Biomonitoramento
O biomonitoramento é uma maneira
de avaliar a “saúde” de ecossistemas aquáticos e, consequentemente, a qualidade
de suas águas. Esta técnica consiste no uso sistemático de respostas biológicas
para avaliar mudanças ambientais (geralmente antropogênicas, ou seja,
provocadas pelo homem) com o objetivo de utilizar esta informação em um
programa de controle de qualidade. Em ecossistemas aquáticos, as mudanças
ambientais nos parâmetros físicos e químicos, decorrentes de despejos
domésticos, agrícolas e industriais, causam alterações na estrutura do conjunto
de seres vivos habitantes do corpo hídrico. Entretanto, essas alterações não
podem ser adequadamente descritas simplesmente pela mensuração de todos os
parâmetros físicos e químicos que caracterizam o sistema.
As interações bióticas são também
muito importantes. Listagens de espécies, densidades populacionais, mudanças
sazonais no conjunto de populações dos ecossistemas aquáticos e diversidade da
comunidade em condições naturais (não poluídas) são informações necessárias
para avaliar as mudanças na qualidade da água com bases biológicas.
Ao se aplicar o biomonitoramento,
é preciso haver uma seleção criteriosa das ferramentas nele utilizadas, isto é,
escolher bem os chamados bioindicadores. Os macroinvertebrados bentônicos são
animais que vivem associados ao fundo de rios, lagos, lagoas, reservatórios em
pelo menos uma fase de seu ciclo vital e são retidos por tamanho de malha de
200 a 500 micrômetros. Este grupo é composto por vermes, crustáceos, moluscos e
insetos. Eles constituem uma importante fonte alimentar para os peixes, são
valiosos indicadores da degradação ambiental, além de influenciarem na ciclagem
de nutrientes, na produtividade primária e na decomposição. Por apresentarem
vantagens sobre a avaliação físico-química, tais como, serem relativamente
sedentários e estarem localizados nos sedimentos e, também por serem capazes de
registrar um longo tempo de impactos e testemunhar os efeitos de diversos
poluentes, estes animais têm sido amplamente utilizados como bioindicadores de
qualidade de água no monitoramento de reservatórios, trechos de importantes
bacias hidrográficas sob diferentes níveis de impacto antrópico e na saúde de
ecossistemas.
Ainda assim, vale destacar que a
avaliação por meio do biomonitoramento deve ser feita em conjunto com a
avaliação físico-química, uma vez que os organismos respondem a fatores
abióticos. Outras vantagens de seu uso são a ubiquidade, ou seja, podem
responder a perturbações em todos os ambientes aquáticos e em todas as épocas
do ano; e as metodologias de coleta são simples e de baixo custo, o que é
interessante para países em desenvolvimento.
O biomonitoramento feito através
do uso de macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores é cada vez mais
usado e aceito como uma importante ferramenta na avaliação da qualidade da
água, embora ainda haja carência no conhecimento taxonômico da fauna
brasileira, o que dificulta o desenvolvimento e a aplicação desta técnica pelos
órgãos ambientais.
Em virtude de sua grande
biodiversidade, há espécies que toleram impactos como desmatamento da mata
ciliar, assoreamento, eutrofização e poluição em geral; já outras espécies são
sensíveis a esses impactos, desaparecendo ou diminuindo o seu número nos
ecossistemas aquáticos. Atualmente, a Embrapa Meio Ambiente está desenvolvendo
projetos de pesquisa com base no uso de organismos bentônicos para avaliar os
impactos ambientais de diversas atividades agropecuárias, industriais e urbanas
sobre os corpos hídricos.
Fauna
macrobentônica
Alguns organismos bentônicos,
isto é, que se referem ao ambiente ou habitat marinho do fundo dos oceanos,
onde se fixam corais, algas e outros seres, são vetores de doenças de
veiculação hídrica, como a esquistossomose, por exemplo. O molusco do gênero
Biomphalaria é hospedeiro do Schistosoma mansoni, é um macroinvertebrado que
habita lagos e rios de pouca correnteza. Por meio do monitoramento destes
moluscos é possível se estabelecer a interação entre saúde ambiental e saúde
humana.
A metodologia de coleta desses
microrganismos e o coletor empregado dependerão do tipo de ecossistema aquático
a ser estudado. Assim, ambientes com correnteza e de pouca profundidade usarão
coletores como o Surber ou o puçá, por exemplo; já ambientes sem correnteza ou
rios profundos vão utilizar dragas, como a draga de Ekman ou Van Veen, ou ainda
coletores de substrato artificial (usam substratos como pedras ou folhas
introduzidos no ambiente para colonização pelos organismos).
Após a coleta do sedimento este é
levado para lavagem, triagem (separação dos organismos) e classificação
taxonômica desses organismos. Após a identificação taxonômica, são empregadas
as medidas bioindicadoras para diagnóstico da qualidade ambiental das águas.
Existe uma ampla variedade de
medidas bioindicadoras usualmente empregadas no biomonitoramento - definido
como o uso sistemático das respostas de organismos vivos para avaliar as
mudanças ocorridas no ambiente, geralmente causadas por ações antropogênicas-
podendo ser divididas em cinco categorias principais: a) medidas de riqueza,
enumerações – contagem de todos os organismos coletados para estimar a
abundância relativa de diferentes grupos taxonômicos (ex: número de indivíduos
tolerantes ou sensíveis em ordens, famílias ou espécies, ou táxons dominantes
dentro destes grupos); b) índices de diversidade (ex: índice de Shannon); c)
índices de similaridade (ex: Jaccard e Morisita), d) índices bióticos –
utilizam valores de tolerância pré-estabelecidos para táxons (famílias,
gêneros) que foram coletados e identificados (obs: são de fácil aplicação e
interpretação por leigos, porém são regionais, isto é, só podem ser aplicados
para a região onde foram criados, necessitando de adaptação para novos locais);
e, e) medidas tróficas – porcentagem de indivíduos de diferentes categorias
funcionais de alimentação (fragmentadores, coletores, filtradores, predadores).
Após o cálculo destas medidas, os
locais de coleta são comparados entre si, e então pode ser estabelecido um
gradiente de contaminação ambiental (qual o local mais íntegro e o mais
impactado), ou então se avaliar as mudanças temporais do corpo hídrico em estudo
após o derramamento de um efluente, ou sua recuperação após o emprego de
medidas mitigadoras (replantio da mata ciliar, tratamento de efluentes,
controle da erosão).
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