Gordura Trans
Inventada pela indústria
alimentícia para deixar os alimentos mais saborosos e conservados, a gordura
trans tornou-se uma das principais vilãs das dietas atuais. A gordura que deixa
tudo delicioso também entope os vasos sanguíneos e causa o acidente vascular
cerebral - mal responsável pela hospitalização de 168.000 brasileiros no ano
passado. O Ministro da Saúde, com base nos números, se empenha em dar um fim na
utilização dessa gordura, mas a Associação Brasileira das Indústrias da
Alimentação alega que não há alternativa viável por enquanto.
1. O que
é gordura trans?
É um tipo de gordura produzida
industrialmente a partir de um processo químico, a hidrogenação. Usada desde o
início do século passado, ela passou a ser consumida com mais frequência, e sem
culpa, a partir dos anos 50. Por ser proveniente de óleos vegetais,
acreditava-se que a gordura trans era uma opção mais saudável à gordura animal
- que comprovadamente aumenta o LDL (colesterol ruim) no sangue. A partir da
década de 80, estudos científicos provaram que a trans é um dos grandes venenos
da alimentação moderna.
2. Como funciona o
processo de produção?
Os óleos de origem vegetal são
colocados em uma câmara de hidrogênio. Eles são submetidos a alta pressão e
temperatura e, assim, transformados em uma pasta preta de odor ruim. Depois,
esta pasta é alvejada até ficar sem cor e é desodorizada para perder o cheiro.
A gordura, agora semi sólida, fica com a textura ideal para o processamento e
preparo industrial de alimentos.
3. Por
que ela recebe este nome?
Gordura trans são ácidos graxos
insaturados. A designação "trans" vem de "transversos" e o
nome é referente à ordem da cadeia de átomos do ácido graxo. Em um óleo
encontrado na natureza, por exemplo, os átomos estão distribuídos em posição
paralela. No entanto, quando é submetido ao tratamento industrial de
hidrogenação, a estrutura química do óleo é modificada, fazendo com que os
ácidos graxos fiquem com os átomos em disposição "diagonal" - ou em
alinhamento transversal (trans).
4. Quais
alimentos possuem essa gordura?
A maior concentração dela está
nas bolachas, pipocas de microondas, chocolates, sorvetes, salgadinhos,
pastéis, folhados, tortas, bolos, tudo o que utiliza as margarinas nas
receitas. Os combos servidos nos restaurantes de fast-food estão no topo da
lista de alimentos com gordura trans. Até alguns produtos diet e light não
escapam da vilã. A carne e o leite de animais ruminantes, como bovinos e
caprinos, possuem gorduras trans em quantidades mínimas, quase inexpressivas.
Neste caso, ela se forma a partir do processo de hidrogenação natural no rúmen
dos animais. Como a quantidade é insignificante, especialistas nunca se referem
a estes itens quando criticam e restringem a gordura trans.
5. Há
necessidade de consumi-la? Quais são as taxas de ingestão recomendadas?
Os especialistas explicam que a
gordura trans não é sintetizada no organismo humano, por isso permanece
depositada no corpo. Como não é essencial para a saúde, não há um valor
recomendado de ingestão. O ideal é não consumi-la nunca, mas os médicos,
cientes da impossibilidade da restrição no mundo atual, recomendam o consumo
mínimo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a ingestão de
gordura trans não ultrapasse 1% do valor calórico da dieta. O que numa
alimentação de 2.000 calorias equivale a dois gramas diários de gordura trans -
quantidade equivalente a três biscoitos recheados de morango. Até as
aparentemente inofensivas bolachas tipo cream cracker ou água e sal contêm
gordura trans. Seis unidades, por exemplo, equivalem a 1,2 g e meio pacote a
4,1 g. As crianças, grandes fãs das guloseimas trans, devem ter o consumo
vigiado e controlado. Uma vez que a obesidade infantil é hoje considerada um
problema de saúde pública. Já se sabe também que a mulher grávida que come
gordura trans pode prejudicar o desenvolvimento neurológico do feto e também
tem mais tendências a ter um filho obeso.
6. Por
que ela é tão prejudicial à saúde? O que o consumo excessivo dessa gordura pode
causar?
A lista de problemas é enorme. O
fato mais conhecido é que a gordura trans aumenta o LDL (colesterol ruim) e
diminui o HDL (colesterol bom) no sangue. Ela também é responsável pela
produção da gordura visceral, que se acumula na região da cintura. Isso leva à
síndrome metabólica, uma conjunto de doenças graves: diabetes, pressão alta,
alto nível de colesterol ruim e de triglicérides no sangue. Essa combinação
causa acúmulo de placas de gordura na parede dos vasos sanguíneos, fator que
pode resultar em ataque cardíaco e AVC (acidente vascular cerebral). Pesquisas
sugerem que as mulheres que consomem altos índices de gordura trans têm duas
vezes mais chances de sofrer de câncer de mama. Já outros estudos indicam que a
gordura trans faz com que as membranas percam sua flexibilidade, dificultando a
transmissão de impulsos nervosos, que podem estar ligados com o aumento da
incidência de depressão.
