Pagamento por serviços Ambientais
Você já parou para pensar quanto
vale uma floresta em pé? Até bem pouco
tempo atrás eram levados em consideração nesta conta apenas os valores
referentes à exploração dos bens florestais presentes em um determinado local,
como a madeira que pode ser extraída e vendida, os insumos florestais e a
utilização da área em atividades agropecuárias ou comerciais. Porém, uma nova
abordagem vem ganhando cada vez mais espaço nas agendas de governos de diversos
países: a de que devemos pagar, também, pelos chamados “serviços ambientais”.
Sob a perspectiva dessa nova
abordagem, uma floresta em pé é muito mais do que madeira para ser extraída e
vendida. Ela é também a fonte do oxigênio que respiramos, sumidouro de gás
carbônico, protetora do solo e das águas, e mantenedora da diversidade
biológica, fundamental à manutenção de um ecossistema equilibrado. Todos estes “serviços” prestados
pela floresta então, deveriam ser levados em consideração pelos proprietários
de terras antes de optarem pela derrubada de áreas de floresta para dar espaço
às atividades comerciais, teoricamente, mais rentáveis. Mas, para isso, é
necessário transformar a preservação dessas áreas em algo financeiramente mais
atrativo do que sua exploração. É aí que entram os Pagamentos por Serviços Ambientais,
ou PSA.
Para que seja possível remunerar
proprietários de terras pela conservação ambiental é necessário que se busquem
recursos. E aí vem a pergunta: quem irá pagar por estes serviços? Todos nós que
usufruímos deles, é claro. No Brasil os recursos são gerados em parte pela
cobrança pelo uso da água onde as verbas arrecadadas são destinadas para
projetos que visem à proteção de bacias hidrográficas. Em alguns Estados, parte
do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) é destinada a projetos
de conservação ambiental, é o chamado ICMS Ecológico. Existem projetos de lei
que também visam aplicar parte do Imposto de Renda em projetos ambientais. Além
de Fundos específicos como o Fundo Amazônia, o Fundo de Recursos Hídricos e o
Fundo Clima, que ainda está em fase de aprovação e prevê a geração de R$900
milhões de reais por ano para o combate à desertificação na região nordeste.
Especialistas encaram o pagamento
por serviços ambientais como uma forma eficiente de incentivar a preservação
ambiental uma vez que concilia atividades de preservação com geração de renda
principalmente no meio rural onde, geralmente, a manutenção de áreas
preservadas é encarada como prejuízo pelos produtores que têm sua área
produtiva diminuída pelas áreas de reserva legal e de preservação permanente. A
ONU (Organização das Nações Unidas), por meio da FAO (Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação) publicou um relatório, em 2008, onde
defende o PSA como principal maneira de evitar a pressão da agricultura, que
tende a aumentar cada vez mais, sobre as áreas de florestas.
Por outro lado, há aqueles que
defendem que não se deve pagar por algo que é uma obrigação de todos prevista
em lei: preservar o meio ambiente. Estes ainda argumentam que há um enorme
risco em se remunerar os proprietários para que realizem a preservação de
florestas na Amazônia, por exemplo, onde há uma grande quantidade de grileiros
e madeireiros. Quem garante que eles realmente deixarão de destruir a floresta
como tem feito até então apenas por receber por isso?
Outro ponto polêmico do PSA é
sobre quem deve receber os recursos.
Quem deve
receber tais recursos
Há quem defenda o PSA apenas para
produtores que mantiverem intactas suas áreas de florestas, ou seja, que
estejam de acordo com a legislação. Porém, dessa forma, ficariam de fora do PSA
produtores que poderiam realizar projetos de recuperação de áreas e de
reflorestamento, o que, segundo o Diretor-executivo do Instituto de Pesquisas
Ecológicas (IPÊ), Humberto Ditt, tornaria praticamente nula a realização desse
tipo de projeto em locais como o Estado de São Paulo, por exemplo, onde restam
apenas 8% da cobertura florestal original.
Na
prática
As primeiras iniciativas neste
sentido surgiram na década de 90 na Costa Rica que criou um sistema de taxação
do combustível para, com os recursos arrecadados, remunerar proprietários de
terras preservadas. Junto com a Costa Rica, apenas México e Equador possuem
políticas públicas consolidadas de PSA, mas existem iniciativas neste sentido
no mundo todo do Japão aos EUA.
Por aqui a idéia ainda é nova,
mas já vem gerando frutos. O Programa Produtor de Água da Agência Nacional de
Águas (ANA) já remunera proprietários de terras que preservam suas propriedades
nas bacias hidrográficas do Rio Guandu, no Rio de Janeiro, no sul de Minas
Gerais, na bacia do Rio Jaguari que abastece o Sistema Cantareira, nas
Microbacias do Rio Moinho e do Rio Cancã, em Joanópolis (SP) e Nazaré Paulista
(SP), na Bacia do Ribeirão Piripau no Distrito Federal e no Espírito Santo, na
bacia do Rio Benevente.
Neste último projeto, que tem
previsão de expansão para todo o Estado, já são realizados pagamentos no valor
de R$36.966,10 por ano para 13 proprietários que respondem por uma área de
272,21 hectares preservados. Os recursos para o PSA, neste caso, vêm em parte
de royalties do petróleo e gás natural (3% dos royalties) e de 100% da
compensação ambiental de empreendimentos hidrelétricos que são repassados ao
Estado (Fonte: Ecodebate).
Também está sendo lançado em Belo
Horizonte (MG) um projeto de PSA Urbano que visa remunerar os catadores de
materiais recicláveis com base na quantidade de gás carbônico que deixará de
ser emitida para a atmosfera pela reciclagem dos resíduos coletados por eles.
Os Pagamentos por Serviços
Ambientais também podem incluir modalidades como a comercialização de créditos
de carbono, o ICMS Ecológico, o Imposto de Renda Ecológico (ainda em fase de
criação), a Compensação Ambiental, Reposição Florestal, a isenção de impostos
para Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) e o Programa de
Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar (Proambiente), criado em
2000, e que premia produtores rurais que adotam práticas sustentáveis em suas
fazenda com um terço de salário mínimo.
Por aqui, também está em votação
no congresso um Projeto de Lei que cria o Programa Federal de Pagamento por
Serviços Ambientais para regulamentar as práticas neste sentido, além de criar
um Fundo Federal de Pagamento por Serviços Ambientais que receberá recursos de
doações e da participação especial dos lucros do petróleo.
Fonte: www.infoescola.com
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