Chapada dos Guimarães
Cachoeiras de águas cristalinas
que deságuam em diversos cenários rochosos. Rios que cortam vales e enormes
caninos, serpenteando uma vasta paisagem natural de um amplo cerrado. Pontos de
observação onde a vista não alcança fim, como que se demonstrassem que a beleza
natural é, na realidade, infinita. O nascer do sol numa explosão de tons
vermelhos, amarelos e laranjas, que aos poucos vai colorindo penhascos fazendo
com que a fauna local recomece sua rotina diária. O voo das araras no exato
instante em que cruzam o horizonte, de um penhasco para outro, a desafiar as
leis da gravidade e tornarem-se símbolo da grandeza regional. O eterno sibilar
do vento na flora que situa-se nas encostas de arenito. Assim o Parque Nacional
da Chapada dos Guimarães apresenta-se para quem deseja conhecer uma das
Unidades de Conservação mais bonitas do Brasil.
Localizado no centro de Mato
Grosso, entre a capital Cuiabá e a cidade da Chapada dos Guimarães, o Parque
Nacional, que abrange uma área de 32.630 hectares, foi criado em 12 de abril de
1989 com objetivo de preservar os ecossistemas de cerrado, savana, matas de
encosta e ciliares, inúmeros sítios arqueológicos, monumentos históricos e
ainda cabeceiras de vários rios que compõem as bacias hidrográficas Alto
Paraguai e Amazônica.
A preocupação de preservação da
rica fauna e flora da região data do início deste século, quando o então
vice-presidente do Mato Grosso, Coronel Pedro Celestino Corrêa da Costa,
motivado pela intensa devastação da vegetação nas cabeceiras dos rios Coxipó-açu,
Manso e Cuiabá, declara a área da Chapada de utilidade pública, em 13 de
setembro de 1910, devido a grande importância que tal bacia hidrográfica tem
para o Estado.
Detalhando melhor a questão, ao
norte do Parque Nacional os córregos Água Fria e Estiva, ambos afluentes do rio
Quilombo; e ao sul o rio Copio e seus afluentes, onde estão as cachoeiras Véu
de Noiva, Pedra Furada, Pulo, Degrau, Malucos e Andorinhas são todos rios que
deságuam no rio Cuiabá, que pôr sua vez é um importante abastecedor do Pantanal
Mato-grossense.
A luta para salvar este
patrimônio natural também teve apoio de ambientalistas, artistas e intelectuais
do Mato Grosso, que, em 1984, lançaram um manifesto para protestar contra
arbitrariedades do Governo contra o meio ambiente local pela criação de alguns
complexos turísticos, não especializados, nas proximidades do Parque.
Em fevereiro de 1986, outro fator
decisivo para a Chapada dos Guimarães foi uma campanha nacional, quando foram
convidadas todas as entidades ambientalistas não governamentais do Brasil para
enviarem correspondência ao então Presidente José Sarney, solicitando a criação
do Parque. Fato que ocorreu três anos mais tarde, transformando-o em patrimônio
do povo brasileiro e permitindo a utilização de suas áreas para fins de
pesquisa, educação ambiental, lazer e recreação, desde que obedecidos seus
zoneamentos e normas de uso.
Dentro de uma extensa área de
planalto, o relevo da Chapada dos Guimarães caracteriza-se pela presença de
grandes encostas e escarpas de arenito vermelho que vão de 600 a 800 metros de
altitude. Este complexo rochoso apresenta-se em canyons e ruínas de curiosas
formas diferentes. A região, borda do Planalto Central Brasileiro, situa-se
sobre uma das mais antigas placas geológicas do planeta. Há cerca de 500
milhões de anos havia uma camada de gelo no local. Há 300 milhões de anos tudo
era mar. Há 150 milhões de anos um deserto encobriu a área. Há 64 milhões de
anos foi à vez de uma densa vegetação servir de alimentos aos animais
pré-históricos até sua extinção. E há 15 milhões de anos temos a modificação
mais marcante, ou seja, o surgimento da Cordilheira dos Andes fez com que a
planície pantaneira afundasse, criando então a Chapada. Nas paisagens da região
é possível observar marcas deixadas no arenito, achar fósseis de conchas do
mar, ossos de dinossauros e até ver dunas do antigo deserto. Atualmente, a
Universidade Católica de Goiás vem desenvolvendo ampla pesquisa nesses sítios
arqueológicos, que incluem pinturas ruprestes, cerâmicas, artefatos de caça e
demais utensílios.
