Os impactos do Novo Código Florestal no bioma Cerrado
As principais diretrizes que
norteiam as questões ambientais no Brasil são três pilares do direito
ambiental: a Constituição Federal, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente
e o Código Florestal. O bioma Cerrado não está na Constituição. Na Política Nacional
há uma série de padrões e mecanismos de proteção ao meio ambiente, mas o
Cerrado só está realmente protegido pelo Código Florestal, que agora está em
profunda alteração.
Se considerarmos os principais
biomas, o Cerrado é o que mais vai sofrer com as mudanças no Código Florestal.
As novas propostas estão ligadas, principalmente, com as questões que envolvem
as Reservas Legais e as Áreas de Proteção Permanente (APPs). Hoje não há nenhum
mecanismo, nenhum instrumento fora o que está no Código Florestal, para que o
Cerrado seja protegido. A situação é inversa a da Amazônia: A floresta tem 80%
de área preservada em Reserva Legal e 20% disponível para as demais práticas.
No Cerrado temos 80% de área liberada para as demais práticas e 20% para
proteção, como é o caso das reservas legais.
Então quando falamos na criação
do Código Florestal, que é um código de 1934, alterado em 1965 e que depois
obteve algumas medidas provisórias, o foco do país era na Amazônia. Tão certo
isso que a fronteira do país na questão do bioma Cerrado foi para o
desenvolvimento da agropecuária com força total. Houve alteração na utilização
do solo e hoje temos um bioma de 204 milhões de hectares onde a metade disso já
foi tomada principalmente pela agricultura e pastagem.
Com o “novo” Código Florestal
querem anistiar os que desmataram até 2008. Se hoje tivéssemos no Cerrado os
20% de Reserva Legal protegidos e as medidas estabelecidas para as APPs também
protegidas, teríamos uma situação favorável, mas não temos isso. O que se tem é
uma situação caótica para o bioma. Pensando em termos de área, o Cerrado não
tem 3% de todo o percentual protegido em Unidades de Conservação de Proteção
Integral. O desmatamento do bioma é muito alto, três vezes maior que a
Amazônia, o que comprometerá todos aqueles que vivem nesta região nos próximos
20 anos.
É muito importante começarmos a
trabalhar tecnologias diferenciadas para a área de uso alternativo do solo do
Cerrado. Hoje utilizamos essa área que não é nem Reserva Legal e nem APP, para
a pastagem e o agronegócio, para o plantio de soja e milho, por exemplo.
Acredito que já passamos da hora de utilizar a pesquisa para trabalhar com as
espécies nativas do Cerrado. É preciso atuar nas áreas de uso alternativo e não
só no enriquecimento de uma reserva legal, mas com plantios consorciados das
principais espécies que hoje estão no mercado como o Baru, o Pequi, a Mangaba,
a Cagaita e o Araticum, e tantas outras, para que possamos verificar o
potencial produtivo dessas espécies em seu ambiente nativo. Além disso, todos
aqueles que conservam áreas além da estabelecida pela legislação, devem ser
premiados, pela prestação de serviços ambientais.
Mas para que isso aconteça, é
necessário uma Legislação para o Bioma e os investimentos nos planos de manejos
e créditos diferenciados para estas atividades. Desconheço a utilização de
Planos de Manejo para Reservas Legais que funcionam no Cerrado, para explorar o
extrativismo. Na Amazônia existem Planos de Manejo e Extrativismo Sustentável.
Os Planos de Manejo indicam o que pode ser feito dentro da Reserva Legal, o que
e como poderá ser utilizado, plantado e retirado. No Cerrado isso ainda é
irrisório.
Se a nova proposta do Código
Florestal for aprovada, teremos anistia para as pessoas que desmataram. Isso é
um retrocesso. Como criar uma Lei ou fazer a modificação de uma Lei para que
ela retroceda, que seja menos restritiva? Em 2012, vamos pegar o Código de 1965
e reduzir áreas para permitir mais desmatamento? Isso não é um Código, é uma
descaracterização do Código Florestal. A Lei nos assegura que façamos parte de
um meio ecologicamente equilibrado. Com a mudança, o Cerrado sofre alterações
negativas nas Reservas Legais, impacto direto nos recursos hídricos e na
redução de áreas de preservação permanente. Teremos um aumento impressionante
no desmatamento e isso é muito preocupante. É um verdadeiro retrocesso para a
legislação do País.
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