O Progresso é compatível com o Meio Ambiente


Conta-se que o líder indiano Mahatma Gandhi (1869-1948), ao ser perguntado se, depois da independência, a Índia perseguiria o estilo de vida dos colonizadores britânicos, teria respondido: "A Grã-Bretanha precisou de metade dos recursos do planeta para alcançar a prosperidade; quantos planetas não seriam necessários para que um país como a Índia alcançasse o mesmo patamar?"
A sabedoria de Gandhi já indicava, há mais de 50 anos, que algo tinha de mudar. O estilo de vida das nações ricas e a economia mundial deveriam ser reestruturados para levar em conta a preservação do meio ambiente, condição básica para uma boa qualidade de vida.
Hoje se sabe que, se o atual ritmo de exploração dos recursos do planeta continuar, não haverá no futuro fontes de água ou de energia, reservas de ar puro nem terras para a agricultura em quantidade suficiente para a preservação da vida.
Com metade da humanidade vivendo abaixo da linha de pobreza, já se consomem 25% a mais do que a Terra consegue renovar. O perigo não atinge apenas as nações pobres. Se a economia global continuar se apoiando sobre o uso de combustíveis fósseis, o equilíbrio climático do planeta inteiro será afetado, como advertiram os cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
Conceito
Demorou bastante para que a humanidade constatasse que estava caminhando para um abismo. Desde a Revolução Industrial, há mais de dois séculos, entendia-se que desenvolvimento e crescimento econômico eram a mesma coisa e que dependiam do consumo crescente de recursos naturais.
Os países desenvolvidos - como os da Europa Ocidental, os Estados Unidos, o Canadá e o Japão - destruíram suas florestas, cresceram e prosperaram. Hoje, embora possuam só um quinto da população do planeta, detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85% da produção de madeira mundial.
Verificou-se uma realidade óbvia, mas cruel: não há possibilidade de que a fartura, os benefícios e o conforto trazidos por esse modelo de crescimento econômico estejam ao alcance dos países que demoraram para se industrializar.
Na prática, isso significa que os países ricos devem buscar fontes de energia menos poluentes e reduzir a produção de lixo e reciclá-lo, além de praticar um consumo consciente, ou seja, repensar quais bens são necessários para uma vida confortável.
Nos países pobres, que têm direito a crescer economicamente, isso quer dizer o desafio de não repetir o modelo predatório e buscar formas de produzir riqueza sem destruir as matas nem contaminar a água.
Essa ideia foi sintetizada no conceito do "desenvolvimento sustentável": aquele que "atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as próprias necessidades". Essa definição está no documento "Our Common Future" ("Nosso Futuro Comum"), conhecido por relatório Brundtland, referência à presidente da Comissão Mundial da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Gro Brundtland, que o apresentou em 1987.
Nele, a ONU diz que "a pobreza absoluta é incompatível com a preservação do meio ambiente". O desenvolvimento sustentável é, portanto, uma atividade econômica que preserva os recursos para o futuro. Hoje, é um tema indispensável nas políticas de governo, nas discussões de empresas e organizações e na orientação sobre a conduta dos cidadãos.
Questões prosaicas como apagar as lâmpadas em ambientes vazios, fechar a torneira ao escovar os dentes e separar o lixo para reciclagem ganham outra dimensão: um aspecto do desenvolvimento sustentável é o "consumo consciente", quando o cidadão usa o poder de compra contra produtos e práticas nocivos ao equilíbrio da natureza.
Consciência ambiental
Assim, nos últimos anos, o grave erro na base dos modelos de produção econômica poluidores e destruidores da natureza tornou-se mais evidente. Se nunca houve tanta riqueza e fartura em algumas partes do mundo, em muitas regiões aumentaram a degradação ambiental, a poluição e a miséria.
O relatório Avaliação Ecossistêmica do Milênio, divulgado pela ONU em 2005, mostrou que os efeitos nocivos do desequilíbrio ambiental são maiores justamente para as populações mais pobres, vulneráveis às variações climáticas e às crises na produção de alimentos.
O relatório traça um quadro preocupante do cenário global e afirma que o mundo não vai atingir as Metas do Milênio da ONU de redução da pobreza até 2015 se não mudar, e rápido, a maneira como trata a natureza.
A boa notícia é que a consciência ambientalista evoluiu e se popularizou, passando progressivamente a fazer parte da vida cotidiana. Hoje, em boa parte dos países não se podem fazer grandes obras sem medir o impacto ambiental.
Evidentemente, não se trata de viver isolado, sem luz elétrica nem produtos industrializados. O desenvolvimento sustentável não propõe uma volta ao tempo das cavernas, mas, sim, uma opção por uma sociedade economicamente equilibrada, com energia renovável e racionalização no uso dos recursos naturais. 

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