PRODUÇÃO DE RESÍDUOS EM DIFERENTES ATIVIDADES AGRÍCOLAS


Diferente do que muitas pessoas podem pensar, o lixo não é tudo igual, “lixo não é lixo e ponto”. Todos os resíduos, sendo eles produzidos na nossa casa ou na indústria, devem ter uma destinação correta, para evitar danos à saúde das pessoas e ao Meio Ambiente. Quando falamos em resíduos agrícolas, estamos falando do lixo gerado diretamente ou indiretamente em processos de produção na atividade agrícola.
Nos dias de hoje, cada vez mais vemos nos jornais, revistas e televisão notícias a respeito de como os resíduos sólidos e líquidos podem comprometer a qualidade ambiental. A alta produção desses resíduos, consequência do modo de vida atual, vem se tornando uma preocupação crescente na sociedade. É comum também, reportagem que noticiam vítimas de tragédias urbanas, como deslizamentos e inundações que ocorrem como consequência de ocupações irregulares de áreas sensíveis, fragilidade da administração pública, impermeabilização do solo e disposição inadequada de resíduos.
Você percebe que as ações do homem estão relacionadas com a redução da sua qualidade de vida?
Vimos o quanto que os resíduos podem agravar os problemas ambientais, principalmente em áreas urbanas. E em áreas rurais, quando você pensa em uma atividade agrícola, frequentemente a relaciona com os resíduos por ela gerados?
As atividades desenvolvidas no meio rural transformam a paisagem e provocam alterações na composição e qualidade dos recursos naturais. A redução da qualidade do meio ambiente no meio rural entre outras razões pode estar associada à disposição inadequada de resíduos.
É claro que nem sempre o agricultor sabe que determinadas atitudes suas podem provocar sérios danos, inclusive interferindo na sua produtividade. Portanto, conhecer bem todo o ciclo produtivo de sua propriedade o auxiliará na prevenção de problemas ambientais.
Cada atividade realizada no meio rural vai gerar diferentes tipos de resíduos, e vamos dedicar mais atenção aos resíduos orgânicos que são potencialmente poluidores, podendo se transformar em um grande problema caso não seja destinado ou tratado de forma adequada.
Eles podem contaminar a atmosfera, a água e o solo. São recursos essenciais para a vida e consequentemente, para o desenvolvimento das atividades agrícolas. Sabemos também, que quanto maior contaminação da água com coliformes fecais, nutrientes e metais pesados, maiores também serão os riscos e prejuízos para o produtor rural.
A produção de alimentos realizada pela agricultura em sua maioria produz resíduos orgânicos que poderão ser reutilizados na própria cultura ou em outras atividades da propriedade.
Algumas culturas produzidas no Brasil apresentam essa característica. Produzem basicamente resíduos orgânicos denominados de biomassa, que são os restos da cultura após a colheita dos grãos. No entanto, precisamos lembrar que dependendo do produto final, cada cultura terá um tipo de beneficiamento e, portanto uma agroindústria associada ao produto.
Culturas temporárias
SOJA
Soja (Glycine max) é um grão um alimento rico em proteínas que utilizado por humanos e animais. É consumido na forma de óleo, mais utilizado na preparação de alimentos e também como farinha, entre outros. Pode ainda ser utilizado para fabricação de sabão, cosméticos tintas e biodiesel. Dados estimados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos afirmam que o Brasil pode chegar a ser o maior produtor mundial de soja na temporada 2012/13.
MILHO
Milho (Zea mays) é cultivado em quase todo o mundo e é utilizado assim como a soja, para alimentação humana e animal. Outros países como os Estados Unidos da América são grandes consumidores de milho.
FEIJÃO
Feijão (Phaseolus vulgaris) é muito nutritivo e é base da alimentação humana brasileira. Fornece proteínas, ferro, cálcio, vitaminas, carboidratos e fibras. Parte da biomassa produzida pelas plantas de feijão se trata de restos culturais e parte é gerada pelo processamento, que são as vagens e palhas.
Culturas perenes
CANA-DE-AÇÚCAR
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. A cana-de-açúcar é utilizada para fabricação de combustível, açúcar e aguardente. Os resíduos de quantidade mais expressiva são gerados depois da colheita, na produção de açúcar e álcool, que em geral são o bagaço, a vinhaça, torta de filtros (resíduo da filtragem do caldo de cana) e a cinza do bagaço, produzida pela queima deste.
CAFÉ
O café é uma bebida muito apreciada pelos brasileiros. É feita através dos grãos torrados do cefeeiro (Coffea sp.). Para preparar a bebida o grão colhido deve ser despolpado e posteriormente torrado. Cerca de metade dos grãos maduros de café que são colhidos é resíduo: polpa e casca. No Brasil, o maior estado produtor de café é Minas Gerais.
Uma curiosidade sobre o café é a forma de classificação de sua bebida, na qual degustadores experimentam a bebida de forma desconhecida para muitos brasileiros.
LARANJA
A laranja (Citrus sp.) é uma fruta que é bastante comercializada na forma de suco. Portanto, também nesse caso, temos uma grande quantidade de resíduos orgânicos resultante do processamento da fruta. Quando a laranja é comercializada e consumida in natura, os resíduos passam a serem considerados resíduos domiciliares. Tornando - se responsabilidade da gestão de resíduos sólidos urbanos. A banana também produz resíduos domiciliares, no entanto deixa uma maior quantidade de biomassa no campo do que a laranja.
Outro exemplo bem perceptível quando estamos em cidades praianas é o coco. Apesar de cada vez mais crescer a comercialização do coco em embalagens longa vida, também vemos grande quantidade da casca do fruto nas lixeiras ao longo de praias.
