Gestão Ambiental na Administração Pública
A criação da Agenda Ambiental na
Administração Pública (A3P), no final de 1999, pelo Ministério do Meio Ambiente
(MMA) e oficializada pela Portaria Nº 510/2002, vai ao encontro dos
questionamentos expostos anteriormente sobre o número limitado de empresas do
setor público certificadas pela ISO 14001. A Agenda pretende instaurar um
processo de construção de uma nova cultura institucional na administração
pública, visando à conscientização dos servidores para a otimização dos
recursos para o combate ao desperdício e para a busca de uma melhor qualidade
do ambiente de trabalho9. Visa a colocar as empresas em sintonia com a
concepção de ecoeficiência, incluindo critérios socioambientais nos
investimentos, compras e contratações de serviços dos órgãos governamentais.
Em novembro de 2005, haviam
aderido à A3P, entre outras instituições: a Presidência da República, o
Ministério da Defesa, o Ministério de Minas e Energia, o Ministério da
Educação, o Ministério da Saúde (Fundação Nacional de Saúde e Agência Nacional
de Vigilância Sanitária), o Ministério de Desenvolvimento Social, a Secretaria
do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, a Procuradoria-Geral da República, o
Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior
Eleitoral, a Polícia Federal, o Tribunal de Contas da União, o Banco Regional
de Desenvolvimento do Extremo Sul, diversas prefeituras municipais e o Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.
Alguns dos procedimentos
propostos são semelhantes aos da norma ISO 14001, não obstante, sua maior
ênfase está na diminuição do desperdício, através dos 3R´s, isto é: reduzir,
reciclar e reutilizar a quantidade de resíduos gerados, sobretudo nos
escritórios. Não são contempladas estratégias indicadas pela ISO 14001 como:
levantamentos dos aspectos e impactos ambientais ao longo do ciclo de vida da
produção ou dos serviços prestados e o estabelecimento de planos de emergência.
Para a implementação da A3P, o
MMA propõe: a criação de um grupo responsável pela Agenda na empresa, composto
por servidores de várias áreas da instituição; a realização do diagnóstico da
situação, identificando pontos críticos e avaliando os impactos ambientais e
desperdícios; a elaboração do planejamento integrado, envolvendo o maior número
de colaboradores e áreas de trabalho; a definição de projetos e atividades,
priorizando ações de maior urgência; a implementação das atividades
programadas, realizando treinamentos e disponibilizando recursos físicos e
financeiros; a avaliação e o monitoramento do desempenho ambiental,
identificando avanços e deficiências; a busca de uma melhoria progressiva
através da avaliação sistemática, do replanejamento, da introdução de novas
tecnologias e da capacitação de funcionários.
O retorno
econômico da implementação da gestão ambiental
No Brasil, algumas metodologias,
como a adotada pelo Programa de Produção Mais Limpa (PmaisL) e a desenvolvida
por Barata8, vêm contribuindo para evidenciar os ganhos econômicos provenientes
da gestão ambiental nas empresas. Tais metodologias apresentam o estudo da
viabilidade econômica das ações necessárias para aprimorar o desempenho
ambiental das empresas, contemplando a redução dos recursos naturais utilizados
e da degradação ambiental.
O PmaisL foi implantado, em 1995,
pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas do SENAI-RS, através de convênio
estabelecido com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e a
Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO). A
metodologia do Programa propõe que inicialmente se realizem diagnósticos sobre
os seguintes aspectos: 1) qualidade da gestão ambiental na empresa, avaliando
sua adequação às exigências ambientais legais e de boas práticas de saúde
ocupacional; 2) equipamentos e das técnicas existentes para o controle, a
redução na fonte e o monitoramento de emissões (gasosas, líquidas e sólidas);
3) capacitação da força de trabalho, bem como das possíveis práticas existentes
aplicáveis para a redução no uso de recursos (energia, água e matérias primas).
Posteriormente, devem ser identificados os meios para solucionar as
deficiências diagnosticadas e as oportunidades existentes para melhorar o
desempenho ambiental da empresa, ponderando custos e benefícios financeiros decorrentes
das ações oportunas da ecoeficiência.
Na primeira fase do Programa, a
metodologia foi aplicada em onze pequenas e médias empresas que investiram um
total de R$ 220 mil e obtiveram ganhos financeiros da ordem de R$ 497 mil/ano,
em face da redução na geração de 97 ton/ano de resíduos perigosos, no consumo
de matéria prima (120 ton/ano), de energia (1660 Mwh/ano) e de água (120 mil
m3/ano) 10. As soluções propostas nem sempre envolveram investimentos e, em
muitos casos, representaram apenas mudanças no processo operacional da empresa
e treinamento dos funcionários.