Orquídeas, bromélias, ipês,
jatobás, babaçus, buritis, perobas e diversas flores de tamanho, cor e forma
compõem a rica flora do cerrado brasileiro, que é predominante na Chapada dos
Guimarães. Além das flores, árvores frutíferas aparecem em grandes quantidades,
tais como o pequizeiro, o cajuzinho e a mangabeira. Sendo possível comprar, em
vários restaurantes e lanchonetes, compotas de doces caseiros dessas frutas
típicas. As plantas medicinais usadas na fitoterapia também são bem encontradas
no cerrado.
Outro fator importante para a
composição dessa riqueza natural é o clima da região que é tropical (quente
semi úmido), com duas estações bem definidas. A de chuvas (primavera e verão) e
da seca (outono e inverno), quando ocorre a friagem, que é a inversão da massa
polar sobre o continente, podendo provocar uma queda na temperatura, que
normalmente varia de 12 a 25, para 5 graus. O total pluviométrico anual
situa-se entre 1800 a 2000mm.
O maior inimigo do Parque
Nacional da Chapada dos Guimarães é o fogo, que é propiciado pelas condições
geográficas, vegetativas e climáticas, intensificado pela ação do homem.
Nos meses mais frios do ano,
quando as chuvas diminuem, os fortes ventos originários dos Andes fazem da
vegetação rasteira dos cerrados um material de alta potencialidade combustiva.
Nesta mesma época do ano, proprietários, de dentro do Parque ou no seu entorno,
ateiam fogo para o manejo das pastagens ou preparo do solo para o cultivo, sem
o devido cuidado com a disseminação de incêndios.
Os garimpeiros, que ateiam fogo
no solo para aumentar a ação dos aparelhos que detectam ouro, os religiosos que
acendem inúmeras velas nas proximidades das cachoeiras do Parque e os
churrascos e tocos de cigarros acesos dos imprudentes turistas que visitam o
local, têm sido as principais atividades causadoras de incêndios.
Vale ressaltar que não existe
registros históricos das áreas alteradas pela ação do fogo ou sua origem, o que
dificulta quantificar as perdas ambientais e desenvolver recursos preventivos
com maior eficácia. Em alguns casos, entretanto, a causa dos incêndios foi
atribuída a fenômenos naturais, tais como descargas elétricas. Mas estes casos
são bem reduzidos, uma vez que após o início desses focos de incêndio as chuvas
que caem acabam por apagá-los.
A preservação do cerrado está
diretamente ligada a elevada variação de espécies da fauna nacional que ocorrem
na Chapada dos Guimarães. Onça-pintada, veado-campeiro, macaco bugio, anta,
tamanduá-bandeira, tatu-canastra e o lobo-guará são alguns exemplos dessa rica
fauna.
É também comum ver emas e
seriemas atravessando as estradas que cortam o Parque, que é um corredor
natural de migração de aves. Muitas dependem, inclusive, dos altos paredões de
arenito para fazerem seus ninhos, como as maritacas, andorinhões e araras-vermelhas.
Devido a grande quantidade de
cobras que habitam a região, é aconselhável usar botas de cano longo para
caminhar na Chapada dos Guimarães. Protetor solar, chapéu e roupas leves não
devem faltar, pois o calor é intenso nas trilhas do Parque. Uma vez que quase
todas as caminhadas terminam em lindas cachoeiras, a roupa de banho é
obrigatória. Mas lembre-se de levar muita água para beber, porque as águas
naturais são extremamente ferruginosas e provocam desinteria em quem as
consomem, ainda que moderadamente. Frutas e outros tipos de alimentos leves são
essenciais para repor as energias das caminhadas, que normalmente duram mais de
três horas. Pelo forte calor, os horários de 11 às 14 horas são
desaconselháveis para iniciar qualquer passeio.
