Perdas de água e suas causas
Em sistemas públicos de
abastecimento, do ponto de vista operacional, as perdas de água são
consideradas correspondentes aos volumes não contabilizados. Esses englobam
tanto as perdas físicas, que representam a parcela não consumida, como as
perdas não físicas, que correspondem à água consumida e não registrada.
As perdas físicas originam-se de
vazamentos no sistema, envolvendo a captação, a adução de água, o tratamento, a
reservação, a adução de água tratada e a distribuição, além de procedimentos
operacionais como lavagem de filtros e descargas na rede, quando estes provocam
consumos superiores ao estritamente necessário para operação.
As perdas não físicas originam-se
de ligações clandestinas ou não cadastradas, hidrômetros parados ou que
submedem, fraudes em hidrômetros e outras. São também conhecidas como perdas de
faturamento, uma vez que seu principal indicador é a relação entre o volume
disponibilizado e o volume faturado.
A redução das perdas físicas
permite diminuir os custos de produção - mediante redução do consumo de
energia, de produtos químicos e outros e utilizar as instalações existentes
para aumentar a oferta, sem expansão do sistema produtor.
A redução das perdas não físicas
permite aumentar a receita tarifária, melhorando a eficiência dos serviços
prestados e o desempenho financeiro do prestador de serviços. Contribui
indiretamente para a ampliação da oferta efetiva, uma vez que induz à redução
de desperdícios por força da aplicação da tarifa aos volumes efetivamente
consumidos.
O combate a perdas ou
desperdícios implica, portanto, redução do volume de água não contabilizada,
exigindo a adoção de medidas que permitam reduzir as perdas físicas e não
físicas, e mantê-las permanentemente em nível adequado, considerando a
viabilidade técnico-econômica das ações de combate a perdas em relação ao
processo operacional de todo o sistema.
O desenvolvimento de medidas de
natureza preventiva de controle de perdas nas fases de projeto e construção do
sistema envolve a necessidade de passos iniciais de organização anteriores à
operação. Aquelas medidas devem contemplar, dentre outras:
a) a boa concepção do sistema de
abastecimento de água, considerando os dispositivos de controle operacional do
processo;
b) a qualidade adequada de
instalações das tubulações, equipamentos e demais dispositivos utilizados;
c) a implantação dos mecanismos
de controle operacional (medidores e outros);
d) a elaboração de cadastros; e a
execução de testes pré-operacionais de ajuste do sistema.
Avaliação
das Perdas
A estimativa das perdas em um
sistema de abastecimento se dá por meio da comparação entre o volume de água
transferido de um ponto do sistema e o volume de água recebido em um ou mais
pontos do sistema, situados na área de influência do ponto de transferência.
A identificação e separação das
perdas físicas de água das não físicas é tecnicamente possível mediante
pesquisa de campo, utilizando a metodologia da análise de histograma (registros
contínuos) de consumo das vazões macromedidas. Nesse caso, a oferta noturna
estabilizada durante a madrugada - abatendo-se os consumos noturnos contínuos
por parte de determinados usuários do serviço (fábricas, hospitais e outros) -
representa, em sua quase totalidade, a perda física no período pesquisado,
decorrente de vazamentos na rede ou ramais prediais. A perda não física será a
diferença entre a perda total de água na distribuição - Água Não Contabilizada
- e a perda física levantada.
Em sistemas de abastecimento de
água em que o índice de micromedição aproxime-se de 100%, as ligações
clandestinas tenham pouca importância e exista eficaz programação permanente de
adequação e manutenção preventiva de hidrômetros, combate às fraudes nos
micromedidores e ramais clandestinos, as perdas mensuráveis tendem a refletir as
perdas físicas de água.
Em relação às perdas físicas na
rede distribuidora, nos ramais prediais registra-se a maior quantidade de
ocorrência (vazamentos). Isso nem sempre significa, porém, que esta seja a
maior perda em termos de volume. As maiores perdas físicas na distribuição, em
volume, ocorrem por extravasamento de reservatórios ou em vazamentos nas
adutoras de água tratada e nas tubulações da rede de distribuição.
Perdas
Não Físicas
As perdas não físicas
correspondem aos volumes não faturados, ou seja, a água que é consumida pelo
usuário e não faturada pelo serviço.
As perdas não físicas são
normalmente expressivas e podem representar 50% ou mais do percentual de água
não faturada, dependendo de aspectos técnicos como critérios de dimensionamento
e manutenção preventiva de hidrômetros, e de procedimentos comerciais e de
faturamento, que necessitam de um gerenciamento integrado.
A grande dificuldade para o
controle e redução das perdas não físicas, assim como no caso das perdas
físicas, reside exatamente na questão do gerenciamento integrado.
É frequente encontrar serviços de
saneamento que operam sob uma estrutura administrativa com alto grau de
setorização, na qual os objetivos e orientações são próprios e acontecem de
forma subjetiva e em função da experiência e percepção de cada gerente do
setor. A integração, nesses casos, é deficiente, casuística, e em função de
afinidades pessoais.
Como a redução de perdas requer
ampla integração, definição clara de objetivos e grande participação de todo o
serviço, muitos programas de controle não são bem-sucedidos ou têm os
resultados positivos anulados em curto espaço, se as transformações forem de
caráter temporário.
Trata-se de um estudo de grande
envergadura, na qual se procurou quantificar as perdas físicas e de faturamento
em todo o sistema metropolitano, informações estas dificilmente quantificadas e
disponíveis.
Verifica-se pelas estimativas dos
valores encontrados que, em 1991, as perdas totais, que eram de 40% tinham
origem nas perdas físicas, quantificadas em 51% do total, e nas perdas não
físicas, quantificadas em 49% do total.
Ressalte-se, nesse estudo, a
relevância das perdas de faturamento, indicando que melhorias na gestão
comercial e de manutenção preventiva de hidrômetros poderiam reduzi-las
sensivelmente.
Portanto, especial atenção deve
ser dada, quanto às perdas de faturamento, ao cadastro de consumidores e sua
permanente atualização, bem como à política de micromedição e manutenção
preventiva de hidrômetros.
O grande desafio é a integração
dos setores técnico, comercial (atendimento ao usuário) e de faturamento do
serviço de saneamento, envolvendo:
a) o dimensionamento do
hidrômetro e o acompanhamento de sua adequação aos consumos observados
(geralmente não realizado);
b) a leitura e emissão de contas,
associada a uma política de cortes de inadimplentes (nem sempre existente);
c) a manutenção preventiva de
hidrômetros, por intermédio de acompanhamento de sua performance no tempo,
feito por análises de consumo, de idade e dos volumes totais medidos (frequentemente
não realizada).
Fonte: www.pncda.org.br
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