Arquitetura Bioclimatica
Estas reflexões não pretendem ser
tema de teoria ou estrutura metodológica de trabalho, mas apenas ideias
pessoais surgidas a partir do projeto de arquitetura entendido como a
ferramenta intelectual e prática utilizada pelo arquiteto para mergulhar na
realidade com o objetivo de intervir nela, modificando-a.
É, portanto, e sobretudo, da
arquitetura que me interessa falar, já que entendo que o bioclimatismo é
evidentemente para nós um problema arquitetônico, quero dizer, que quando se
fala da arquitetura bioclimática não é de uma disciplina autônoma que se propõe
verificar no campo da arquitetura, mas sim de um problema de arquitetura
simplesmente, uma vez que toda boa arquitetura tem que ser, na minha opinião,
bioclimática, para que seja boa e eficaz como tem sido sempre em toda a
história.
No entanto, isto, que parece tão
óbvio e que tem sido assim durante séculos de prática arquitetônica, durante a
explosão do movimento moderno, não só foi colocada de lado, como, no âmbito
mais profundo da estrutura intelectual do estilo internacional, se assentou uma
ideia contrária, onde o progresso e o avanço técnico de nossa disciplina
requeria reinventar um habitat novo para um homem novo. Não creio que nos
umbrais do século XXI o resultado e o preço pago por isso em grande medida seja
motivo para persistir nestas ingênuas proposições. Existem, obviamente,
múltiplas e brilhantes exceções, como todos sabemos.
Porém, afortunadamente, o homem e
a natureza onde habita, compartilham algumas leis e estruturas comuns que, na
realidade, nos fazem ser a mesma coisa.
A arquitetura deve aproveitar as
novas sensibilidades que nos trazem este final de século rumo aos problemas do
homem e o seu meio, quer dizer, uma nova maneira de se perceber dentro da
natureza. É a sensibilidade bioclimática, poderíamos assim dizer, o que mais
nos interessa.
A arquitetura bioclimática
deveria busca a reconciliação da forma, a matéria e a energia que, até agora,
eram tratadas separadamente por técnicas diferentes.
Uma das técnicas mais exploradas
foi aquela que tem relação com a obtenção das energias necessárias para
melhorar as condições de vida dos homens. É, sem dúvida, no aproveitamento e
desenvolvimento das técnicas para a obtenção da energia no uso doméstico onde
se realizaram maiores pesquisas durante este século.
No entanto, o modelo da máquina
como objetivo, criando suas próprias linguagens, alheias ao verdadeiro
protagonista da mudança, ou seja, o homem, desproviu a este último os
significados que o unem à estrutura bionatural a que pertence e a qual antes
fazia referência.
Hoje estamos assistindo a uma
nova sacralização da natureza, e isso nos obriga a redefinir estas novas
relações e, sobretudo, encontrar as linguagens que melhor a expressem. Esta
nova sensibilidade, por tanto, é, sem dúvida, uma das mais esperançosas
novidades intelectuais no umbral do século XXI.
A ecologia, o meio-ambiente e o
bioclimatismo, o culto ao corpo, tem a ver com a demanda desta nova
sensibilidade.
Porém, devemos ter cuidado para
não cometer os mesmos erros, ao separar, outra vez, a estrutura unitária e
cósmica do homem em disciplinas autônomas. Gromsky tem razão ao afirmar que
“não devem existir disciplinas, senão problemas a resolver”.
No passado, a obtenção e
transformação das energias (carbono, petróleo, gás, etc.) foram mostradas
publicamente com orgulho, como uma das bandeiras mais limpas do progresso
técnico e das conquistas sociais do homem.
Hoje nos envergonhamos
publicamente destas iconografias, fechamos e cercamos nossas fábricas,
bloqueamos nossas indústrias, centrais, etc., escondendo-as, e, em nossa
castigada e perplexa consciência, nos reconhecemos como cúmplices em maior ou
menor grau, ao necessitar delas para manter nosso estado de bem-estar.
De que
bem-estar estamos falando
Hoje em dia, os museus, as
igrejas, os centros culturais, as residências, continuam parecendo-se com
avançadas refinarias, a caixas tecnológicas, etc., como fonte de inspiração
maquinaria.
Tudo, menos os espaços onde a
mitologia natural do homem, o fazem reconciliar-se com as novas maneiras de
sentir e necessitar o meio natural como parte integrante do mesmo.
A arquitetura e, se quisermos
dizer, uma nova sensibilidade à vida (Bio) e às novas condições específicas do
homem (clima) é um novo posicionamento que abre passagem em muitos foros de
pensamento. Para mim, como arquiteto, e diante deste empenho, da palavra
“klima” me interessa a etimologia exata da antiga Grécia: inclinação, falava da
inclinação do sol no horizonte de qualquer lugar, das condições específicas de
um lugar.
É, sobretudo, a sugestão de uma
nova reflexão geométrica, não euclídica, esta última na origem inspiradora do
racionalismo moderno, e, portanto, de sua ênfase na formalização abstrata do
lugar.
Devemos, por tanto, explorar
novas formas e modos de explicar e conformar o espaço e, o que é mais
importante, medir o seu tempo. Uma arquitetura que vá contra o tempo e o espaço
como dimensões mensuráveis segundo os termos impostos pelo devastador mundo do
mercado.
Devastador no sentido ruskiniano
da palavra, como aquela reação à produção do trabalho em termos de
rentabilidade e a necessária recuperação da devoção pelo mesmo, afastando-se de
toda funcionalidade dentro do sistema produtivo.
Acredito não se tratar de
substituir um painel para captação de energia natural por uma telha, nem
tampouco de pintar uma parede de preto, para justificar nossa intervenção
bioclimática, mas simplesmente criar um consciência, digamos, energética, ao
desenhar, simultaneamente, a produção e o uso da energia como um problema de
reflexão arquitetônica que permita ao usuário demandar e à indústria
desenvolver desde o início, a necessidade de novas formas, que expressem a
necessidade de reencontrar, de novo, esse equilíbrio perdido.
Fonte: www.soarquitetura.com.br
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