Rio+20 e seus Desafios
A Rio+20 deve amplificar os
acertos e desacertos da política ambiental brasileira. O país anfitrião da conferência, na opinião
de representantes da sociedade civil e de entidades ambientalistas, exibe
pontos fortes e fracos na luta pela preservação do planeta e pelo fim das
desigualdades sociais, ainda se deixa enredar em contradições como a redução do
desmatamento na Amazônia e o novo Código Florestal, mas peca, principalmente,
pela falta de ousadia em assumir a liderança na defesa da sustentabilidade.
"Na parte social o Brasil já
é ousado, na parte econômica é respeitado, mas na questão ambiental ainda tem
uma ação mais reativa do que propositiva. É a parte mais fraca do tripé da
política de sustentabilidade do país. O Brasil só tem do que se envergonhar na
falta de ousadia em ser um ator internacional e assumir um papel de
liderança", diz Branca Americano, assessora especial para a Rio+20 da
Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS).
"O Brasil tem oportunidade
de ocupar este espaço porque emerge como força econômica, é dono de um
patrimônio hídrico e de uma diversidade sem comparação. E porque começa a
atacar alguns problemas sociais. Mas
enfrenta questões internas que dependem de encaminhamento, como o Código
Florestal, o desenvolvimento de grandes projetos energéticos e de uma logística
baseada no transporte rodoviário a diesel", afirma Mario Monzoni,
Coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Fundação
Getúlio Vargas (FGV-EAESP).
Votado ou
não, o Código Florestal deve ser um dos temas das manifestações na Cúpula dos
Povos
O Greenpeace prepara-se para
atuar combativamente na Cúpula dos Povos, a área do evento reservada à
sociedade civil no Aterro do Flamengo e que promete rivalizar com a cúpula
oficial no Riocentro até no número de participantes. O organismo destaca mais os equívocos que os
possíveis acertos da política ambiental.
"O governo brasileiro tem uma visão completamente atrasada na
questão ambiental. O interesse em
investir em grandes hidrelétricas, a construção do Porto Sul na Bahia e a
ambição em apostar em combustíveis fósseis com o pré-sal mostram os erros dessa
política", critica Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha de oceanos
do Greenpeace.
A previsão dos especialistas é
que o governo brasileiro tentará desviar as discussões da Rio+20 para a agenda
social. O programa Bolsa Família e os
indicadores de redução da pobreza no país devem tornar-se as bandeiras dos
esforços do país na busca do desenvolvimento sustentável.
O Brasil pode exibir ainda os
progressos na redução dos níveis de desmatamento na Amazônia, que caiu dos 27
mil quilômetros quadrados por ano, em 2004, para 7 mil quilômetros quadrados,
no ano passado.
"Trata-se de uma redução
espetacular. Todas as metas com as quais
o Brasil se comprometeu foram atingidas e houve avanços até em relação aos
objetivos do Fundo Amazônia, estruturado numa redução com base na média
histórica de 19 mil quilômetros quadrados", diz Branca Americano. "O Brasil ainda mantém 80% das florestas
nativas na Amazônia, um trunfo em comparação com o que sobrou de floresta
tropical em todo o mundo", afirma Monzoni.
Votado ou não, o Código Florestal
deve ser um dos temas das manifestações na Cúpula dos Povos. Os movimentos sociais têm munição ainda com a
construção de grandes hidrelétricas - como Jirau, no rio Madeira, e Belo Monte,
no rio Xingu, ambas na Amazônia - e o Porto Sul, em Ilhéus, na Bahia, para a
exportação do minério transportado pela Ferrovia Oeste-Leste desde
Figueirópolis, no Tocantins. A obra,
apresentada como indispensável ao desenvolvimento pelo governo baiano, é
atacada pelos ambientalistas por ameaçar uma área de proteção ambiental.
O trunfo do pré-sal também não
deve passar incólume. A crítica, apesar
dos avanços do país na busca de uma nova matriz energética e das conquistas com
o etanol e os biocombustíveis, baseia-se na prioridade dada aos investimentos
para o aumento da produção de combustível fóssil. Faltaria ao Brasil, também, visão estratégica
de longo prazo às alternativas da energia eólica e solar.
"Com 70% dos investimentos
em energia voltados para o petróleo, até 2020 o Brasil estará entre os três
maiores emissores de poluição do mundo. Hoje, é o quarto", diz Leandra
Gonçalves, do Greenpeace.
"O setor energético ainda carece
de transparência. Há grandes investimentos em obras de impacto ambiental e para
a produção de combustíveis fósseis, mas é preciso eliminar um pouco o debate
apaixonado. O petróleo do pré-sal pode
ser usado para financiar a mudança de matriz energética", afirma Branca
Americano, da FBDS.
"Se tirar um fotografia
agora, o Brasil ainda está bonito na foto. Mas o etanol de segunda geração não
é monopólio do país e os investimentos em energia renovável no resto do mundo
têm sido intensos. Os chineses não estão
dormindo de touca em energia eólica. O
Brasil pode perder a posição confortável em que se encontra", endossa
Mario Monzoni, do Gvces/FGV.
Fonte: www.radarrio20.org.br
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