Por uma Pedagogia Ambiental
Enquanto a aquisição de bens de
consumo suntuosos continuar sendo toscamente confundida como símbolo de
prosperidade, sucesso e possibilidade de ascensão social, determinando padrões
distorcidos de conduta, certamente a humanidade retrocederá cada vez mais em
termos de valores e princípios.
Se não bastasse essa distorção de
valores que prioriza o “ter”, a sociedade de consumo deve sempre ser vista
também como inimiga número um do meio ambiente. Se de fato desejamos habitar um
mundo melhor, como é de senso comum, é de fundamental importância que todos
desenvolvam visões diferenciadas sobre a natureza e o comportamento concernente
à prática de consumo, não perdendo de vista que a poluição dos rios, do ar, o
desgaste do solo, a perda de florestas e o desaparecimento de espécies animais
e vegetais estão intimamente relacionados ao considerável aumento de energia,
água e serviços ecossistêmicos usados largamente para manter elevadas taxas de
produção atendendo assim essa sociedade de consumo.
Nossas relações sociais jamais
podem se pautar e muito menos se fortalecer a partir das quantidades que
consumimos; urge, definitivamente, romper-se com esses hábitos perdulários e
consumistas. Qualidade de vida não pode estar associada à conquista material.
Curvar-se a isso é restringir, pelas vias mais rasteiras possíveis, a própria
vida a uma questão mercadológica.
Romper com essa ideia é
imprescindível para a construção de um mundo ecologicamente mais equilibrado e
saudável, respeitando a natureza e sabendo que mais produção é sinônimo de mais
poluição, assim como menos consumo é sinônimo de mais vida.
Somente alcançaremos essa ruptura
quando todos estiverem imbuídos de um mesmo ideal, criando consciência
necessária para entender que o planeta não absorverá a parcela global da
população mundial no ambiente de consumo em decorrência da finitude dos
recursos naturais. Logo, não adianta incorporar o mercado de consumo; lá não há
espaços para todos. Definitivamente, esse mercado precisa ser desinchado.
Para isso, um passo importante
rumo a esse ambiente mais saudável é levar informações a todos e,
principalmente, àqueles que serão encarregados de usufruírem o mundo num futuro
próximo; ou seja, aqueles que literalmente “farão” esse mundo próximo. Nesse
sentido, educar ambientalmente as crianças de hoje desde os anos iniciais de
estudos é um bom caminho a ser percorrido. Nossos jovens alunos precisam
aprender e praticar a pedagogia ambiental.
Essa pedagogia ambiental deve ser
ensinada levando-se em conta que não é necessária maior produção para atender
as reclamações vindas do mercado de consumo. O que já tem por aí em termos de
mercadorias é suficiente para atender a todos. A necessidade se restringe em
dirimir as desigualdades de consumo em que 20% da população que habita os
países do hemisfério norte “engolem” 80% de tudo o que é produzido, gerando
mais de 80% da poluição e degradação dos ecossistemas, ao passo que “sobra”
apenas 20% da produção material para 80% da população dos países localizados no
hemisfério sul.
Caberá a essa pedagogia
ambiental, em forma de disciplina inserida na grade curricular, realçar o fato
de que a excessiva exploração dos recursos naturais para “sustentar” a
insustentável sociedade consumista é geradora mor de desigualdades e
potencialmente criadora da insustentabilidade ambiental e social ora
presenciada.
Essa pedagogia ambiental deve ser
ensinada a partir do desenvolvimento de culturas próprias que sejam capazes de
enaltecer o consumo verde, fazendo com que cada consumidor busque mercadorias
que não agridam o meio ambiente, quer seja no ato da produção, durante a
distribuição e, principalmente, após o uso, ao descartar-se um produto
despejando-o no lixo, uma vez que é sabido que mais de 52% de nosso lixo não
recebe tratamento adequado e, por isso, é altamente nocivo ao meio ambiente.
Essa pedagogia ambiental deve
desenvolver canais que permitam maior politização do consumo, incluindo noções
básicas e essenciais para evitar o desperdício de alimentos, água e energia
elétrica bem como enfatizar práticas que favoreçam as técnicas e os processos
de reciclagem. Carecemos muito desse tipo de cultura.
Essa pedagogia ambiental
necessariamente deve servir para conscientizar nossos alunos sobre a
importância em se preservar nossa rica biodiversidade uma vez que possuímos a
maior extensão de floresta tropical do planeta (quase 65% do território),
abrigando sete importantes biomas (Caatinga; Campos Sulinos, também conhecidos
como “pampas”; Zona Costeira e Marinha; Amazônia brasileira, que contém cerca
de 1/5 da água doce do planeta; Pantanal; Cerrado e Mata Atlântica)
incorporando mais de 50 mil espécies de plantas (mais de 20% do total mundial),
mais de 500 espécies de mamíferos, quase 1.700 aves e mais de 2.500 espécies de
peixes.
Assim como uma andorinha só não
faz verão, a conscientização coletiva, a partir dos ensinamentos emergidos da
pedagogia ambiental poderá fazer toda a diferença num breve espaço de tempo.
Assim esperamos!
Fonte: Marcus Eduardo de Oliveira
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