Em todas as culturas acima citadas, apresentam o uso potencial de defensivos agrícolas, principalmente aquelas produzidas em grandes propriedades e altamente mecanizadas. No entanto, nesse momento, tratamos apenas dos resíduos orgânicos de cada atividade. Senão teríamos que considerar também, por exemplo, os resíduos gerados em residências localizadas nas propriedades rurais. Não que esses resíduos domésticos gerados devam ser desconsiderados, mas pelo simples fato de termos focalizado as culturas em separado e não a propriedade agrícola em si.
Agora que temos uma visão sobre a produção de resíduos em algumas culturas agrícolas, vamos aprofundar um pouco mais o assunto tratando de atividades pecuárias. A cada ano aumenta a participação do Brasil no comércio internacional de carne bovina, suína e de aves.
Um dos principais pontos a ser considerado quando tratamos de criações pecuárias é o modo de criação dos animais. Por que estamos falando isso? Porque a agricultura e a pecuária podem ser realizadas segundo os modelos, intensivo ou extensivo, de produção que variam conforme o grau de tecnologia empregado.
O modelo intensivo é aquele que utiliza maior tecnologia na busca de maior produtividade. Esse modelo preconiza a qualidade do material genético utilizado, tanto na agricultura como na pecuária. Além da mecanização, insumos e acompanhamento técnico especializado.
A produtividade na pecuária é determinada pelo número de animais por hectare. O modelo extensivo de pecuária apresenta menores níveis de produtividade, o que significa dizer que a mesma quantidade de animais é criada em áreas maiores, soltos nos pastos. Dessa forma, a dieta dos animais se restringe ao consumo da pastagem.
A pecuária intensiva preconiza a criação concentrada dos animais, a vacinação e dieta são controladas. E não é muito influenciada pelas condições naturais visto que a criação é confinada, fato que possibilita controlar as condições relacionadas ao clima proporcionando aos animais maior conforto térmico, para reduzir eventuais efeitos que interfiram negativamente no ganho de peso.
Os dejetos orgânicos produzidos pelos animais são uma grande preocupação, quando consideramos o fator ambiental. Esse aporte orgânico pode ser tornar bastante problemático se os animais estiverem concentrados em áreas mais restritas. Por exemplo, o rebanho bovino criado no sistema extensivo, distribui seus dejetos na área à medida que ele avança para pastar. No sistema intensivo, esses animais estão confinados em áreas bem menores. Por esse motivo é que o sistema intensivo merece maior destaque, pois se os resíduos orgânicos gerados não forem tratados ou se forem destinado incorretamente, o dano ambiental será muito mais significante. Alguns estudiosos da área dizem que esse é um dos grandes desafios do setor pecuário, produzir mais em menores áreas, porém poluindo menos por meio da adoção de técnicas eficientes de tratamento dos resíduos.
Detalhes acerca de cada criação
AVES (frangos e galinhas)
A criação de aves é feita de duas formas, considerando a finalidade da produção. As aves de corte são criadas para produção de carne e consideram a utilização de aves matrizes de alto potencial genético para engorda em sistemas de confinamento em camas.
Na criação de aves de corte pode-se ter como resíduos a cama de aviário e as carcaças dos frangos mortos. A cama além do material de origem é composta por dejetos das aves, penas e restos de alimentos. A quantidade de aves mortas depende do manejo utilizado, quanto mais adequado, menor a mortalidade de aves.
As aves de postura tem como finalidade a produção de ovos para alimentação humana. Assim como as aves de corte, são criadas principalmente em confinamento em gaiolas ou cama (material absorvente como serragem, capins e restos de culturas), com técnicas bem difundidas.
A criação de aves de postura produz dejetos que além do esterco possui penas, restos de ovos quebrados, e de ração.
SUÍNOS
Na criação de suínos temos os resíduos gerados pela composição principalmente de esterco e urina. A quantidade de dejetos líquidos produzidos vai variar em função do volume de água utilizado para higienização das baias.
BOVINOS
A criação de bovinos também é feita de duas formas, considerando a finalidade da produção. Temos a pecuária de corte, na qual a criação do rebanho é destinada à produção de carne para alimentação humana e a pecuária leiteira, como o nome diz, destina-se à produção de leite e seus derivados (queijos, iogurtes, manteigas, etc.).
Assim como na criação de suínos, os resíduos são compostos por esterco, urina mais e água de limpeza.
Outro ponto a considerar diz respeito àqueles produtores que processam seus produtos no ambiente rural. Uma vez que processados na propriedade os resíduos gerados, altamente poluentes, podem reduzir intensamente a qualidade dos recursos naturais. Nesse caso, todo cuidado é pouco.
Resíduos resultantes, por exemplo, da produção de queijos e abatedouros tem alto poder poluente por conter, sólidos orgânicos e inorgânicos e, gordura. Somando-se a esses, podemos ter ainda substâncias químicas utilizadas durante o processamento dos produtos finais. Outro exemplo são os resíduos de abatedouros como sangue e gordura, altamente poluentes. Esses resíduos precisam ser tratados antes da sua disposição final.
A produção de dejetos e constante aplicação destes no solo como fertilizante em dado momento, podem saturar o solo, não sendo mais absorvidos pelas plantas. A partir daí, aumentam as chances de contaminação dos lençóis freáticos. A taxa de contaminação da água por resíduos sólidos e líquidos, também dependerá além da própria composição dos resíduos, das características do solo e das condições climáticas.
 
Fonte: www.ufv.br

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