronteira, em que o modelo empresarial convencional que não atende a todas as esferas sociais, e o poder político que não supre as necessidades dos carentes, sejam substituídos, ou ao menos possam ser descartados em favor de implantes empresariais, que estejam de portas abertas para aqueles que não se inserem no modelo convencional.
Um modelo que exclua qualquer indivíduo é um modelo que não serve à sociedade, pois esta é uniforme e deve ser tratada dessa forma. Assim, um modelo que busque a justiça e sirva como um modelo de empreendimento social, em que pessoas possam fazer o seu dinheiro de forma digna e assim obter respaldo para a vida e para o futuro, é um modelo de alternativas.
Esse modelo de alternativas possibilita que pessoas apartadas do segmento empresarial convencional, tenham condições de serem donos de si mesmos. E não estamos falando apenas de pessoas marginalizadas pela pobreza, mas também de estudantes recém-formados, desempregados, donas de casa, profissionais liberais, entre outros, que a partir de suas habilidades, capacidades e vontade, podem unir-se em suas competências, e mudar o rumo de suas vidas com aquilo que chamamos de ajuntamento social, em que segundo Gaiger (2009), encontram-se as bases de uma oposição à conformidade com a situação de exclusão, como por exemplo senhoras que reunidas podem montar uma cozinha artesanal, que ao prepararem seus quitutes, possam vendê-los e gerar renda para suas famílias.
Esse exemplo ilustra apenas uma das mais variadas formas de lutar contra a situação de exclusão, pois temos outros exemplos, como de mulheres com habilidades para o artesanato, ou então de homens com aptidões para carpintaria e movelaria, ou em uma realidade próxima de estudantes universitários dos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Recursos Humanos, Marketing e Processos Gerenciais, que não conseguem ingressar no mercado logo que saem das cadeiras das instituições de ensino, mas que possuem conhecimentos e podem juntos iniciar um empreendimento solidário em que atuem com prestação de serviços para pequenas e médias empresas, com ênfase em diferentes áreas de conhecimento na forma de assessoria, por meio da modalidade de empreendedores individuais, em que cada um recolherá sob a prestação de serviços e por meio do CNPJ adquirido oferecer o serviço cooperado, mesmo sem um escritório formal ou empresa constituída.
Este exemplo prega justamente que as pessoas unam-se onde o sistema as separou, sendo que as cooperativas apresentam-se como parte daquilo que a Economia Solidária prega como inspiração em termos de prática econômica que proporcione autonomia, democracia participativa, igualdade, equidade e solidariedade entre os membros. O caso mais emblemático de cooperativas no mundo é o da cidade cooperada de Mondragon na Espanha. Mas nem só de cooperativas vive a Economia Solidária, sendo que ONG's e associações também se provam como instrumentos práticos na busca pela independência que o sistema convencional não proporciona.
Economia Solidária como Modelo Alternativo de Negócio
Na obra “A Outra Economia”, Gaiger (2009) propõe que a solidariedade esteja presente em modelos distintos de negócio, que sejam também distintos dos modelos empregados na economia convencional, que visa exclusivamente o lucro. Edgar Mance (2002) já apontava que por meio da economia solidária, a partir de pequenas iniciativas de bairro, por arranjos feitos em igrejas, comunidades pequenas e com o auxílio de grupos empresariais engajados em programas sociais seria possível criar uma resistência ao modelo convencional baseado na acumulação de riquezas em poucas mãos e trocá-lo por um outro modelo baseado na distribuição de renda e oportunidades, o que culminaria com a criação de redes de economia solidária, em que cada iniciativa daria suporte às demais, uma vez que os produtos produzidos entre essas, serviriam para alimentar um sistema econômico alternativo.
Sabemos que o modelo solidário não substituirá imediatamente o excludente modelo capitalista, pois as iniciativas de Economia Solidária dependeriam também de insumos, equipamentos, tecnologias e processos gerenciais oriundos do sistema capitalista, no entanto, após consolidados, tais modelos podem tornar-se arranjos interligados e inteligentes, como se muitas mãos separadas pela distância territorial e mesmo pela natureza do empreendimento, possam sustentar-se mutuamente.
Paul Singer (1999) defende que, na Economia Solidária, a livre participação dos indivíduos na democracia envolvida no processo de tomada de decisões das iniciativas, na participação justa e democrática envolvida na repartição dos resultados econômicos advindos da atividade da iniciativa solidária e na existência de uma coerente política de acesso às informações inerentes ao processo de gestão das iniciativas, crie-se um espaço com portas abertas para que não existam diferenças entre os membros, onde todos os tipos de pessoas poderão empregar suas habilidades, desde aqueles de nível operacional, aos que possuam expertise em determinada área de conhecimento técnico, gerencial ou científico.
Você mesmo, profissional ou estudante universitário, que está imaginando como poderia começar uma iniciativa de Economia Solidária deve estar perguntando se seria possível “viver disso”, sustentar sua família, ganhar dinheiro? Vejamos o exemplo de cooperativas de recicladores de lixo, os antigos “catadores de lixo”, estas pessoas hoje, quando organizadas e reunidas em torno de um objetivo comum, não apenas saíram da miséria, como conquistaram dignidade.
E seria possível que um administrador, um gestor, um contador, ou qualquer outro profissional formado, integrasse uma iniciativa de Economia Solidária? A resposta é sim, pois estes negócios precisam de profissionais com conhecimentos e, mediante o processo democrático, outra pergunta pode ser respondida, se em uma iniciativa que prega a igualdade, como um profissional qualificado receberia de forma justa? Sendo que a resposta está no fato de que se, democraticamente, todos os membros tomarem a decisão de que deve haver faixas de remuneração distintas, sim, um profissional poderá receber mais que os outros, desde que de forma justa e sem um distanciamento que seja desproporcional. Assim, em uma iniciativa de Economia Solidária, a concentração de renda e riqueza não ocorrerá, porém, em contrapartida, haverá condições de que todos os membros possam participar dos resultados de uma forma justa entre os pares.
Não existem privilégios para os integrantes de uma iniciativa de Economia Solidária, isso no sentido de que um mande ou exerça autoridade sobre os outros, mas há uma clara necessidade de organização e gestão, que esteja pautada pelo conhecimento nas diferentes áreas da administração, sendo que se torna oportuno que existam pessoas responsáveis e capacitadas para que o negócio possa prosperar, porém não sob a lógica do lucro, mas sim do crescimento equitativo de seus integrantes.
Nesse sentido, os arranjos solidários atingem sua plena condição de auto gestão, em que o negócio possa crescer em condições de fazer frente aos negócios convencionais, porém voltados ao modelo da gestão econômica de lucratividade concentrada.
 
Fonte: Ivan Ferreira de Campos

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