Avaliação de Impactos Ambientais em Ecossistemas Aquaticos
Nas últimas décadas, os
ecossistemas aquáticos têm sido alterados de maneira significativa em função de
múltiplos impactos ambientais advindos de atividades antrópicas, tais como
mineração; construção de barragens e represas; retilinização e desvio do curso
natural de rios; lançamento de efluentes domésticos e industriais não tratados;
desmatamento e uso inadequado do solo em regiões ripárias e planícies de
inundação; superexploração de recursos pesqueiros; introdução de espécies
exóticas, entre outros. Como consequência destas atividades, tem-se observado
uma expressiva queda da qualidade da água e perda de biodiversidade aquática,
em função da desestruturação do ambiente físico, químico e alteração da
dinâmica natural das comunidades biológicas.
Os rios são coletores naturais
das paisagens, refletindo o uso e ocupação do solo de sua respectiva bacia de
drenagem. Os principais processos degradadores observados em função das
atividades humanas nas bacias de drenagem são o assoreamento e homogeneização
do leito de rios e córregos, diminuição da diversidade de hábitats e
microhábitats e eutrofização artificial (enriquecimento por aumento nas
concentrações de fósforo e nitrogênio).
O que são
Impactos
Impacto ambiental pode ser
definido como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente resultante de atividades humanas que, direta ou
indiretamente, afetem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as
atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias
do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais.
Avaliando
e Monitorando
Tradicionalmente, a avaliação de
impactos ambientais em ecossistemas aquáticos tem sido realizada através da
medição de alterações nas concentrações de variáveis físicas, químicas. Este
sistema de monitoramento, juntamente com a avaliação de variáveis microbiológicas
(coliformes totais e fecais), constitui-se como ferramenta fundamental na
classificação e enquadramento de rios e córregos em classes de qualidade de
água e padrões de potabilidade e balneabilidade humanas.
O monitoramento de variáveis
físicas e químicas traz algumas vantagens na avaliação de impactos ambientais
em ecossistemas aquáticos, tais como: identificação imediata de modificações
nas propriedades físicas e químicas da água; detecção precisa da variável
modificada, e determinação destas concentrações alteradas. Entretanto este
sistema apresenta, algumas desvantagens, tais como a descontinuidade temporal e
espacial das amostragens. A amostragem de variáveis físicas e químicas fornece
somente uma fotografia momentânea do que pode ser uma situação altamente
dinâmica. Em função da capacidade de autodepuração e do fluxo unidirecional de
ecossistemas lóticos, os efluentes sólidos carreados por drenagens pluviais
para dentro de ecossistemas aquáticos podem ser diluídos (dependendo das concentrações
e tamanho do rio) antes da data de coleta das amostras ou causarem poucas
modificações nos valores das variáveis. Além disso, o monitoramento físico e
químico da água é pouco eficiente na detecção de alterações na diversidade de
hábitats e microhábitats e insuficiente na determinação das consequências da
alteração da qualidade de água sobre as comunidades biológicas.
Por outro lado, as comunidades
biológicas refletem a integridade ecológica total dos ecossistemas, integridade
física, química e biológica, integrando os efeitos dos diferentes agentes
impactantes e fornecendo uma medida agregada dos impactos. As comunidades
biológicas de ecossistemas aquáticos são formadas por organismos que apresentam
adaptações evolutivas a determinadas condições ambientais e apresentam limites
de tolerância a diferentes alterações das mesmas. Desta forma, o monitoramento
biológico constitui-se como uma ferramenta na avaliação das respostas destas
comunidades biológicas a modificações nas condições ambientais originais.
O monitoramento biológico é
realizado principalmente através da aplicação de diferentes protocolos de
avaliação, índices biológicos e multimétricos, tendo como base a utilização de
bioindicadores de qualidade de água e hábitat. Os principais métodos envolvidos
abrangem o levantamento e avaliação de modificações na riqueza de espécies e
índices de diversidade; abundância de organismos resistentes; perda de espécies
sensíveis; medidas de produtividade primária e secundária; sensibilidade a
concentrações de substâncias tóxicas.
