Recuperação de Matas Ciliares
O processo de ocupação do Brasil
caracterizou-se pela falta de planejamento e consequente destruição dos
recursos naturais, particularmente das florestas. Ao longo da história do País,
a cobertura florestal nativa, representada pelos diferentes biomas, foi sendo
fragmentada, cedendo espaço para as culturas agrícolas, as pastagens e as
cidades.
A noção de recursos naturais
inesgotáveis, dadas as dimensões continentais do País, estimulou e ainda
estimula a expansão da fronteira agrícola sem a preocupação com o aumento ou,
pelo menos, com uma manutenção da produtividade das áreas já cultivadas. Assim,
o processo de fragmentação florestal é intenso nas regiões economicamente mais
desenvolvidas, ou seja, o Sudeste e o Sul, e avança rapidamente para o Centro-Oeste
e Norte, ficando a vegetação arbórea nativa representada, principalmente, por
florestas secundárias, em variado estado de degradação, salvo algumas reservas
de florestas bem conservadas. Este processo de eliminação das florestas
resultou num conjunto de problemas ambientais, como a extinção de várias
espécies da fauna e da flora, as mudanças climáticas locais, a erosão dos solos
e o assoreamento dos cursos d'água.
Neste panorama, as matas ciliares
não escaparam da destruição; pelo contrário, foram alvo de todo o tipo de
degradação. Basta considerar que muitas cidades foram formadas às margens de
rios, eliminando-se todo tipo de vegetação ciliar; e muitas acabam pagando um
preço alto por isto, através de inundações constantes.
Além do processo de urbanização,
as matas ciliares sofrem pressão antrópica por uma série de fatores: são as
áreas diretamente mais afetadas na construção de hidrelétricas; nas regiões com
topografia acidentada, são as áreas preferenciais para a abertura de estradas,
para a implantação de culturas agrícolas e de pastagens; para os pecuaristas,
representam obstáculos de acesso do gado ao curso d'água etc.
Este processo de degradação das
formações ciliares, além de desrespeitar a legislação, que torna obrigatória a
preservação das mesmas, resulta em vários problemas ambientais. As matas
ciliares funcionam como filtros, retendo defensivos agrícolas, poluentes e
sedimentos que seriam transportados para os cursos d'água, afetando diretamente
a quantidade e a qualidade da água e consequentemente a fauna aquática e a
população humana. São importantes também como corredores ecológicos, ligando
fragmentos florestais e, portanto, facilitando o deslocamento da fauna e o
fluxo gênico entre as populações de espécies animais e vegetais. Em regiões com
topografia acidentada, exercem a proteção do solo contra os processos erosivos.
Apesar da reconhecida importância
ecológica, ainda mais evidente nesta virada de século e de milênio, em que a
água vem sendo considerada o recurso natural mais importante para a humanidade,
as florestas ciliares continuam sendo eliminadas cedendo lugar para a
especulação imobiliária, para a agricultura e a pecuária e, na maioria dos
casos, sendo transformadas apenas em áreas degradadas, sem qualquer tipo de
produção.
É necessário que as autoridades
responsáveis pela conservação ambiental adotem uma postura rígida no sentido de
preservarem as florestas ciliares que ainda restam, e que os produtores rurais
e a população em geral seja conscientizada sobre a importância da conservação
desta vegetação. Além das técnicas de recuperação propostas neste trabalho, é
fundamental a intensificação de ações na área da educação ambiental, visando
conscientizar tanto as crianças quanto os adultos sobre os benefícios da
conservação das áreas ciliares.
A definição de modelos de
recuperação de matas ciliares, cada vez mais aprimorados, e de outras áreas
degradadas que possibilitam, em muitos casos, a restauração realativamente
rápida da cobertura florestal e a proteção dos recursos edáficos e hídricos,
não implica que novas áreas possam ser degradadas, já que poderiam ser
recuperadas. Pelo contrário, o ideal é que todo tipo de atividade antrópica
seja bem planejada, e que principalmente a vegetação ciliar seja poupada de
qualquer forma de degradação.
As matas ciliares exercem
importante papel na proteção dos cursos d'água contra o assoreamento e a
contaminação com defensivos agrícolas, além de, em muitos casos, se
constituírem nos únicos remanescentes florestais das propriedades rurais sendo,
portanto, essenciais para a conservação da fauna. Estas peculiaridades conferem
às matas ciliares um grande aparato de leis, decretos e resoluções visando sua
preservação.
O novo Código Florestal (Lei n.°
4.777/65) desde 1965 inclui as matas ciliares na categoria de áreas de
preservação permanente. Assim toda a vegetação natural (arbórea ou não)
presente ao longo das margens dos rios e ao redor de nascentes e de
resevatórios deve ser preservada.
De acordo com o artigo 2° desta
lei, a largura da faixa de mata ciliar a ser preservada está relacionada com a
largura do curso d'água. A tabela apresenta as dimensões das faixas de mata
ciliar em relação à largura dos rios, lagos, etc.
Um ecossistema torna-se degradado
quando perde sua capacidade de recuperação natural após distúrbios, ou seja,
perde sua resiliência. Dependendo da intensidade do distúrbio, fatores
essenciais para a manutenção da resiliência como, banco de plântulas e de
sementes no solo, capacidade de rebrota das espécies, chuva de sementes, dentre
outros, podem ser perdidos, dificultando o processo de regeneração natural ou
tornando-o extremamente lento.
Uma floresta ciliar está sujeita
a distúrbios naturais como queda de árvores, deslizamentos de terra, raios
etc., que resultam em clareiras, ou seja, aberturas no dossel, que são
cicatrizadas através da colonização por espécies pioneiras seguidas de espécies
secundárias.
Distúrbios provocados por
atividades humanas têm, na maioria das vezes, maior intensidade do que os
naturais, comprometendo a sucessão secundária na área afetada. As principais
causas de degradação das matas ciliares são o desmatamento para extensão da
área cultivada nas propriedades rurais, para expansão de áreas urbanas e para
obtenção de madeira, os incêndios, a extração de areia nos rios, os
empreendimentos turísticos mal planejados etc.
Em muitas áreas ciliares, o
processo de degradação é antigo, tendo iniciado com o desmatamento para
transformação da área em campo de cultivo ou em pastagem. Com o passar do tempo
e, dependendo da intensidade de uso, a degradação pode ser agravada através da
redução da fertilidade do solo pela exportação de nutrientes pelas culturas e,
ou, pela prática da queima de restos vegetais e de pastagens, da compactação e
da erosão do solo pelo pisoteio do gado e pelo trânsito de máquinas agrícolas.
O conhecimento dos aspectos
hidrológicos da área é de suma importância na elaboração de um projeto de
recuperação de mata ciliar. A menor unidade de estudo a ser adotada é a
microbacia hidrográfica, definida como aquela cuja área é tão pequena que a
sensibilidade a chuvas de alta intensidade e às diferenças de uso do solo não
seja suprimida pelas características da rede de drenagem. Em nível de
microbacia hidrográfica é possível identificar a extensão das áreas que são
inundadas periodicamente pelo regime de cheias dos rios e a duração do período
de inundação.
Estas informações são
extremamente importantes na seleção das espécies a serem plantadas, já que
muitas espécies não se adaptam a condições de solo encharcado, ao passo que
outras só sobrevivem nestas condições.
Fonte: www.arvoresbrasil.com.br
Comentários
Postar um comentário