7. Se ela
faz mal, então qual a vantagem de produzi-la?
Embora pareça não ter nenhum
ponto positivo, a gordura trans é a grande responsável por fazer com que os
alimentos fiquem saborosos. Ela também valoriza a aparência dos alimentos,
deixando-os mais dourados e crocantes - no caso de salgadinhos de pacote e
alguns tipos de bolachas. Além disso, a gordura trans aumenta o prazo de
validade, permitindo que os produtos permaneçam muito mais tempo nas
prateleiras sem estragar.
8. Existe
alguma alternativa à gordura trans?
Algumas indústrias alimentícias
já dispõem de óleo de palma em substituição à trans. A utilização desse óleo
tornou-se viável já que ele conseguia manter as características de conservação,
sabor e crocância sem precisar passar pelo processo de hidrogenação. Apesar de
ser menos nocivo que a gordura trans, o óleo de palma não é a opção mais
saudável. Alternativas como óleos de oliva e canola fariam melhor ao organismo
humano, porém, como são líquidos, os fabricantes argumentam que o custo para
transformá-los em gordura sólida não compensaria.
9. Como
posso saber se o alimento é rico em gordura trans?
Em 2006, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que o item "gordura trans"
passasse a ser impresso na tabela nutricional do rótulo dos alimentos. Com
isso, as empresas foram obrigadas a especificar, além do teor de lipídeos e de
gorduras saturadas, a quantidade total de ácidos graxos trans presentes nos
produtos. Os dados nutricionais, que já não são fáceis de serem interpretados
por um consumidor leigo, às vezes são maquiados e até falsos. Os fabricantes
chegam a informar, por exemplo, que a metade de uma bolacha tem a quantia total
de 0,2 g de gordura trans. O problema é que as pessoas não costumam comer
apenas meio biscoito e a informação acaba passando despercebida. No caso de
restaurantes e lanchonetes, não há obrigatoriedade de informar sobre a
quantidade de gordura trans. Alguns deixaram de usá-la voluntariamente em suas
receitas.
10. Já
existem alimentos sem essa gordura?
Nas prateleiras dos supermercados
é possível encontrar produtos denominados "trans free", como sorvetes,
bolachas e margarinas. Não há, necessariamente, um destaque desse fato na
embalagem. Para ter certeza, é preciso checar a tabela nutricional. Segundo a
Anvisa, o alimento que tiver quantidade menor ou igual a 0,2 grama de gordura
trans pode se promover como "zero trans". Para se ter uma idéia, de
acordo com a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), apenas
30% dos biscoitos vendidos no Brasil são livres de gordura trans.
11. Ela é
proibida em algum lugar do mundo?
Há um esforço global para que a
gordura trans suma do cardápio. Alguns países optam por adotar apenas medidas
educativas para informar as pessoas. A Dinamarca resolveu proibir e considerar
a gordura trans uma substância ilegal no seu país - exemplo seguido pela Suíça.
O Ministério da Saúde australiano anunciou que colocará prazo para que as
indústrias a substituam, assim como foi feito no Canadá - onde o governo deu
três anos. Nos Estados Unidos, as cidades de Nova York, Filadélfia e Seattle já
proíbem o uso deste tipo de gordura. Recentemente, o estado da Califórnia se
tornou o primeiro do país a aprovar uma lei proibindo os restaurantes e
comerciantes de alimentos de usar gordura trans. A lei, que entra em vigor em
2010, poderá multar os estabelecimentos que descumprirem a ordem.
12. E no
Brasil, qual a posição das indústrias em relação a eliminação da gordura trans?
As indústrias não aceitam
qualquer prazo para eliminar a gordura trans dos alimentos consumidos no país.
A Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) alega que há falta
opções para substituir esse tipo de gordura. Ela justifica que está se
empenhando em novas pesquisas. O presidente da Abia, Edmund Klotz, chegou a
ironizar o prazo sugerido pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Em
entrevista ao jornal Folha de S. Paulo ele disse que se fosse fixada uma data
para acabar com a gordura trans, seria necessário voltar à época da "velha
banha de porco".
Fonte: www.veja.abril.com.br
E por que não? a gordura de porco nunca foi tão nociva como a trans e foi graças a ela que muitos de nossos ancestrais passaram dos oitenta anos em problemas vasculares ou cardíacos! e sem serem obesos...
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