Em virtude dos resultados
iniciais apresentados, o Programa foi ampliado, constituindo-se numa Rede de
Produção Mais Limpa, composta por entidades de apoio à indústria e ao comércio,
instituições de ensino e pesquisa e organismos de financiamento, atuantes nos
estados da Bahia, Ceará, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Santa Catarina,
Rio de Janeiro e outros.
Na proposta de Barata, a gestão
ambiental permeia todos os setores e atividades da empresa. O conjunto da força
de trabalho se torna responsável pelo desempenho ambiental na busca da
ecoeficiência e também na redução dos riscos financeiros provenientes de
externalidades ambientais negativas inerentes às atividades desenvolvidas. Esta
metodologia baseia-se na percepção de que, do ponto de vista gerencial, é
fundamental estabelecer comparações entre investimentos necessários para
controlar a degradação ambiental e custos potenciais da degradação provocada, a
curto, médio e longo prazo, seja na recuperação ou mitigação dos impactos, seja
na forma de indenizações ou compensações à sociedade pelos danos causados. São
efetuadas estimativas de gastos com a implantação dos procedimentos e das
tecnologias condizentes para atendimento aos padrões legais e normativos e dos
possíveis custos e benefícios contingentes ou intangíveis.
Essa metodologia foi aplicada em
três empresas localizadas no Estado do Rio de Janeiro, cujo porte, setor de
atuação, faturamento e sistema de custeio utilizado eram distintos, mas tinham
sido instaladas num período em que o conhecimento preciso dos danos que as
atividades produtivas podiam ocasionar ao meio ambiente era praticamente
inexistente.
Concluiu-se que o custo de
manutenção da gestão ambiental nas empresas não ultrapassa 2% de seu custo
total. Entre os benefícios diretos destacam-se: a consultoria ambiental para
outras unidades e empresas e a venda de equipamentos desenvolvidos para
preservar, proteger e recuperar o meio ambiente. Quanto aos benefícios
indiretos, sobressaem a redução de gastos propiciada pela maior eficiência no
consumo de energia e água e no volume de resíduos tratados.
Numa das empresas estudadas - que
detinha um passivo ambiental elevado devido à prática de enterrar os resíduos -
houve inclusive uma articulação para fornecer serviços e resíduos a terceiros
que passaram a ser computados como receita direta. Essa mesma empresa
empreendeu esforço técnico e financeiro para a implantação de estação de
tratamento de resíduos industriais, evitando incorrer em gastos com medidas
compensatórias que somavam, em 2000, o montante de R$ 1.500.000,00, além de
multas e pagamentos de custas judiciais em decorrência do descarte de efluentes
líquidos fora dos padrões da Licença de Operação. A implantação de uma gestão
ambiental, portanto, pode - dependendo da atividade e de seu potencial gerador
de passivo ambiental - evitar inclusive custos contingentes expressivos.
Considerações
finais
As medidas adotadas para a redução
dos impactos ambientais (presentes e futuros) - além de constituírem
manifestações de responsabilidade social das empresas – podem redundar em
retorno econômico. Para provar essa eficácia econômica, cabe ao responsável
pela gestão ambiental ultrapassar a lógica de mera despoluição e investir no
desenvolvimento de novos produtos geradores de receita; reduzir os custos de
produção, utilizando menos insumos ou introduzindo mudanças tecnológicas;
melhorar o relacionamento com clientes e demais partes interessadas e diminuir
custos contingentes. Os métodos propostos subsidiam na definição de projetos
ambientais a serem mantidos, implantados ou encerrados e de atividades a serem
priorizadas, visando sempre a uma maior eficiência no desempenho ambiental e
econômico.
As empresas e instituições do
setor público, particularmente as que têm como missão direta promover o
bem-estar da sociedade, deveriam ser as primeiras a tomar a iniciativa de
implantar um sistema eficiente de gestão ambiental. Aos fatores sociais associados
à preservação ambiental e à saúde da população, somam-se os efeitos da melhor
utilização de recursos públicos, pois a ecoeficiência se fundamenta na
racionalidade das decisões, na análise de custo e benefício das medidas a serem
implementadas. Seria de desejar, portanto, que a A3P atue em conformidade com
os requisitos ambientais legais, evitando potenciais custos em compensação por
danos ambientais. Para que as mudanças pretendidas por essa Agenda na cultura
institucional possam efetivar-se, é decisivo o engajamento do próprio servidor
e de seus dirigentes. Caso contrário, a Agenda será mais um programa
governamental sem garantia de continuidade.
Fonte: www.qualidadebrasil.com.br
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