Bem em frente ao portão de
entrada e posto de controle do IBAMA está o principal cartão postal do Parque
Nacional da Chapada dos Guimarães. A Cachoeira do Véu de Noiva. Queda d'água de
86 metros situada no meio de um enorme canyon, repleto de vegetação e com
vários mirantes, onde pode-se ver bandos de maritacas voando ao entardecer. E
ainda experimentar, no restaurante local, um dos melhores pratos típico do Mato
Grosso – a galinhada. Que vem a ser pedaços refogados de frango caipira com
muito alho, cebola e açafrão na mesma panela onde depois se cozinha o arroz.
Na mesma trilha do Véu de Noiva
encontram-se as demais cachoeiras do Parque. A Cachoeirinha, com 15 metros de
queda d'água,é muito frequentada por turista porque possui uma praiazinha de
areia e lanchonete com boa infra estrutura. Seguindo 50m acima, depara-se com a
cachoeira dos Namorados, que fica bem escondida e talvez por isso tenha este
nome.
Um pouco mais para dentro do
Parque estão as cachoeiras Sete de Setembro, com ótimo poço natural para banho.
Descendo mais, vem a cachoeira do Pulo, que o próprio nome já identifica sua
principal característica. Não há quem resista a um mergulho em suas águas
geladas. Para os mais aventureiros, as cachoeiras dos Malucos e das Andorinhas
são de mais difícil acesso, pois suas trilhas têm descidas e subidas que exigem
maior vigor físico e cuidado. Não menos interessantes são as cachoeiras do
Degrau, Prainha e Piscina Natural.
Mas nem só de cachoeiras vive a
Chapada dos Guimarães. Outro local maravilhoso é o Morro São Jerônimo que, com
860 metros de altura, é o ponto mais alto do parque. Do seu topo é possível ver
a capital Cuiabá e toda a planície pantaneira. Com aproximadamente nove
quilômetros, é a mais longa trilha de dentro da Unidade de Conservação. São
trechos tortuosos de rochas, mais uma travessia de um bosque e pequenas
escaladas para se atingir o cume. No seu caminho estão as formações rochosas do
Jacaré de Pedra, Mesa de Sacrifícios, Altar de Pedra e o Chapéu do Sol.
Ainda na parte inferior do parque
está situada a Casa de Pedra. Uma gruta de arenito sitiada dentro da vegetação
e cortada pelo pequeno córrego que merece ser registrada fotograficamente.
Na parte superior do parque
encontram-se os principais mirantes da Chapada, como a Cidade de Pedra, que é o
local predileto das araras-vermelhas, facilmente vistas nas primeiras horas da
manhã ou ao entardecer, quando alçam grandes voos entre os paredões dos
penhascos lá existentes. E o Paredão do Eco, que permite um visual incrível da
formação rochosa da Chapada.
O último ponto turístico a ser
citado dentro do Parque Nacional é o Curral de Pedras. Formação rochosa por
onde os antigos moradores percorriam transportando a boiada. São pedras
gigantes elegantemente espalhadas numa das planices do cerrado.
Para quem pensa que as belezas
naturais da região terminam aí, respire fundo para pegar mais fôlego e seguir
em frente. Fora do parque há muito quê se ver. A começar pela caverna Arue
Jari, que na tradição indígena dos Bororós significa Morada das Almas. A enorme
abertura dessa caverna dá ampla visão para árvores e cipós, que contrastam com
o escuro universo do seu interior. Em uma de suas muitas entradas há um lago de
cor azul que é um convite ao banho. Mas vale avisar que o sol entra dentro da
gruta por volta das três horas da tarde, o que faz com que a água seja
extremamente fria. O mergulho ajuda a recarregar as energias para os longos
cinco quilômetros de retorno da trilha. A melhor hora para fazer essa caminhada
é pela manhã bem cedo, quando o sol não está muito forte. Vale citar que muitas
maritacas residem na entrada da gruta onde o lago se localiza, devendo-se então
fazer uma aproximação mais silenciosa para quem gostaria de vê-las e, quem
sabe, fotografalas. A Arue Jari está cadastrada na Sociedade Brasileira de
Espeologia como a segunda maior caverna do país com 1100 m de extensão. Fica a
46 km do centro da cidade da Chapada dos Guimarães.
