AGROECOLOGIA


Responsáveis por 70% do consumo da água, as atividades agrícolas, essenciais para produção de alimentos, também contribuem para degradação das águas. Quando industrializadas, a agricultura e a pecuária são consideradas degradadoras, por exercerem um papel essencialmente extrativo.
Em contrapartida a esse modelo, que previlegia a extração dos recursos naturais para a produção do agronegócio, a AGROECOLOGIA surge como alternativa para melhor conservação do solo e da água, pelos seguintes aspectos:
 Produz e mantém a água;
Respeita as leis da natureza;
Mantém a mata ciliar conforme as leis;
Não utiliza agrotóxicos;
Não usa sementes de origem transgênica;
Propõe o uso da terra de forma familiar;
Dispensa o uso de fertilizantes sintéticos;
Induz o uso de agrofloresta (multicultura);
Evita o uso de maquinário;
Propõe a implantação de uma educação agroecológica para todos, ensino fundamental, médio e 3ºgrau (principalmente para a população rural).
A agrofloresta, propõe o cultivo de várias espécies de plantas, uma fornecendo as condições necessárias para a existência das outras que vivem em sua volta, diminuindo pragas e o empobrecimento do solo pela monocultura,  dispensando o uso de agrotóxicos e adubos.
Antigamente a agricultura era feita de forma mais integrada com a natureza, era chamada agricultura tradicional e baseada na utilização dos insumos e equipamentos que existiam dentro da propriedade, tornando os agricultores quase auto sustentáveis (só compravam sal e querosene). Esta forma de produzir era mais sustentável, pois a pressão sobre os recursos naturais (solo, água, matas, etc) era menor; como ainda existia muita área para ser explorada e a agricultura ainda não estava dependente da indústria, era possível deixar solos em pousio e produzia-se principalmente para garantir a alimentação da família, não se explorava a terra ao máximo pensando somente no lucro. É claro que essa forma de produzir também tinha seus problemas, mas comparada com hoje agredia menos o meio ambiente.
Com o avanço do capitalismo e das guerras houve um avanço na indústria química e de máquinas, com o fim da segunda guerra existia toda uma estrutura de produção de venenos e maquinarias que tinha que continuar funcionando para o bem do sistema capitalista. Dessa forma criou-se a idéia da Revolução Verde, que dizia que iria acabar com a fome do mundo através do aumento da produção de alimentos, utilizando para isto outra forma de produção na agricultura, baseada na utilização de grandes quantidades de máquinas e venenos, além de sementes melhoradas. Dessa forma o agricultor deixa de ser quase independente para se tornar quase totalmente dependente da indústria, para garantir sua produção.
Para conseguir convencer os agricultores desse novo modelo de produção foi fundamental garantir uma política de crédito que atrelasse a liberação do recurso à aceitação do novo modelo, além de garantir uma política de formação de profissionais da área agrária preparados para convencer e vender para o agricultor o pacote da revolução verde. Desse modo a agricultura deixou de ser tradicional para se tornar “moderna”, colocando o sistema de produção agrícola sob a lógica do mercado, enxergando os recursos naturais como simples elementos deste mercado, podendo ser explorados ao máximo para garantir uma máxima produção e um máximo lucro, sem preocupações sobre as consequências que viriam desse modelo de produção, mesmo que isto implicasse na destruição desses recursos.
A agricultura moderna trouxe algumas mudanças fundamentais na forma de produzir: introduziu a idéia da monocultura, onde se produz uma única espécie de planta em áreas enormes (na maioria das vezes grãos para exportação), para viabilizar a colheita mecânica; reforçou a idéia de que a cultura tem que ser mantida totalmente no limpo, para justificar a venda de herbicidas; introduziu a idéia da utilização de venenos em plantas utilizadas na alimentação, como forma de controlar supostas “pragas” que atacam as plantações; reforçou a idéia de que nossos solos devem ser manejados o tempo todo, para justificar a venda de implementos como arado e grade; introduziu e disseminou a idéia da agricultura dependente da indústria e dos bancos, causando o endividamento de grande parte dos agricultores.
Essa forma de produzir foi responsável pela criação de vários problemas ambientais, como a degradação e contaminação dos solos, a contaminação das águas e alimentos, a destruição das matas e dos rios, o êxodo rural de milhões de agricultores, a redução da biodiversidade. Esse modelo de produção causou a falência da agricultura e não resolveu o problema da fome no mundo, pelo contrário, causou seu aumento e o aumento da concentração de renda e da terra.
Dessa forma outro modelo de produção começou a ser construído, baseado no resgate do conhecimento dos agricultores, numa maior interação entre o homem e a natureza e em novas relações entre os seres humanos. Esse novo modelo de produção na agricultura foi chamado Agroecologia e possui quatro princípios básicos, portanto a produção agroecológica deve ser ecologicamente equilibrada, socialmente justa, economicamente viável e culturalmente adequada. A Agroecologia é ecologicamente equilibrada porque busca uma forma de produção que cause o menor impacto possível no meio, buscando integrar a produção de alimentos às leis naturais que regem qualquer ecossistema, ou seja, relação predador/presa, ciclo dos nutrientes, relação entre plantas companheiras, rotação de culturas, relação solo/planta, entre outros. É socialmente justa porque busca romper com a atual relação de exploração existente entre os seres humanos, e entre estes e a natureza. É economicamente viável porque busca uma forma de produção que preserve os recursos naturais e garanta a sanidade dos alimentos produzidos, incentivando a produção e comercialização coletiva. É culturalmente adequada porque busca respeitar o conhecimento dos agricultores e adequar a tecnologia à realidade local, construindo a junção dos saberes científico e popular.
Nesse modelo de produção a lógica da revolução verde é invertida, busca-se interferir o mínimo possível no meio, para integrar ao máximo a produção de alimentos às leis da natureza, desse modo o conceito de monocultura é substituído pelo de biodiversidade, onde a produção ocorre num sistema mais diversificado (com várias espécies de plantas diferentes), o que garante a segurança alimentar e o controle das sementes na mão dos agricultores. Nesse sistema as culturas são implantadas num ambiente mais equilibrado, onde o solo é visto como algo vivo e numa relação direta com a planta, um solo rico em material orgânico e coberto pelos restos de culturas, que ao mesmo tempo em que fornece nutrientes para o sistema, conserva a água e  protege o solo. Num ambiente tropical como o nosso, o solo não precisa ser revirado todo o tempo, pois não temos um inverno tão intenso como o dos países temperados onde ocorre o congelamento da camada superficial do solo, desse modo o solo vai se estruturando aos poucos e tornando-se um ambiente próprio para a vida de vários microorganismos. Nesse solo sadio vai crescer uma planta mais sadia e equilibrada, que terá uma menor possibilidade de ser atacada por pragas e doenças. Desse modo não há necessidade de utilização de agrotóxicos, se a planta está num ambiente mais equilibrado irá ocupar seu nicho no sistema e interagir com as demais plantas, seguindo seu ciclo natural e desempenhando seu papel no sistema, produzindo de forma satisfatória em quantidade e qualidade.
A Agroecologia tem buscado um modelo de desenvolvimento sustentável, que seja mais integrado com a natureza e construído por todos os agentes envolvidos, estabelecendo relações mais harmônicas entre os seres humanos e entre estes e o meio. Esse modelo promove a preservação e o aumento da biodiversidade, a garantia da sustentabilidade dos recursos naturais e da segurança alimentar, o resgate do conhecimento popular, a construção de novas relações de gênero e uma melhor organização dos trabalhadores.
 

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