Os principais organismos
comumente utilizados na avaliação de impactos ambientais em ecossistemas
aquáticos são os macroinvertebrados bentônicos, peixes e comunidade perifítica.
Dentre estes grupos, as comunidades de macroinvertebrados bentônicos têm sido
frequentemente utilizadas na avaliação de impactos ambientais e monitoramento
biológico. Macroinvertebrados bentônicos são organismos que habitam o fundo de
ecossistemas aquáticos durante pelo menos parte de seu ciclo de vida, associado
aos mais diversos tipos de substratos, tanto orgânicos (folhiço, macrófitas
aquáticas), quanto inorgânicos (cascalho, areia, rochas, etc.).
Razões
para esta utilização
1) os macroinvertebrados
bentônicos possuem hábito sedentário, sendo portanto, representativos da área
na qual foram coletados;
2) apresentam ciclos de vida
relativamente curtos em relação aos ciclos dos peixes e irão portanto refletir
mais rapidamente as modificações do ambiente através de mudanças na estrutura
das populações e comunidades;
3) os macroinvertebrados vivem e
se alimentam dentro, sobre, e próximo aos sedimentos, onde as toxinas tendem a
acumular;
4) as comunidades de
macroinvertebrados bentônicos apresentam elevada diversidade biológica, o que
significa em uma maior variabilidade de respostas frente à diferentes tipos de
impactos ambientais;
5) os macroinvertebrados são
importantes componentes dos ecossistemas aquáticos, formando como um elo entre
os produtores primários e servindo como alimento para muitos peixes, além de
apresentar papel fundamental no processamento de matéria orgânica e ciclagem de
nutrientes.
A distribuição e diversidade de
macroinvertebrados são diretamente influenciadas pelo tipo de substrato,
morfologia do ecossistema, quantidade e tipo de detritos orgânicos, presença de
vegetação aquática, presença e extensão de mata ciliar, e indiretamente
afetados por modificações nas concentrações de nutrientes e mudanças na
produtividade primária.
Monitoramento
Biológico na Avaliação de Riscos Ecológicos
Historicamente, a avaliação de
impacto ambiental tem se concentrado nos efeitos de substâncias tóxicas emitidas por fontes
pontuais sobre a saúde humana. Entretanto, existem outras fontes de risco que
podem afetar direta e/ou indiretamente as populações. Os riscos ecológicos,
definidos como a probabilidade de que efeitos ecológicos adversos possam
ocorrer como resultado da exposição dos ecossistemas naturais a um ou mais
agentes estressores, podem causar riscos severos à saúde humana e das demais
comunidades biológicas.
A avaliação preliminar de riscos
ecológicos é realizada através do monitoramento ambiental preventivo dos
ecossistemas em risco. Em função da grande diversidade de impactos ambientais
sobre os ecossistemas aquáticos, o controle ambiental de riscos ecológicos deve
envolver uma abordagem integrada, através do monitoramento da qualidade física,
química e biológica da água, bem como a avaliação da qualidade estrutural de
hábitats.
Desenvolvimento sustentável pode
ser entendido como a melhoria das condições de existência dos povos, utilizando
recursos naturais para a produção de bens de tal modo que estes continuem
disponíveis para as futuras gerações. A única maneira efetiva de se garantir a
sustentabilidade dos recursos naturais utilizados pelo homem é através da
preservação das características naturais dos ecossistemas aquáticos. Neste
sentido, o monitoramento ambiental funciona como uma ferramenta fundamental da
sociedade, através do qual pode-se avaliar o estado de preservação e/ou grau de
degradação dos ecossistemas, fornecendo subsídios para a proposição de
estratégias de conservação de áreas naturais e planos de recuperação dos
ecossistemas degradados.
Fonte: Luiz Henrique Lopes
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