Na mesma estrada para a caverna
encontram-se os mirantes do Centro Geodésico da América do Sul e o Morro dos
Ventos. Na direção oposta encontra-se a estrada de terra para o pequeno
município de Água Fria. É o sentido obrigatório para quem deseja conhecer a
cachoeira do Pingador, que fica dentro da propriedade do senhor hospitaleiro
Durvalino da Mata. Ou o Morro do Coelho, que dependendo do ângulo de
observação, vê-se nitidamente a figura do roedor na pedra. Na estrada Cuiabá -
Chapada há um outro ponto de visitação que não deve ser esquecido. As águas
cristalinas do Rio Claro. E se desejar realmente completar o ciclo das belezas
naturais, pegue um carro ou ônibus saindo de Cuiabá e viaje 150 km até a cidade
de Nobres e depois mais 45 km de barro e vá conhecer a Gruta do Lago Azul. É
simplesmente deslumbrante!
A cidade da Chapada dos Guimarães
A história da fundação da Chapada
dos Guimarães está estritamente ligada com fundação de Cuiabá, no século XVII.
Em 1751, o primeiro Governador Capitão General de Mato Grosso, Dom Antônio
Rolim de Moura Tavares, estabeleceu no povoado um aldeamento para congregar os
índios de diversas tribos que habitavam o local, na tentativa de impedir um
choque com os garimpeiros e a depredação dos estabelecimentos civilizados. Tal
povoado recebeu o nome de Chapada Nossa Senhora Sant 'Ana Aldeia Velha e sua
administração ficou por conta do padre jesuíta Estevão de Castro, onde foi
erguida uma capela. Então, em 1778 é construída uma igreja maior no atual
centro da cidade. A Igreja Nossa Senhora Sant' Ana, padroeira da cidade. Na
época, Dom José Carlos Pereira, Ouvidor-mor de Cuiabá, visitou a capela ainda
no povoado de Aldeia Velha e achou suas instalações impróprias para a
realização de missas. Assim, imediatamente mandou construir outra. Pintada em
dourado, a igreja apresenta-se no estilo barroco e suas imagens sacras e seus
azulejos foram trazidos de Portugal.
Durante anos a estrada que ligava
Chapada a Cuiabá era denominada trilha do "Tope de Fita" e até hoje
permanece marcada na mata, onde é feita anualmente uma cavalgada de integração.
A trilha é toda calçada em pedra e tem 30 km de extensão. Foi por onde os
índios e escravos trouxeram material para a construção da igreja, que é tombada
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Ainda em relação à colonização
portuguesa na região vale citar que, nesse período de nossa história, a maioria
das povoações fundadas recebia o nome de vilas ou cidades de Portugal. Foi,
então, dessa forma que a Aldeia de Sant' Ana passou a chamar-se de Guimarães em
homenagem a famosa cidade do norte de Portugal, considerada o berço da
nacionalidade portuguesa.
A cidade da Chapada dos Guimarães
tem 252 anos e seu aniversário é dia 31 de julho, quando ocorre a maior
manifestação cultural - o Festival de Inverno - que atraí músicos de todo o
país à realização de shows livres na praça da Igreja Nossa Senhora Sant' Ana.
Com aproximadamente 15 mil
habitantes, a principal atividade econômica da cidade da Chapada dos Guimarães
é o turismo ecológico. Há uma boa infra estrutura de pousadas, hotéis e
campings e mais de 20 restaurantes com comida típicas, tais como a mojica de
pintado (espécie de ensopado de peixe cortado em cubos, com mandioca cozida na
mesma panela), os peixes pacú e dourado fritos, com acompanhamentos de pirão e
farofa de banana. Outras iguarias recomendadas são os churrascos (pela fartura
de carne das criações da região) e as verduras frescas que compõem as saladas
de qualquer restaurante.
A cidade conta ainda com
hospital, farmácias, agência dos correios, lojas de artesanatos locais e
agências do Banco do Brasil e Bradesco, postos de gasolina e posto telefônico.
Localiza-se a cerca de 64 km da capital Cuiabá com via de acesso em rodovia bem
pavimentada e sinalizada.
Fonte: www.ambientebrasil.com.br
Já estive em Chapada.
ResponderExcluirEncantador: a cidade, cachoeira, a Igreja.
Parabéns pela postagem.
Um abraço.