Gesso pode ser reciclado indefinidamente
Um estudo conduzido na Unicamp
apontou a viabilidade de reciclar o resíduo do gesso proveniente da construção
civil. A pesquisa, desenvolvida pela engenheira civil Sayonara Maria de Moraes
Pinheiro, atestou a possibilidade de recuperar o material, mantendo as mesmas
propriedades físicas e mecânicas do gesso comercial. O crescimento da
construção civil no país na última década tem acentuado o descarte inadequado
do resíduo no ambiente, que pode contaminar o solo e o lençol freático.
"Mostramos que é viável
recuperar um resíduo que não era considerado possível de ser reciclado. Tanto
que não existem usinas de reciclagem para este material no país. Estima-se que
o resíduo do gesso represente em torno de 4% do volume do descarte da
construção civil, que no Estado de São Paulo corresponde a mais de 50% de todo
o resíduo sólido urbano gerado," evidencia a engenheira civil.
Gesso
sustentável
O modelo experimental para a
reciclagem do resíduo envolve duas fases, moagem e calcinação. Após estas
etapas foram avaliadas as propriedades físicas e mecânicas do material
reciclado.
"Os resíduos foram
submetidos a ciclos de reciclagem consecutivos. Com estes ciclos, nós queríamos
verificar se era possível reciclar o gesso, que já havia passado por processo
de reciclo. Chegamos até o 5º ciclo de reciclagem e o gesso apresentou
características químicas e microestruturais similares ao longo de todo o
processo. Podemos inferir, portanto, que ele pode ser reciclado
indefinidamente", conclui.
Os ciclos de reciclagem provam,
segundo a engenheira, que o gesso da construção civil pode ser totalmente
sustentável.
"Pode-se utilizar o resíduo
do gesso em diversos ciclos de reciclagem, que é uma das diretrizes da
sustentabilidade no setor. Além disso, evita a extração da matéria-prima de
fabricação do gesso, que é a gipsita", complementa.
Impactos
ambientais do gesso
O gesso é amplamente utilizado na
construção civil.
Seus usos mais comuns incluem o
revestimento de tetos e paredes, a confecção de componentes pré-moldados como
forros e divisórias e como elemento decorativo, devido às suas propriedades de
lisura, endurecimento rápido e relativa leveza.
A matéria-prima para a fabricação
do gesso é o minério chamado gipsita, cujas maiores jazidas estão localizadas
no polo gesseiro de Araripe, no sertão de Pernambuco - o polo é responsável por
95% da produção nacional.
A deposição inadequada do resíduo
de gesso pode contaminar o solo e o lençol freático, devido às características
físicas e químicas do material, que, em contato com o ambiente, pode se tornar
tóxico. "O resíduo do gesso é constituído de sulfato de cálcio
di-hidratado. A facilidade de solubilização promove a sulfurização do solo e a
contaminação do lençol freático", explica Sayonara.
Do mesmo modo, a deposição do
resíduo em aterros sanitários comuns não é recomendada. Neste caso, além de
tóxico, a dissolução dos componentes do gesso pode torná-lo inflamável, explica
a pesquisadora. "O ambiente úmido, associado às condições aeróbicas e à
presença de bactérias redutoras de sulfato, permite a dissociação dos
componentes do resíduo em dióxido de carbono, água e gás sulfídrico, que possui
odor característico de ovo podre. A incineração do gesso também pode produzir o
dióxido de enxofre, um gás tóxico. As possibilidades de minimizar o impacto
ambiental, portanto, são a redução da geração do resíduo, a reutilização e a
reciclagem", aconselha.
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